Qual a relação da experiência
da salvação com o ministério de Jesus? Por ministério de Jesus, compreende-se
três fases básicas: (1) Seu ministério terrestre, que culmina em Sua morte e
ressurreição; (2) Sua ascensão e ministério no Santuário celestial (que inclui
a fase no lugar santíssimo, a partir de 1844); e (3) Seu glorioso retorno. Essas
três fases ocorrem em três tempos distintos: (1) o ministério terrestre se deu
no passado; (2) o ministério no santuário ainda ocorre, relacionando-se com o
presente; (3) Seu retorno, a parte final de Seu papel como Salvador, se dará no
futuro. Portanto, qual a relação da salvação com o ministério de Jesus, o qual ocorre em três tempos?
Responder essa pergunta
requer um entendimento amplo da salvação. Se a salvação fosse um ato pontual,
um evento histórico único, não teria correspondência com todo o plano da
salvação. Se a salvação fosse relacionada ao passado, desconsiderando os demais
tempos, se restringiria à justificação. Exatamente isso acontece com a teologia
evangélica, desde os dias de Lutero. Ao restringir a salvação ao passado,
ligando-a à cruz, ela se torna uma experiência história, um evento, não um
processo contínuo que afete a vida do cristão na atualidade. A atualização da
salvação é uma questão de memorialismo, que pode dar lugar a cerimônia que
relembre o que Cristo fez, dando
espaço à teologia sacramental. Por outra instância, se a salvação se referisse
ao presente, ligada ao processo de juízo que Jesus realiza no Santuário
celestial, poderia facilmente se desligar da cruz ou do retorno de Jesus, dando
espaço para uma vida cristã focada em salvação pelas obras. Assim se ignoraria
o ato de Deus em nos salvar. Finalmente, se a salvação se focasse apenas no
futuro, no retorno de Jesus, desvinculada da cruz e do santuário, teríamos um
cristianismo místico, sem maiores considerações em relação com a parte histórica
e concreta do cristianismo; afinal, a
escatologia só possui dimensão concreta enquanto escatologia iniciada, em
associação com a história da salvação.
Para entender a relação da
salvação com o ministério de Jesus, o qual ocorre
em três tempos, é necessário compreender a salvação em três tempos. A salvação
não é um evento histórico único, mas um processo. A salvação é um processo composto por etapas que correspondem ao
ministério de Jesus. A salvação pode ser dividida em três etapas:
justificação, santificação e glorificação. Cada uma dessas etapas corresponde a
um tempo: (1) a justificação é um evento passado – um dia se aceitou a Jesus
como Salvador e se experimentou a salvação imediatamente; (2) a santificação é
um evento presente – depois de se ter aceito a Jesus, se inicia a transformação
operada pelo poder do Espírito, que nos conforma com as exigências da Palavra,
nos tornando semelhantes a Jesus em caráter; (3) A glorificação é um evento
futuro – uma vez que se aceita a Jesus e se passa toda uma vida para
desenvolver um caráter semelhante ao dEle, finalmente se poderá vê-Lo voltando
em glória, e se experimentará a transformação completa que livrará mente e
corpo dos efeitos do pecado.
Sendo a salvação um processo, desenvolvido em três
tempos, cada uma de suas etapas possui seu referencial na obra de Cristo: (1) a
justificação, evento passado, se liga à cruz e ressurreição; (2) a
santificação, evento presente, se liga à intercessão e juízo a partir do
santuário; (3) a glorificação, evento futuro, se liga ao retorno glorioso de
Jesus à Terra. De todos os momentos, o que mais nos interessa, para fins
práticos, é a santificação, justamente por (a) se referir ao presente do cristão, ou seja, à sua experiência
ordinária e cotidiana; (b) se referir ao
presente de Cristo, ou seja, à etapa que presentemente Ele desenvolve em
favor de Seu povo no santuário celestial. Assim, dentro da relação da salvação
com a obra de Jesus, o ponto focal deve ser a
relação da santificação com ministério de Jesus no santuário. A obra de
Jesus no santuário é o elo que une Seu ministério terrestre com Seu ato final
de Salvação, realizado em Seu retorno. A santificação é o elo que une a
justificação passada com a glorificação futura. Quando se pensa em vida cristã,
o mais natural seria pensar
prioritariamente em termos de santificação e na dependência desse tipo de
experiência com o ministério de Jesus no santuário. Infelizmente, ainda se
pensa em vida cristã em termos de justificação, que, nos meios populares,
praticamente resume o que significa ser um cristão (como determinado segmento
evangélico norte-americano que se autodenomina “nascidos de novo”). Daí a
fraqueza do caráter cristão de nossa época.
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2 comentários:
Ao meu ver, a melhor forma de analisar a questão abordada no texto acima é nos termos de relacionamento com Cristo. Aceito o Evangelho, sou justificado, isto é certo e pleno mediante o que fala a Bíblia. No entanto minha salvação permanecerá assegurada se eu manter a submissão e obediência à vontade de Jesus, o que redunda em santificação. Acho muito mais fácil e produtivo analisar assim, do jeito que a coisa funciona: Jesus fala eu obedeço = estou dentro da graça.
Aguinaldo,
obrigado por sua interação. A sua posição é recente na história do adventismo. É praticamente o que Morris Venden defende. Seus livros popularizaram posições sobre justificação pela fé que praticamente reduzem e automatizam o processo de salvação a um relacionamento. Na verdade, essa é uma dimensão do processo. Mas os próprios termos que a Bíblia usa sugerem outras metáforas: expiação (santuário), justificação (processo judicial), remissão (pagamento de uma dívida ou resgate de uma propriedade). Se Ellen White fala da santificação como a obra de uma vida interia, não me parece que a ênfase recaia sobre a santificação ou que a própria salvação seja um processo automático (e mesmo simplista) como sustenta Venden...
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