segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

MOTIVO PARA A FRAQUEZA DO CARÁTER CRISTÃO DE NOSSA ÉPOCA


Qual a relação da experiência da salvação com o ministério de Jesus? Por ministério de Jesus, compreende-se três fases básicas: (1) Seu ministério terrestre, que culmina em Sua morte e ressurreição; (2) Sua ascensão e ministério no Santuário celestial (que inclui a fase no lugar santíssimo, a partir de 1844); e (3) Seu glorioso retorno. Essas três fases ocorrem em três tempos distintos: (1) o ministério terrestre se deu no passado; (2) o ministério no santuário ainda ocorre, relacionando-se com o presente; (3) Seu retorno, a parte final de Seu papel como Salvador, se dará no futuro. Portanto, qual a relação da salvação com o ministério de Jesus, o qual ocorre em três tempos?
Responder essa pergunta requer um entendimento amplo da salvação. Se a salvação fosse um ato pontual, um evento histórico único, não teria correspondência com todo o plano da salvação. Se a salvação fosse relacionada ao passado, desconsiderando os demais tempos, se restringiria à justificação. Exatamente isso acontece com a teologia evangélica, desde os dias de Lutero. Ao restringir a salvação ao passado, ligando-a à cruz, ela se torna uma experiência história, um evento, não um processo contínuo que afete a vida do cristão na atualidade. A atualização da salvação é uma questão de memorialismo, que pode dar lugar a cerimônia que relembre o que Cristo fez, dando espaço à teologia sacramental. Por outra instância, se a salvação se referisse ao presente, ligada ao processo de juízo que Jesus realiza no Santuário celestial, poderia facilmente se desligar da cruz ou do retorno de Jesus, dando espaço para uma vida cristã focada em salvação pelas obras. Assim se ignoraria o ato de Deus em nos salvar. Finalmente, se a salvação se focasse apenas no futuro, no retorno de Jesus, desvinculada da cruz e do santuário, teríamos um cristianismo místico, sem maiores considerações em relação com a parte histórica e concreta do cristianismo; afinal, a escatologia só possui dimensão concreta enquanto escatologia iniciada, em associação com a história da salvação.
Para entender a relação da salvação com o ministério de Jesus, o qual ocorre em três tempos, é necessário compreender a salvação em três tempos.  A salvação não é um evento histórico único, mas um processo. A salvação é um processo composto por etapas que correspondem ao ministério de Jesus. A salvação pode ser dividida em três etapas: justificação, santificação e glorificação. Cada uma dessas etapas corresponde a um tempo: (1) a justificação é um evento passado – um dia se aceitou a Jesus como Salvador e se experimentou a salvação imediatamente; (2) a santificação é um evento presente – depois de se ter aceito a Jesus, se inicia a transformação operada pelo poder do Espírito, que nos conforma com as exigências da Palavra, nos tornando semelhantes a Jesus em caráter; (3) A glorificação é um evento futuro – uma vez que se aceita a Jesus e se passa toda uma vida para desenvolver um caráter semelhante ao dEle, finalmente se poderá vê-Lo voltando em glória, e se experimentará a transformação completa que livrará mente e corpo dos efeitos do pecado.
Sendo a salvação um processo, desenvolvido em três tempos, cada uma de suas etapas possui seu referencial na obra de Cristo: (1) a justificação, evento passado, se liga à cruz e ressurreição; (2) a santificação, evento presente, se liga à intercessão e juízo a partir do santuário; (3) a glorificação, evento futuro, se liga ao retorno glorioso de Jesus à Terra. De todos os momentos, o que mais nos interessa, para fins práticos, é a santificação, justamente por (a) se referir ao presente do cristão, ou seja, à sua experiência ordinária e cotidiana; (b) se referir ao presente de Cristo, ou seja, à etapa que presentemente Ele desenvolve em favor de Seu povo no santuário celestial. Assim, dentro da relação da salvação com a obra de Jesus, o ponto focal deve ser a relação da santificação com ministério de Jesus no santuário. A obra de Jesus no santuário é o elo que une Seu ministério terrestre com Seu ato final de Salvação, realizado em Seu retorno. A santificação é o elo que une a justificação passada com a glorificação futura. Quando se pensa em vida cristã, o mais natural seria pensar prioritariamente em termos de santificação e na dependência desse tipo de experiência com o ministério de Jesus no santuário. Infelizmente, ainda se pensa em vida cristã em termos de justificação, que, nos meios populares, praticamente resume o que significa ser um cristão (como determinado segmento evangélico norte-americano que se autodenomina “nascidos de novo”). Daí a fraqueza do caráter cristão de nossa época.

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2 comentários:

Unknown disse...

Ao meu ver, a melhor forma de analisar a questão abordada no texto acima é nos termos de relacionamento com Cristo. Aceito o Evangelho, sou justificado, isto é certo e pleno mediante o que fala a Bíblia. No entanto minha salvação permanecerá assegurada se eu manter a submissão e obediência à vontade de Jesus, o que redunda em santificação. Acho muito mais fácil e produtivo analisar assim, do jeito que a coisa funciona: Jesus fala eu obedeço = estou dentro da graça.

douglas reis disse...

Aguinaldo,

obrigado por sua interação. A sua posição é recente na história do adventismo. É praticamente o que Morris Venden defende. Seus livros popularizaram posições sobre justificação pela fé que praticamente reduzem e automatizam o processo de salvação a um relacionamento. Na verdade, essa é uma dimensão do processo. Mas os próprios termos que a Bíblia usa sugerem outras metáforas: expiação (santuário), justificação (processo judicial), remissão (pagamento de uma dívida ou resgate de uma propriedade). Se Ellen White fala da santificação como a obra de uma vida interia, não me parece que a ênfase recaia sobre a santificação ou que a própria salvação seja um processo automático (e mesmo simplista) como sustenta Venden...