quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ELE MERECIA ISSO?


Olhe para esse exemplo. A barba esverdeava no rosto esquálido. Olhos esbugalhados, ouvindo cítaras alegres ou alaúdes festivos – sons de um mundo que ria enquanto sua crença era pisoteada. Você consegue ler a linha de dúvida insinuando-se em sua testa franzina? Consegue distinguir a boca balbuciar a prece sentida, desconjuntada? Esse é um homem confuso, questionando seu Deus sobre até quando ele terá de suportar a prova, sem aparente socorro. Tudo lhe parece injusto, cruel e desnecessário. Por que isso? E por que com ele?
Você não se enganou. Esse é mesmo João Batista!
Incrível, não é? Há pouco ele estava pregando no rio, estufando o peito para desafiar a hipocrisia dos religiosos. Seus cabelos respingando a água do Jordão pareciam cobertos de cristais gloriosos – que dia! Fora o batismo de Jesus, o alvo da missão de João.
João agira como uma seta de neon que indicava o Messias. Ele o batizara. Apresentara-o ao povo. Direcionara seus discípulos a Cristo. Afinal, João era a voz do deserto, o alto-falante do céu. Suas convicções? Mais claras do que a do mais bem sucedido empresário. Se uma revista de empreendedores fizesse uma matéria sobre a importância de manter o foco, deveria entrevistá-lo! João sabia quem era e não admitiu que o confundissem com o Messias (embora, sob uma ótica mundana isso fosse vantajoso).
E o que foi feito desse pilar da fé? O João de tantas certezas ficou reduzido ao João que duvida (Mt 11:3). Leia com cautela suas palavras:

Quando ele ouviu falar do que jesus estava fazendo, enviou seus próprios discípulos para perguntar: “Você é quem estávamos esperando ou temos de continuar esperando?” (The Message)

Sei o que você está pensando: nem parece o mesmo João. Ele, quem arrebanhou pessoas para Cristo, expressou incerteza quanto a Sua identidade messiânica. A bússola de João perdera o magnetismo. Sem foco – semelhante a muitos jogadores de futebol, que depois de carreiras estelares em clubes europeus, voltam a jogar no Brasil mais preocupados em participar de festas e manter contratos comerciais lucrativos do que em recuperar a forma física.
Isso significa que João fosse superficial? Não creio se trate disso. Muitos mártires do passado experimentaram o mesmo. Dúvida, medo, a tentação de abjurar de sua fé. Alguns até o fizeram e, depois, arrependeram-se amargamente, voltando a professar sua crença na doutrina do evangelho com tal veemência que foram levados ao sacrifício.
Deus distingue um coração que luta sinceramente de outro que não suporta as provas, por falta de alicerce. Na hora mais escura, a luz invisível é percebida quando a fé persistente prevalece. Aquela era a escuridão do Batista.

E quanto a nós? Que temos cultivado em nossa experiência? O cristianismo de momento pode ser atrativo e estimulante. Todavia, a questão é quanto ele dura. Na hora mais escura, de que ele nos aproveitará? Sem o exercício de fé constante e madura, o menor sopro assumirá proporções ciclônicas!


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