Por
que a adoração praticada nas igrejas cristãs tem se desviado do padrão admitido
há séculos, com sensíveis variações, e assumido formas diferenciadas, incluindo
expressões teatrais, dança, inserção de vídeos e outras novidades cúlticas?
A
pergunta abre uma série de questionamentos. A revolução tecnológica, que
sedimentou o estabelecimento de uma nova geração – os millenials ou GeraçãoY –
está entre os fatores que contribuem para cobranças por interatividade e
dinamismo no culto cristão. Certamente, o culto nunca deveria ter sido ambiente
para mera assistência passiva. Entretanto, a interatividade exigente do
contexto contemporâneo cobra um padrão de qualidade que se pauta por valores
midiáticos. Não à toa, o departamento de mídia de muitas congregações já recebe
tanta atenção quanto o de louvor.
Contudo,
somente a mudança na sociedade como um todo parece ser razão insuficiente para
dar conta da revolução litúrgica que ora assistimos. Por mais que não se trate
apenas de um “fator externo” (afinal, cristãos nascidos no início dos 1980s
também pertence à Geração Y, apresentando características similares a de não
cristãos que nasceram no mesmo período), a mudança de geração não explica, por
exemplo, a crítica e desestímulo generalizado que mesmo pessoas de outra
geração expressam em relação às liturgias mais tradicionais.
Talvez
o desgaste se deva em parte à falta de ênfase no estudo da Bíblia, focando a
perspectiva total que as Escrituras oferecem. O evangecalismo americano, bem
como sua vertente brasileira, nos transmitem o cristianismo da salvação
pessoal, da experiência com Deus, sem que esse evangelho chegue perto de roçar
o cérebro – nem ao menos de leve. O que a igreja tem a dizer sobre a luta do
sertanejo em terra de coronéis? Ou sobre a corrupção política desmascarada no
julgamento do mensalão? Que esperança prática oferecemos para universitários
com seus desafios intelectuais? Para empresários às voltas com decisões éticas
em meio ao mercado globalizado? Nada temos a dizer-lhes – apenas que se
convertam a Jesus e salvem suas almas!
Nossa
pequenez de visão e falta de abordagem holística diminui o evangelho a uma
experiência menor, fraca. Como se pagássemos o melhor bolo de uma confeitaria e
oferecêssemos apenas o glacê aos convidados. Todos saem comentando que o bolo
deixou a desejar. Pudera! Não provaram do bolo, apenas de uma parte.
Assim,
o pós-modernismo encontrou cristãos com as calças baixas. Toda desconfiança de
verdades instituídas e apelo aos sentidos arrastou os cristãos porque nem eles
se achavam muito bem satisfeitos com sua experiência religiosa de migalhas. Com
um agasalho tão fino o resfriado era certo em meio à travessia pelo luar de
inverno. Com isso, inverteu-se a ordem das prioridades espirituais.
O
culto público deixou de ser o ajuntamento de pessoas de fé dispostas a adorar
unidas em torno de verdades cristãs fundamentais e em sua compreensão unânime
da natureza amorosa de Deus como Pai comum. O culto passa a ser uma experiência
místico-emocional, em que se pode energizar a vida espiritual e obter vitórias
específicas, além de proporcionar satisfação imediata. Antes, ia-se à igreja
reconhecer a Deus e receber Sua instrução. Agora, o motivo é outro:
experimentar a Deus e reclamar Sua bênção imediata. Quem sabe como esse novo
paradigma afetará os adventistas...
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