Se
é verdade que as mudanças trazidas pela liquidez dessa época afetam a questão
da identidade individual, não é menos verdadeiro dizer que grupos religiosos
sofrem com a perda de identidade. Como se adaptar a uma sociedade diversificada
e em constante mudança? Como oferecer um contrapondo sólido, quando aquilo que
é sólido soa como resquício da modernidade? Como alimentar convicções
tradicionais entre os adeptos de uma comunidade, quando o mundo virtual os
reloca para um oceano de outras convicções, de outras comunidades?
O
cristianismo certamente viveu diversos períodos de adaptação, como lembra o
teólogo Stanley Grenz, autor de diversas obras sobre a necessidade de se
adaptar à presente época. Obviamente, não seria justo afirmar que todas as
mudanças pelas quais o cristianismo passou foram no mesmo nível. Ou que foram
realmente necessárias ou benéficas.
Muitas
igrejas, endossando o cristianismo liberal das primeiras décadas do século XX,
passaram simplesmente a atuar como agências humanitárias. A igreja alemã, por
volta da segunda guerra, foi incorporada pelo partido nazista, dando origem a
uma simbiose descaradamente pouco cristã em seu produto final. Nesse aspecto,
vale lembrar que, se o assunto é viver o cristianismo, a melhor resposta se
encontra no exemplo dos anabatistas. A princípio surgidos de um pequeno grupo
de estudos da Bíblia, incentivado e liderado por Ulrich Zwínglio, aqueles que
viriam a ser chamados de anabatistas não tardaram em romper com o reformador. Achavam
que Zwínglio não estava disposto a reformar o suficiente a igreja. Aliás, nem
ele ou Lutero, ou mesmo Calvino estavam, pois mantiveram muitos dos paradigmas
da escolástica medieval. Os anabatistas, não. Ambicionavam reformar tudo à luz
das Escrituras. Viver o cristianismo consistia em refletir a vontade de Deus em
todos os aspectos, conforme a Palavra expressava.
Em
um mundo acelerado, com mídias de alcance global, que possibilitam a milhões
expressarem suas opiniões em canais de grande alcance, sem a mediação de
conglomerados de comunicação, muitas vozes disputam um lugar ao sol. A saturação
da informação chega a intoxicar! O que se tornou um verdadeiro banquete para o
pluralismo religioso, também trouxe a necessidade de diluir a religião, de apresenta-la
em uma moldura não agressiva. Alguém comentava de uma declaração feita por
alunos de determinada universidade cristã, na qual constava a luta pelo direito
de todos, inclusive de casais homossexuais.
Novas
propostas surgem para renovar o conceito de igreja, como a igreja líquida –
constituída de grupos afins que se reuniriam esporadicamente e, em certas
ocasiões, haveria a reuniam desses diversos grupos. Eis um dentre muitos
exemplos de como cristãos sentem a necessidade de se adaptar à pós-modernidade,
de reinventar a roda. Não se pode jogar a água da banheira com o bebê;
certamente, há boas contribuições que merecem ser analisadas. Entretanto,
quanto dessas novas propostas partem da Bíblia, não da experiência ou
necessidade? Mais do que reinventar a roda, é hora de fazê-la girar, porque
para isso ela serve; a igreja foi concebida por Deus para ser igreja, com uma
função específica no mundo. A igreja viva é a que se apoia no fundamento
redescoberto pelos anabatistas. Fora disso, o cristianismo se colocaria em uma
posição delicada e pouco confortável: fazer girar um quadrilátero.
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