sábado, 3 de janeiro de 2015

POR QUE SENTIMOS FASCÍNIO PELOS ANIMAIS SELVAGENS?

Acho que eles gostam de um cafuné

Os grandes felinos são animais que exercem fascínio sobre todos os que apreciam a natureza. Por fascínio temos que entender tanto profunda admiração como medo. Afinal, tigres, leões, leopardos, onças e animais semelhantes possuem pelagens fabulosas (as quais, infelizmente, atraem a indústria da moda). Ao mesmo tempo, são animais agressivos, predadores robustos e insuperáveis. Mesmo ante o sonho de se aproximar deles, a sensatez e instinto de preservação não fariam com que alguém chegasse a tanto.
Mas será mesmo? Ali estava eu perante três tigres (que não me pareciam tristes, como aqueles do famoso trava-língua infantil). Aliás, um deles estava mais agitado, movendo-se bem perto de mim. Estanquei. Ao olhar dos lados, percebi que meus acompanhantes, curiosos para ver as feras tanto quanto eu, já haviam dado alguns passos para trás. Apenas outra mulher, que já se submetera à experiência continuava ali, imóvel como eu e ainda mais exultante.
Finalmente, recebi permissão para ficar atrás dos tigres e acaricia-los. O que parecia um sonho se materializou em uma foto comprobatória, senão de coragem, ao menos de que é possível admirar o fascínio que os felinos exercem mais de perto.

  Chegar perto dos filhotes é mais fácil!

Por mais incrível que a descrição soe, não é incomum. No zoológico de Lujan, na Argentina, os visitantes podem interagir de forma intensa, entrando na jaula dos animais, inclusive. Entretanto, há uma polêmica em torno de Lujan: muitos afirmam que os animais sejam dopados, mal alimentados e recebam tratamento cruel. Outros argumentam serem os felinos animais de hábitos noturnos, razão pela qual passem sonolentos boa parte do dia (quando ocorrem as visitas).
Uma peculiaridade de Lujan pode explicar a docilidade dos animais: eles são criados em cativeiro e na presença de cães (presentes em todas as jaulas abertas à visitação), o que ajudaria a torna-los mais “sociáveis.” Além disso, o tratamento que eles recebem é duro em alguns momentos. Durante nossa visita ao tigre-branco, ele e outro tigre estavam bem agitados, o que não causou boa impressão em quem estava na fila para vê-los. Em algum momento, o tigre branco recebeu um forte golpe do funcionário responsável, para espanto dos presentes. O rapaz simplesmente jogou o balde por cima da cabeça do animal, o que fez com que ele se aquietasse.

    Esse aí não estava muito simpático, o que explica a distância

Visitas mais tranquilas fizemos ao urso e ao elefante (que apenas comeram de nossa mão). No momento em que eu e minha esposa resolvemos almoçar, alguns patos se intrometeram, em um bando inconveniente. Alguns da gangue até batiam o bico, pedindo nossas bolachas. Acabamos cedendo à pressão, o que foi um erro: quando recebiam comida, insistiam por mais. Resolvemos ignorá-los por um tempo. Depois subimos na mesa, a fim de evita-los. Foi quando uma llama, animal raríssimo, quase extinto, nos surpreendeu pelas costas e chegou perto de pôr o focinho no pacote. O jeito foi procurar um lugar menos frequentado para concluir a refeição…

Tão dócil que quase levamos para casa...

O momento mais emocionante foi o contato com o leão. Acariciar sua juba áspera, esparramada pelas costas descomunais traduziu o paradoxo em torno do fascínio. Se tirar fotos com filhotes de leões e tigres se revelou algo tranquilo e prazeroso, não se pode negar que o encontro com leões adultos seja mais prazeroso, embora nada tranquilo. Apesar da presença de cuidadores do zoológico, o medo ainda está ali, latente, perpassando a admiração que o rei dos animais causa em qualquer um.
À saída, eu e minha esposa observamos a reação das crianças na parada de ônibus, dando folhas verdes na boca de gamos do outro lado da cerca. Pareciam feitas para aquilo, para aquele tipo de contato com os bichos. Aliás, como será ver animais novamente depois de Lujan? Sem poder interagir e se limitar a vê-los por trás das grades, parece que não será o mesmo. Que bom seria usufruir de um contato mais puro com animais silvestre, sem o risco que os seres selvagens nos oferecem.
Muitas fábulas e histórias fictícias apontam homens e animais juntos, muitas vezes até retratando seres irracionais personificados, os quais adquirem trejeitos humanoides. Ao contrário disso, a Bíblia, livro sagrado dos cristãos, apresenta diferenças qualitativas entre homens e animais, afirmando que apenas os primeiros foram criados “à imagem e semelhança” de Deus (Gn 1:27). Recebendo o domínio sobre toda a criação, o que incluía os demais seres vivos, os seres humanos exerciam a função de zelar por eles, em uma espécie de domínio benevolente. Afinal, a primeira função do homem foi nomear os animais (Gn 2:19-20), o que, na cultura hebraica, indica que ele os comandava (Gn 1:28). Dominar com responsabilidade: um excelente paradigma para o homem do século XXI, envolto em tantos dilemas ambientais.

  Quase ela se esqueceu da comida e levou minha esposa...

Se a interação entre homens e animais era perfeita no Éden bíblico, parece que o fascínio que os animais ainda mantém sobre nós é um resquício disso. De igual modo, o medo que temos de alguns deles é herança dos primeiros homens: mais precisamente, o medo é resultado do pecado, que quebrou a dinâmica existente entre humanos e natureza. Ao invés de respeito e harmonia, haveria medo, matança e morte por toda a Terra (Gn 3:17-19).
Para aqueles que acreditam na promessa bíblica, a história não acaba aqui, precisamente onde nos encontramos. Há uma esperança: a restauração de todas as coisas (Is 65:17-18), promessa reafirmada e ampliada no Novo Testamento (2 Pe 2:13; Ap 21:1-4). E, quando todas as coisas voltarem ao equilíbrio idealizado pelo Criador, poderemos nos aproximar de animais e interagir com eles! Não mais entre grades e cercados por cuidadores, porém de forma espontânea e natural. Observe como o profeta descreve a cena futura:

O lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará com o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará. A vaca se alimentará com o urso, seus filhotes se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará perto do esconderijo da cobra, a criança colocará a mão no ninho da víbora. Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar. (Is11:6-9)

O lobo e o cordeiro comerão juntos, e o leão comerá feno, como o boi, mas o pó será a comida da serpente. Não farão nem mal nem destruição em todo o meu santo monte", diz o Senhor. (Is 65:25)


Sem dúvida, um mundo como o que Deus promete compensa toda espera. Além de despertar um outro tipo de fascínio, cheio de admiração e gratidão.

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