sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

EQUÍVOCOS SOBRE A SANTIFICAÇÃO



Alguns erros são persistentes quando o assunto é santificação. Talvez por conta disso, algumas pessoas tenham um conceito ruim do processo. Para evitar mal entendidos e, na esperança de promover a santificação, é necessário rever dois conceitos equivocados:
(1) A santificação não é salvação pelas obras: alguns entendem que, enquanto a justificação é a obra que Cristo realizou por mim na cruz, a santificação é minha parte no processo. Obviamente, todo o processo de salvação é feito com a colaboração humana. Dizer o contrário, seria estabelecer que Deus nos salva contra nossa vontade. Agora, a confusão surge na hora de se estabelecer o que compreende a colaboração humana. Se a salvação possui três tempos – passado (justificação), presente (santificação) e futuro (justificação) – precisamos verificar como o gênero humano interage em cada etapa.
Na justificação, a parte humana reside em (a) aceitar a obra do Espírito, que o convence do pecado (Jo 16:8), (b) o que conduz ao arrependimento (Rm 2:4; At 5:31; 2 Co 7:10; cf.: Mt 9:13; Mc 2:17; Lc 15:17; At 2:38) e consequente (c) recebimento de Jesus como Salvador (At 16:31, Rm 5:11; 10:9; cf.: Jo 4:42; At 5:31; 13:23; 1 Tm 4:10; 2 Tm 1:10; 1 Jo 4:14). Essas etapas e o que nelas está implícito constituem um passo de fé. A fé surge como consequência da atuação do Espírito, que desperta em nós confiança no testemunho dado pela Palavra de Deus (Ef 1:13; 6:17; cf.: para outras relações, ver Ag 2:5; At 10:44; 1 Co 12:8). A Palavra é o meio principal pelo qual o Espírito Se comunica conosco (2 Pe 1:20-21; cf.: Mr 12:24). Ao aceitar a Cristo, o fazemos com base no testemunho das Escrituras (1 Co 15:3; 1 Tm 3:15).
Na santificação, a parte humana reside (a) receber graça para uma vida vitoriosa (o batismo diário do Espírito Santo: Jo 1:33; Rm 1:4; 6:19, 22; 1 Co 6:11; 1 Pe 1:2), (b) atuar (pensar, agir, falar) como um agente espiritual, um súdito do Reino de Deus (Hb 12:14, (c) escolher estar instante a instante em comunhão com Deus (1 Co 1:9; e (d) reformar aspectos da vida de acordo com as diretrizes da Palavra (Ef 5:25-26; 1 Ts 4:3-4, 7). A santificação é um processo contínuo de viver pela fé sob a intercessão do Salvador vivo e atuante no santuário celestial.
Na glorificação, todo o preparo de uma vida será coroado pela recompensa de ver o Salvador vindo nas nuvens. Pode-se falar em recompensa, um termo bíblico (Sl 58:11; Pv 12:14; Mt 10:41-42; Lc 6:35; Jo 4:36; Cl 3:24; Hb 10:30, 35; 11:26; 2 Jo 8; Ap 22:12), o que não implica em méritos próprios, mas em abertura e correspondência – uma vida aberta à influência do Espírito (que Se comunica prioritariamente pelo cânon) e que correspondeu, ou seja, seguiu a direção do Espírito em exercício de fé.
Assim, a salvação como um todo (e a santificação em particular) acontece por meio da fé, com a participação ativa do ser humano, como aquele que recebe a graça e coopera pela fé (Hb 13:12). Jamais se pode conceber qualquer etapa do processo de salvação como dependente do esforço, dignidade ou boa vontade do ser humano. Apenas pelo poder divino em nós somos habilitados a corresponder à graça concedida, em atos de fé;
(2) santificação não resulta em impecabilidade na experiência atual: a luta contra o pecado certamente faz parte da salvação: Não podemos jamais nos conformar com qualquer prática ou pensamento pecaminoso, sem o risco de perder a salvação. Uma vida transformada por Cristo implica em transformação que habilite obediência (Rm 13:14) Entretanto, a natureza humana continuará sendo a mesma – pecaminosa.
Adão, ao pecar, foi afetado pelo pecado em todos os aspectos de Sua natureza. A queda trouxe efeitos físicos, mentais e espirituais. Jesus, ao vir ao mundo, embora não tivesse desejos pecaminosos ou mesmo inclinação para pecar (Hb 7:26; 9:14; 1 Pe 1:19), foi afetado física e mentalmente pelo pecado, tornando sua obediência mais difícil do que a de Adão (Fl 2:7-8). Ao contrário de Jesus, nós temos inclinações pecaminosas, que nos impedem de viver totalmente isentos do pecado (Rm 7:25) Afirmar a possibilidade de perfeição absoluta na atualidade é desconhecer os efeitos do pecado na humanidade e o próprio grau de degradação em que estamos. Por isso, a santificação exige uma constante tensão: viver contra o pecado, sabendo que a vitória absoluta será alcançada apenas na vinda de Cristo.
Assumir a impecabilidade pode trazer extrema frustração para a vida cristã, porque se estabelece um alvo intangível. Viver em santificação não significa a impossibilidade de recorrer a Cristo, como se a busca pelo perdão pertencesse exclusivamente à etapa anterior, à justificação. Quando alguém que já aceitou o perdão de Cristo na cruz (justificação) torna a pecar, não significa que voltou uma casa atrás do jogo; a santificação nos dá acesso ao perdão e à intercessão do Sumo Sacerdote Jesus (1 Jo 2:1; Hb 4:14-16). Somos renovados e restaurados, porque a santificação é uma caminhada pela fé, realizada por pecadores que estão se assemelhando a Cristo em caráter (2 Pe 3:18). O fim da jornada é a volta de Jesus e ali o povo de Deus já não será constituído por pecadores, mas por redimidos que venceram o pecado pelo sangue do Cordeiro (Ap 7:14; 14:1-4). Assim se pode dizer que a santificação resulta em impecabilidade na experiência futura (1 Pe 1:4-5; 1 Jo 3:1-2) – jamais na atual (1 Jo 1:8, 10).
Até lá, o que Deus requer de nós é maturidade (Gn 17:1; Dt 18:13; 2 Sm 22:26; Mt 5:48; 1 Co 1:8). Maturidade espiritual não difere muito do conceito geral de maturidade no que se refere aos requisitos básicos para a aquisição: tempo e experiência. Uma vida cristã madura é o alvo da santificação (Fl 3:12; Co 1:28; 2 Tm 3:17) e exige constante comunhão com Deus para ser atingida.
Compreender o que a santificação não é torna mais fácil evitar os preconceitos e temores relacionados a ela. Assim fica aberto também o caminho para entendê-la com maior clareza.


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