O livro morrerá? Dado o surgimento de e-books, e-readers (como o popular Kindle) e mediante crescentes inovações no mundo digital, sentar-se para virar as folhas de um livro tradicional parece tarefa obsoleta. Por outro lado, há quem argumente que o livro sobreviveu – ainda que não incólume – ao advento do telefone, do rádio, da televisão e da internet. Assim, o prazer da leitura convencional seria insubstituível, ainda mais pelo aspecto material – poder tocar e manusear um objeto tridimensional.
Envolta por este clima de incerteza quanto ao futuro, surge a proposta de conjugar livro, vídeos e fóruns de discussão: é o primeiro “romance digital interativo”. A produção ousada foi concebida pelo escritor de seriados Anthony Zuiker.
Zuiker é conhecido por criar a milionária série televisiva CSI. Com a participação do escritor de HQs Duane Swierczynski, ele escreveu o primeiro volume da trilogia Grau 26. Para os fãs de CSI, algumas semelhanças são facilmente perceptíveis, e comentarei logo mais sobre elas. Li a primeira parte da obra (Grau 26: a origem) na íntegra, apesar de ter acompanhado apenas uma parcela dos vídeos disponíveis no site, os quais complementam situações do livro.
Reconheço a boa intenção da iniciativa. Trabalhar com diferentes mídias é algo atraente. No entanto, tenho algumas ressalvas ao livro. Em primeiro lugar, nota-se uma mudança de enfoque em relação à série que fez o nome de Zuiker. Grau 26 é um livro mórbido, explorando mais o terror do que o suspense.
A trama gravita sobre a noção de que os assassinos são classificados em vinte e cinco categorias, de acordo com o grau de crueza e periculosidade. Até que surge um misterioso assassino, Sqweegel (cujo “nome” remonta a um de seus crimes horripilantes…). O monstro é meticuloso, paciente, ágil e, devido à sua pequena estatura, entre e sai de qualquer lugar, graças aos seus movimentos de acrobata. Ele nunca foi pego, porque não deixa rastros (sua indumentária de látex o protege de deslizes). Por todas as suas características, Sqweegel se torna o único expoente da nova categoria de assassinos: o grau 26.
Basicamente, o livro mostra um embate entre Sqweegel e Steve Dark, o agente federal que o investigou por anos – e sofreu as consequências. No momento em que reconstrói sua vida ao lado de sua esposa grávida, Dark é contatado por seus ex-chefes para capturar o psicopata de grau 26. A história tem todos os exageros de filmes do gênero, perdendo a verossimilhança que marca CSI.
Outra diferença: muitos episódios que aparecem na série televisiva são mais bem elaboradas e inteligentes que o enredo de Grau 26, que se sustenta em uma narrativa ágil (típica dos Best-sellers), mas literariamente insossa.
Talvez o que acentue isso seja a diferença colossal entre os protagonistas dos dois trabalhos de Zuiker: Gil Grisson, do CSI, é um cientista, frio, inteligente, com conhecimento profundo em insetos e acostumado a deduções sagazes, confirmadas pelas experientes e testes mais mirabolantes. Pois bem: retire metade do cérebro de Grisson, acrescente mais músculos e um rabo de cavalo – eis que chegamos a Steve Dark!
O maior dilema enfrentado pelo investigador Dark consiste no receio de se envolver demais no caso, a ponto de se identificar tanto com a forma de pensar de um psicopata que não possa mais voltar a ser quem era (um dilema similar ao do homem-morcego, no filme Batman:Cavaleiro das Trevas). Pelo desfecho, percebe-se que Dark não conseguiu fugir da influência de pensar como um criminoso – fato lamentável, e outro contraponto com o senso de justiça de CSI, que nunca rompeu com os limites da lei, nem promoveu a mera retaliação.
