A
mídia é construída e sustentada pelo poder da imagem. O que celebridades
midiáticas vestem ou costumam dizer se torna icônico. O icônico é o novo
clássico: digno de ser imitado, mimetizado. O termo clássico significava,
originalmente, aquilo que é próprio para ser estudado em classe. Necessita ser
reproduzido, porque está baseado em convenções (especialmente literárias e
relacionadas às artes plásticas). As convenções estabelecem o lugar-comum, ou
seja, o modelo para cada nova produção artística. A boa arte se faz dentro
dessas convenções. A qualidade não tem que ver com absoluta originalidade, mas
em respeitar com louvor o lugar-comum e fazê-lo com elegância.
No
século XX, a arte moderna se ergueu contra as convenções, recuperando o ímpeto
romântico (libertário em sua essência) e extravasando-o: havia, então, um
anarquismo quase infantil, mas politizado e autoconsciente. Ironicamente, a
mídia popular de massa (surgida ainda no período moderno) impõe o novo
clássico: o icônico, a convenção da imagem. Você sabe que um herói entra em
cena no filme pelos cortes, ângulos, fumaça, trilha sonora, postura corporal e
tipo de roupa. Há uma maneira de filmar e apresentar a imagem do herói (tão
estabelecida que já virou alvo de pastiche). Quando se quer que uma banda faça
sucesso, o produtor se preocupa não apenas com a qualidade do material sonoro,
mas com a capa do CD, o site oficial do grupo, as roupas que usarão e os
programas de televisão nos quais estarão.
A
imagem impõe uma nova racionalidade. O conteúdo está vinculado à aparência,
responsável por fomentar o interesse sobre o produto. Ninguém é bem-sucedido se
não usar certa marca de roupa. Ninguém é legal se não ouvir determinada música.
Ninguém faz sucesso se não possui milhões de seguidores. Não à toa, as redes
sociais que mais crescem (Instagram e
Snapchat) não se baseiam em texto ou
informação, mas no poder da imagem, do registro, explorado ad nauseaum. O sucesso inconteste dos youtubers não me deixa mentir.
Nesse
contexto, a mídia adventista se forma. Primeiro, em uma tentativa embrionária,
com a Chapel Records, dos anos de
1950 a 1970. Basicamente, a empreitada nasceu para ser uma gravadora que reunia
os grandes músicos adventistas (King’s
Heralds, Faith for Today Quartet,
Del Delker, Ray Turner, King’s men,
Brad Bradley e, posteriormente, Heritage
Singers). Outras inciativas ganharam formas nas décadas seguintes, em
diversos países do mundo, especialmente os programas radiofônicos e televisivos
(precedidos pelo Voice of Prophecy e Faith for Today nos EUA). Isso até a
consolidação do Hope Channel e seus
similares (Nuevo Tiempo e Novo Tempo, para citar os exemplos presentes em nossa
geografia) e da rede particular 3ABN.
Os
adventistas jamais sonharam em gerenciar um império das telecomunicações. Suas iniciativas
no campo da mídia em massa são para serem encaradas da mesma forma que seus
investimentos em editoras, agências sociais, redes educacional e hospitalar e
indústria alimentícia: são suportes missionários. Devem existir como parte de
um projeto de influência, em prol da mensagem de advertência que deve ser dada
(Ap 14:6-12). O perigo surge apenas quando uma instituição perde seu foco e se
torna um fim em si mesma.
Há
o risco da mídia adventista se tornar um gueto autorreferente. Usar linguagem
que apenas os entendidos assimilem. Seria tremendo desperdício e despropósito. O
outro extremo seria desenvolver uma mídia com mensagens genéricas, mal disfarçando
o tom ecumênico e com exacerbada ênfase na imagem, copiando os modelos
seculares, uma mídia icônica (no sentido negativo). Os efeitos de ambos os
extremos seriam danosos, algo como irrelevância ou entretenimento, o discurso religioso
sectário ou o tom de religiosidade secularizada e carismática (no sentido
religioso, pentecostalizada). O risco permanece e não podemos dizer que se
tenha chegado a um ou outro polo. Porém, todo cuidado é pouco. Resta nos
lembrar que, no mundo da imagem, nossa salvaguarda é a Palavra (Mt 4:4)!
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