O paradigma persistente de Crossan está realmente na busca pelo “Busca pelo Jesus Histórico”. Ele chega a considerar a tentativa de conciliar o Jesus bíblico com o dito “Jesus Histórico” como algo retrógrado, preso pensamento do século XIX.[1] A verdade é que a dicotomia entre a visão bíblica e a da supostamente histórica não é empírica, mas motivada pelo preconceito em relação ao sobrenatural. Gehard Maier, combatendo o método crítico alega que os critérios quanto ao que pode ser ou não aceito como História dentro da Bíblia (de acordo com a proposta daquele método) variam de geração em geração, segundo a opinião de cada crítico.[2] Em outras palavras: se fizemos a confiabilidade da Bíblia ser gerenciada por critérios pessoais subjetivos, estaremos minando por completo sua autoridade.
Ocorre que, para o estudioso liberal essa dicotomia entre a fé e a História se torna insuperável :
“Porque eles se recusam a aceitar o diálogo necessário entre história e fé. Existem muitos clérigos querendo fazer julgamentos históricos por meio da fé. Mas julgamentos assim são impossíveis. Para a história, o importante é o significado dos fatos. Cada religião faz reivindicações históricas. Mas cada doutrina precisa admitir que fé e religião são uma coisa, história é outra.”
Essa dificuldade é, em parte, causada pela própria concepção de História dos estudiosos. O Rev. Claude Labrunie, sintetizando o pensamento de Oscar Cullman, assim expressa uma relação saudável entre Cristianismo e História:
“O que tão violentamente escandaliza o pensamento moderno, entre as pretensões da revelação cristã, é esta extensão cósmica da linha histórica, a saber, o fato de que toda teologia cristã é, em sua essência, uma ‘história bíblica’.”
Crossan, por outro lado, não se impressiona com modismos recorrentes, como o do suposto casamento entre Jesus e Maria Madalena e o “achado” da tumba de Jesus, ou do Evangelho atribuído a Judas, que, segundo seu auspício, não revelaria a “motivação histórica” do apóstolo traidor. No que se refere aos túmulos, para ele não se comprovar que “sejam da família de Jesus”, pois os “nomes que aparecem nas tumbas eram comuns naquela época.[5]
Outras interpretações do estudioso podem polemizar, apenas se os dados não forem corretamente analisados. Vejamos:
1 - “A idéia de proibir a ordenação das mulheres seria um absurdo para Jesus e um escândalo para Paulo. Como diz uma passagem dos Romanos, ‘saudai Andrônio e Júnia, meus parentes e companheiros de prisão, apóstolos exímios que me precederam na fé em Cristo.’”
Crossan cita Romanos 16:7, que diz apenas que as personagens, Andrônio e Júnia, eram “notáveis entre os apóstolos” (NVI). No demais, basear uma conclusão tão séria em um texto isolado, é demonstrar falta de cuidado com a matéria bíblica. Ninguém discorda que Jesus e os apóstolos valorizaram a mulher, dando-lhe um respeito e um espaço dentro da cultura antiga jamais vistos. Mas sobre a ordenação da mulher, o silêncio da Bíblia deve nos fazer cautelosos.
2 - “Eu acredito que o céu e o inferno não sejam lugares do futuro, mas possibilidades aqui do presente. O século 20 foi a visão mais clara do inferno. Este século parece que não será muito melhor do que o anterior. Para mim, como cristão, Jesus não vai retornar, pois ele nunca foi embora. ‘E ei que Eu estou convosco todos os dias’, diz Mateus capítulo 28, versículo 20. Jesus não está aqui nos sobrevoando. Eu acredito na presença dele na atualidade, à medida que nós coloquemos em prática a realidade não violenta que ele pregou.”
Será apenas que o esforço humano, a nossa “boa vontade” irão reconstruir o planeta e torná-lo “um lugar melhor” ? Desculpe-me Crossan, mas à sua esperança, eu prefiro àquela oferecida pelo Jesus Histórico, que, por sinal, é o mesmo que encontro nas páginas de minha Bíblia.
[2] Gehard Maier, “Das Ende der Historisch-Kritischen Methode”, conforme citado em Enio Roanld Mueller, “O método Histórico-Crítico – uma avaliação”, material incluso no apêndice 2 de Gordon Free e Douglas Stuart, “Entende o que lês?: um guia para entender a Bíblia com o auxílio da exegese e da hermenêutica” (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2000), 3ª reimpressão da 2ª ed. , p. 265.
[3] Leandro Narloch, p. 18.
[4] Claude Labrunie, disponível sob o título “O conceito cristão da História” em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2007/06/conceito-cristo-de-histria.html.
[5] Narloch, idem.
[6] Idem, p. 19.
[7] Idem.
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