Todos temos um pai – um
modelo gerador de perspectivas. Se nosso pai, nosso referencial, aquilo que
origina nosso filtro para interpretar a realidade, não for Deus, certamente
teremos alguém ocupando a lacuna. Mais do que uma denúncia da hipocrisia dos
judeus, João 8:38 ensina que há a presença do conflito cósmico por trás daquilo
que usamos para determinar o que é a verdade. Nossos pressupostos não se
limitam a tentativas humanas, mas possuem a influência do mundo espiritual.
Isso implica que o resultado final, aquilo que escolhemos ser e a forma como
atuamos no mundo, nos identifica com Deus ou com o diabo (Jo 8:41-42).
De forma similar, o
apóstolo Paulo afirma que o “deus desta era cegou o entendimento dos
descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a
imagem de Deus.” (2 Co 4:4). Segundo o texto, descrer é o resultado da cegueira
provocada pelo diabo. A declaração é complementada com a ideia de que Deus
“mesmo brilhou em nossos corações, para a iluminação do conhecimento da glória
de Deus na face de Cristo.” (v.6). Assim, da mesma forma como no texto de João,
crer ou descrer não depende simplesmente de argumentação lógica ou exposição da
verdade de modo proposicional (ainda que Paulo aluda à “clara exposição do
evangelho”, v. 2); para além dos elementos cognitivos e racionais há o poder de
pressuposições, influenciadas pela atuação de poderes espirituais. Cremos
mediante nossa escolha espiritual em nos “filiar” a um lado do embate cósmico.
Depois disso, criamos uma rede de ideias pré-concebidas contra ou a favor da
verdade. Por essa razão, Jesus sabia da inutilidade em realizar sinais diante
de uma geração incrédula (Mt 12:29; 16:4). E novamente Paulo postula que as
coisas espirituais se entendem de modo espiritual, ou seja, por pessoas
relacionadas com elementos espirituais (1 Co 2:13-14), sem excluir a atuação do
Espírito do processo de decodificar a mensagem divina aos homens (a Verdade, na
linguagem joanina).
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