É
comum se referir à necessidade de contextualização da pregação bíblica no contexto do
século XXI. Eu concordo: ao me tornar pai, isso ficou ainda mais claro. A cada
fase, um bebê tem necessidades distintas. Agora, ver minha filha começar a
juntar as mãos para orar ou prestando atenção nas músicas do culto é algo
gratificante. O que se aplica a ela, em certa maneira, diz respeito a cada ser
humano: as necessidades advindas da faixa etária, cultura, educação e classe
social, para mencionar alguns fatores, não podem ser desconsideradas.
Entretanto,
não se pode perder de vista que contextualização implica em uma ponte. Quem constrói
pontes se preocupa com os dois lados da estrutura. As pontes existem para serem
transitadas. Quem está de um lado, precisa atravessar com segurança para o
outro. Há um elo, uma ligação, nesse caso,
entre a mensagem do cristianismo com a situação presente das pessoas. Quando se
aplica isso a missões, sejam em locais estrangeiros ou às missões urbanas –
entre pessoas que possuem um ethos
pós-cristão –, o desafio é maior.
O risco mais desafiador é quando adaptações circunstanciais dão lugar a mudanças mais
profundas, caracterizando identificação total ou parcial com aspectos da
cultura que se oponham francamente ao evangelho. Quando isso acontece, estamos
diante do sincretismo, a mistura da religião bíblica com qualquer outro
elemento, filosofia ou ideologia externos. O catolicismo surgiu justamente
dessa tendência de se adaptar acriticamente ao ambiente cultural, dando origem
a um cristianismo com forte influência da filosofia greco-romano e com traços pagãos evidentes.
No
contexto urbano contemporâneo, adaptar completamente a mensagem do evangelho
implicaria em um tipo de cristianismo secularizado, racionalista, travestido de
cultura pop, existencialista,
ecumênico, marcadamente identificado com uma vocação mais social do que
missionária no sentido bíblico. Aliás, alguns missiólogos expandiram o termo missional (originalmente cunhado para representar o desafio da missão em sociedades pós-cristãs) para se referir à participação social, política e até ecológica dos cristãos,
tornando o uso do termo incompatível com a noção bíblica de missão e
evangelização.
A
contextualização precisa ser norteada por parâmetros bíblicos. É necessário
estudar como o apóstolo Paulo evangelizou o mundo greco-romano, como Daniel
viveu sua fé na Babilônia, como Jonas anunciou sua mensagem, para mencionar
alguns casos. Apenas o cânon bíblico, analisado com seriedade, pode fornecer as
diretrizes para que a contextualização respeite a essência da mensagem bíblica.
Afinal, contextualização não deve cair no pragmatismo teológico…
Ainda
sobre evangelismo urbano, especialmente no que se refere a novas gerações,
talvez o mais prejudicial seja assumir a premissa de que, para alcança-los, devemos
oferecer o que eles já têm. Essa geração midiática, plural, comunitária, que
gosta de engajamento, toma as dores das minorias históricas e vive de
experimentar novas sensações, ao mesmo tempo que se acostumou com objetos e
relacionamentos descartáveis, não precisa de uma igreja que simplesmente
reforce esses valores. Eles precisam de algo que vá além.
Precisam
de uma mensagem que lhes dê solidez em um mundo cada vez mais incerto; precisam
de bases eternas que desafiem e substituam o relativismo com o qual se
acostumaram; precisam recuperar a ideia de um Deus acima da própria cultura,
não nivelado pela mundanidade que perpassa as representações de sagrado em Hollywood. Por incrível que pareça, eles necessitam de
conexão – mas de um tipo específico. Precisam, fundamentalmente, de uma
mensagem que destrua a estrutura viciada do pensamento pós-moderno, e que seja transmitida de forma simples. Fazer isso não exige treinamento ou altos
investimentos em programas e recursos. Falta gente que, com sabedoria e humildade,
tenha experimentado o evangelho a ponto de sentir o desejo de compartilha-lo
com esta geração.
O contato pessoal será decisivo para alcançar as pessoas desse
tempo, porque é disso que mais se sente falta: gente que, verdadeiramente,
amem e vivam a verdade. A conexão com Deus será possível para tantos jovens adultos suburbanos quando conhecerem crentes conectados com a mensagem de um Salvador morto, ressurreto, assunto ao Céu, atuante em Seu santuário e prestes a retornar.
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