Desde
o Iluminismo, passando pela teologia liberal e adentrando no século XX, a
presença divina passou a ser escamoteada, gradativamente diminuída e, finalmente,
rechaçada. Hoje se fala no espaço dado à espiritualidade. Porém, tudo isso em
nível pessoal. Na esfera particular, no fórum íntimo.
No
“mundo real”, a opulência material garantida pelo progresso econômico que se
seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial despertou a cobiça. Produtos feitos
para durar pouco. Propagandas pensadas para vender sentimentos, aspirações e
valores veiculados a quase qualquer produto – até propaganda de banco faz chorar!
A toda hora, somos convidados a ter o último smartphone, o perfume recém lançado, o xampu de eficácia
cientificamente comprovada. Para tudo isso, é preciso gastar tudo, porque gastar
significa desfrutar. O materialismo consumista é uma expressão da confiança
humana nos bens como veículos de desfrutar não apenas da “vida melhor”,
prometida pelo século XX; hoje está à disposição a “vida para ser curtida”, com
coisas inúteis, mas divertidas, ao alcance de todos.
Não
há espaço para Deus nesse espiral pós-moderno de sensações, nesse looping de barganhas midiáticas e
promessas de pote de ouro aqui e agora. Tudo está concentrado não mais nessa vida, mas no agora. Tudo o que importa é o agora. Temos de ver, ouvir a
resposta, tocar as coisas, viver a sensação. Como confiar em um Deus além,
invisível, que, pior!, nem sempre responde (quase nunca responde) as orações no
exato momento em que são feitas?
Confiar
nas respostas de Deus é algo que precisa, como nunca, ser exercitado a cada
instante. Do contrário, fica fácil que mesmo cristãos conscientes vivam como
ateus em sua semana de trabalho. O sábado bíblico (Êx 20:8-11) não é
simplesmente um dia para ter um encontro com Deus, o que, de fato, deve ser
algo diário. O sábado é a renovação do propósito da aliança com o Criador, a
preparação para Seu juízo em favor de Seus santos (Ap 14:6-7) e a dedicação
exclusiva do tempo para Aquele que é Senhor do tempo e da vida. O sábado serve
para se desconectar com os apelos consumistas de um mundo que se acostumou com
aquilo que é imediato. Na calma do dia santo, pode-se renovar o propósito de
servir o Deus que estabeleceu cada coisa para seu próprio tempo (Ec 3:1-8).
Uma
vez renovados, é preciso que empreguemos o tempo dos outros dias para nos
conservar em espírito de oração. Não se trata da regularidade nas orações
pontuais, sempre necessária. Mas o cultivo de uma mentalidade que a todo tempo
converse com Deus e reconheça a necessidade de Sua presença. Afinal, em meio ao
conflito cósmico no qual estamos inseridos, a grande questão não é em que
gastaremos nosso dinheiro ou qual diversão estará à nossa espera. A salvação
está em jogo em cada decisão importante – mesmo naquelas que não se percebem
importantes.
Oramos
porque não estamos seguros em um mundo dominado pelas trevas. Oramos porque há
um Deus que, como um Amigo sempre presente, sente interesse por nós e deseja
nos amparar. Oramos porque Deus é totalmente amável e benevolente, cheio de
misericórdia, amor e paciência. Oramos porque é nossa maneira de amá-Lo por
tudo o que Ele é e tem feito.
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