Simone,
uma moça comprometida com a igreja, namorava Carlos, um rapaz cristão, há seis
anos. [1] Um casal simpático, batalhador. Casaram-se planejando a felicidade.
Passados 8 meses de união, detectou-se um câncer em Simone. Todas as igrejas
adventistas da cidade envolveram-se numa única corrente de oração. Pouco tempo
depois, Simone morreu.
Alguns
anos depois, reencontrei-me com Carlos, durante uma semana de oração. O rapaz
havia se casado novamente, na tentativa de refazer sua vida. O antigo ar
risonho, que fora a sua marca, estava quase extinto. “Às vezes, quando estou
sozinho em casa”, ele me confessou, “sinto uma angústia, uma vontade de sair
correndo sem rumo”.
As
tragédias nacionais e pessoais têm cada vez nos levado a questionar a Deus com
intensidade redobrada. Mal se iniciou o século XXI e o maior atentado
terrorista da história ocidental ocorreu no fatídico 11 de Setembro de 2001, em
Nova Iorque. Será que nas horas de crise, seja em qualquer nível, não podemos
recorrer seguramente a Deus? Seria a aparente ausência de Deus uma afirmação de
Seu desinteresse pela Humanidade ou – pior ainda – uma comprovação empírica de
que não existe um Ser superior responsável pelo nosso bem-estar?
Na
época em que o povo de Israel fora parcialmente levado para o exílio em
Babilônia (cerca de 586 a.C.), Jeremias, o profeta, escreveu o livro de
Lamentações, motivado por seus próprios questionamentos inspirados.
Até
mesmo a forma em que o livro foi composto diz algo sobre o objetivo maior do
profeta hebreu. O livro de Lamentações se constitui de poemas de caráter
oriental; enquanto a poesia ocidental geralmente apresenta preocupações
retóricas ou, no caso da poesia moderna, demonstra um alto grau de
experimentalismo, o objetivo da poesia hebraica é produzir um equilíbrio de
pensamento. Assim, longe do que possa parecer, Jeremias não escreve apenas para
chorar pelo que aconteceu ou lamentar a sorte de seu povo. As linhas do autor
de Lamentações estão carregadas de profundas reflexões morais e teológicas.
O
Senhor é caracterizado na composição de Jeremias como uma divindade moral. Como
resultado da desobediência humana, Deus permite o advento de calamidades; Ele
intenta, desta maneira, que o homem reconheça Seu erro e volte-se a Ele.
Evidentemente, este raciocínio não pode ser aplicado para explicar a razão de
todo sofrimento humano. Em Jó, outro livro bíblico com aspectos semelhantes aos
de Lamentações, a calamidade (neste caso, pessoal) não é uma punição, mas uma
prova de fé, resultante da atuação de entidades cósmicas antagônicas – Deus e
Satanás – que lutam para influenciar o destino do homem.
Mas
qual é, efetivamente, a atitude apropriada diante da calamidade, seja ela
motivada pela punição instrutiva ou prova de confiança? Em um de seus momentos
áureos, o livro de Lamentações nos diz em que pensar quando atravessamos uma
dolorosa crise:
“Todavia, lembro-me também do que pode me dar
esperança:
Graças ao grande amor do Senhor é que não somos
consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis.” Lm. 3:21 e 22, NVI[2]
Estes
versículos encerram o principal ensino da seção. Há razões pelas quais alguém
pode se fiar nas misericórdias divinas em tempos críticos? Jeremias provê
algumas razões:
(I)
As misericórdias de Deus são eternas
As
misericórdias divinas atuam como um ciclo fechado (v. 22-23a), uma espécie de
fonte auto renovável de energia. As misericórdias do Senhor são tão grandes que
a eternidade não é suficiente para contê-las, mas ainda assim cabem dentro de
cada dia que vivemos.
O
texto ensina-nos que a compaixão divina provém de uma fidelidade imensa (v.
23b). Normalmente, o termo “fidelidade” na Bíblia é aplicado ao próprio Deus, e
relacionado aos Seus atributos, às obras divinas e às Suas palavras.
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