Uma pena que a proposta inovadora de Grau 26 esteja a serviço de uma literatura açucarada e moralmente questionável. Futuramente, espera-se que outras experiências interativas surjam, aproveitanto o potencial do cruzamento de mídias para promover uma mensagem que mais se coadune com o pensamento cristão – claro que, para tanto, é necessário que servos de Deus, criativos e ousados, semeiem a visão do Evangelho nos meios disponibilizados pelas tecnologias modernas. Aí se poderia falar de Literatura em um grau mais elevado…
Envolta por este clima de incerteza quanto ao futuro, surge a proposta de conjugar livro, vídeos e fóruns de discussão: é o primeiro “romance digital interativo”. A produção ousada foi concebida pelo escritor de seriados Anthony Zuiker.
Zuiker é conhecido por criar a milionária série televisiva CSI. Com a participação do escritor de HQs Duane Swierczynski, ele escreveu o primeiro volume da trilogia Grau 26. Para os fãs de CSI, algumas semelhanças são facilmente perceptíveis, e comentarei logo mais sobre elas. Li a primeira parte da obra (Grau 26: a origem) na íntegra, apesar de ter acompanhado apenas uma parcela dos vídeos disponíveis no site, os quais complementam situações do livro.
Reconheço a boa intenção da iniciativa. Trabalhar com diferentes mídias é algo atraente. No entanto, tenho algumas ressalvas ao livro. Em primeiro lugar, nota-se uma mudança de enfoque em relação à série que fez o nome de Zuiker. Grau 26 é um livro mórbido, explorando mais o terror do que o suspense.
A trama gravita sobre a noção de que os assassinos são classificados em vinte e cinco categorias, de acordo com o grau de crueza e periculosidade. Até que surge um misterioso assassino, Sqweegel (cujo “nome” remonta a um de seus crimes horripilantes…). O monstro é meticuloso, paciente, ágil e, devido à sua pequena estatura, entre e sai de qualquer lugar, graças aos seus movimentos de acrobata. Ele nunca foi pego, porque não deixa rastros (sua indumentária de látex o protege de deslizes). Por todas as suas características, Sqweegel se torna o único expoente da nova categoria de assassinos: o grau 26.
Basicamente, o livro mostra um embate entre Sqweegel e Steve Dark, o agente federal que o investigou por anos – e sofreu as consequências. No momento em que reconstrói sua vida ao lado de sua esposa grávida, Dark é contatado por seus ex-chefes para capturar o psicopata de grau 26. A história tem todos os exageros de filmes do gênero, perdendo a verossimilhança que marca CSI.
Outra diferença: muitos episódios que aparecem na série televisiva são mais bem elaboradas e inteligentes que o enredo de Grau 26, que se sustenta em uma narrativa ágil (típica dos Best-sellers), mas literariamente insossa.
Talvez o que acentue isso seja a diferença colossal entre os protagonistas dos dois trabalhos de Zuiker: Gil Grisson, do CSI, é um cientista, frio, inteligente, com conhecimento profundo em insetos e acostumado a deduções sagazes, confirmadas pelas experientes e testes mais mirabolantes. Pois bem: retire metade do cérebro de Grisson, acrescente mais músculos e um rabo de cavalo – eis que chegamos a Steve Dark!
O maior dilema enfrentado pelo investigador Dark consiste no receio de se envolver demais no caso, a ponto de se identificar tanto com a forma de pensar de um psicopata que não possa mais voltar a ser quem era (um dilema similar ao do homem-morcego, no filme Batman:Cavaleiro das Trevas). Pelo desfecho, percebe-se que Dark não conseguiu fugir da influência de pensar como um criminoso – fato lamentável, e outro contraponto com o senso de justiça de CSI, que nunca rompeu com os limites da lei, nem promoveu a mera retaliação.
Uma pena que a proposta inovadora de Grau 26 esteja a serviço de uma literatura açucarada e moralmente questionável. Futuramente, espera-se que outras experiências interativas surjam, aproveitanto o potencial do cruzamento de mídias para promover uma mensagem que mais se coadune com o pensamento cristão – claro que, para tanto, é necessário que servos de Deus, criativos e ousados, semeiem a visão do Evangelho nos meios disponibilizados pelas tecnologias modernas. Aí se poderia falar de Literatura em um grau mais elevado…
Nenhum comentário:
Postar um comentário