segunda-feira, 15 de agosto de 2011

DE QUANTOS TIPOS DE IGREJA PRECISAMOS?



Com a preocupação de alcançar uma sociedade plural, há diversos missiólogos propondo múltiplas estratégias evangelísticas. Algumas delas compreendem transformações na própria natureza da igreja, envolvendo mudanças no culto, no estilo de pregação e no próprio ambiente em que as reuniões acontecem. Em geral, o argumento repisado é: “o mundo mudou”.
Evidentemente, os cristãos necessitam ser sensíveis ao mundo. Devem pregar de uma forma que se façam ouvidos e respondam a necessidades das pessoas às quais almejam evangelizar. Entretanto, jamais isso significou abrir mão de sua identidade. A igreja é o corpo de Cristo (1 Co 12:12), existindo para que haja edificação mútua capaz de conduzir cada membro à maturidade espiritual (Ef 4:12-14, 16). A ordem é crescer em Cristo (Ef 4:15), o que se opõem aos referenciais seculares; afinal, não se pode promover o Reino de Deus utilizando motivações, métodos ou temperos mundanos (Tg 4:4; 1 Jo 2:15).
E se o alvo da comunidade espiritual é a unidade em Cristo, como alcançar isso enquanto se promove o evangelismo segmentado? No meio evangélico, é frequente existirem movimentos voltados para evangelizar determinados grupos sociais ou faixas etárias: igrejas para afro-descendentes, hispanos, pessoas da alta classe, jovens universitários, pós-modernos, etc.
Aqui é necessário fazer uma diferenciação oportuna: a existência de ministérios ou grupos de apoio voltados para ajudar grupos sociais ou faixas etárias em suas necessidades específicas é algo fundamental. Aliás, esse raciocínio está presente na metodologia das diversas classes de escola sabatina. A história contada no rol do berço, onde a narrativa é intercalada pela presença de bichos de pelúcia, figuras em flanelógrafos e canções curtas, jamais funcionaria da mesma forma na classe dos juvenis – e vice-e-versa! Eu mesmo atendendo a diversos encontros e programações voltadas a universitários, que necessitam ouvir um conteúdo mais específico e sólido. É bom mostrar que o evangelho possui suficiente envergadura para alcançar as pessoas em suas necessidades particulares.
Porém, o culto público é feito para todos. Nas diversas ocasiões em que ele acontecia no AT, as pessoas compareciam com suas famílias, sem exceção (exemplos: Dt 12:12; 29:10-12; 31:12-13; Js 8:34-35; 22:26-27; Jz 2:10; 1 Cr 9:23; Ne 8:2-3). No livro de Atos, percebemos que, a despeito da diversidade étnica, havia apenas um modelo de igreja. Quando surgiu uma crise entre judeus convertidos e judeus cristãos de fala grega, teria sido um ótimo momento para formar duas congregações distintas – ao contrário disso, os discípulos instituíram o ministério do diaconato, para atender as viúvas gregas negligenciadas na distribuição de recursos (At 6:1-6).
Após a conversão de Cornélio, Deus poderia ter orientado os apóstolos a se dividirem para atender judeus e gentios separadamente; ao invés disso, vemos o dom do Espírito sendo manifesto entre os gentios diante dos seus irmãos judeus, para confirmar que eles eram o mesmo povo (At 10:39-48). Nada no NT apoia congregações segregadas – o próprio termo seria de um contrassenso contundente! Se, nas palavras paulinas, “não há judeus, nem gregos” (Gl 3:28), seria estranho criar congregações que dividissem as pessoas, quando a lógica do NT é sermos um em Cristo!
Mesmo a abordagem multiforme de Paulo (1 Co 9:19-23), evocada pelos missiólogos, é bem diferente daquilo que eles propõem. Ela se relaciona muito mais ao contato pessoal e às oportunidades de discursar em ambientes não cristãos (At 17:22-32, por exemplo) do que a congregações especialmente adaptadas para atingir determinados nichos. Nada no NT se assemelha à proposta atual, ou teríamos igrejas voltadas a romanos, a gregos, judeus, ou a qualquer outro grupo.
Como adventistas, temos uma missão mundial. Que o Senhor nos abençoe para cumprirmos nosso desafio no poder e dependência de Deus e com base nas orientações de Sua Palavra.

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Um comentário:

Renato Suhett disse...

Magnífica abordagem.É necessário e muito importante a adaptação linguística e até litúrgica, mas a perda de identidade remanescente,inadmissível. .