Quem
define a práxis religiosa é o adorador. Pode parecer uma afirmação infundada,
em meio a um cenário repleto de líderes carismáticos, geralmente criticados por
uma suposta manipulação de massas. Todavia, como a religião do século XXI é
midiática, sua realização se dá através da capacidade de reunir o maior número
possível de pessoas. Uma tendência comprobatória é a construção de templos cada
vez maiores e com dependências ocupadas por lojas de serviço (desde artigos
propriamente religiosos, como bíblias, livros, CDs, DVDs, até outros tipos de
serviço, como lanchonetes, por exemplo).
Sendo
desta forma, para atrair uma quantidade expressiva de adoradores, os líderes
religiosos se vêm obrigados a lançar mão de recursos de auditório (a
teatralidade na pregação, o uso de encenações, a bonificação material), além de
oferecer serviços religiosos em consonância com a necessidade das pessoas
comuns. Alguns dos serviços oferecidos pelas comunidades religiosas são cursos
para casais, acampamentos para adolescentes, reuniões com empresários, seções
de bênçãos (geralmente com enfoque material e apresentação de testemunhos de
pessoas que já alcançaram a petição), além de discursos motivacionais e de um
enfoque na liturgia musical, diversificada até as raias do suportável, com o
fito de agradar os gostos musicais mais díspares.
A
crítica que levantamos não se reporta a todas as atividades mencionadas em si
(embora algumas sejam questionáveis), mas ao fato de que a liturgia consiste
naquelas atividades, com quase nenhum espaço para instrução bíblica objetiva,
pela qual o adorador seja confrontado com os princípios das Escrituras de forma
prática e profunda, a ponto de o Espírito Santo impressioná-lo a um compromisso
específico, que se traduza por mudança de conduta, perspectiva ou ambas as
coisas.
Ocorre
que a introdução de uma sólida apresentação da matéria escriturística
significaria perda de um número significativo de fiéis, uma vez que o homem
pós-moderno considera a si mesmo e seu contexto como tábua-rasa da verdade.
Dentro desta mentalidade, as pessoas não à igreja em busca da Verdade (no
sentido cristão tradicional), mas para legitimar suas próprias noções de verdade,
buscando conselhos, apoio emocional, entrosamento social e estímulo para as
lutas cotidianas. Para o pós-moderno, que quer experiências satisfatórias e
variedade de escolhas, a espiritualidade é apenas mais um serviço; isso explica
porque as comunidades religiosas se encaram como prestadoras de serviço,
procurando atender a demanda do consumidor, sempre (e cada vez mais) exigente.
Leia também: MUDANÇA DE PERSPECTIVA – E A FÉ VAI PARA GAVETA
Um comentário:
Parabéns pelo artigo.
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