Olhe para esse
exemplo. A barba esverdeava no rosto esquálido. Olhos esbugalhados, ouvindo
cítaras alegres ou alaúdes festivos – sons de um mundo que ria enquanto sua
crença era pisoteada. Você consegue ler a linha de dúvida insinuando-se em sua
testa franzina? Consegue distinguir a boca balbuciar a prece sentida,
desconjuntada? Esse é um homem confuso, questionando seu Deus sobre até quando
ele terá de suportar a prova, sem aparente socorro. Tudo lhe parece injusto,
cruel e desnecessário. Por que isso? E por que com ele?
Você não se enganou.
Esse é mesmo João Batista!
Incrível, não é? Há
pouco ele estava pregando no rio, estufando o peito para desafiar a hipocrisia
dos religiosos. Seus cabelos respingando a água do Jordão pareciam cobertos de
cristais gloriosos – que dia! Fora o batismo de Jesus, o alvo da missão de
João.
João agira como uma
seta de neon que indicava o Messias. Ele o batizara. Apresentara-o ao povo.
Direcionara seus discípulos a Cristo. Afinal, João era a voz do deserto, o
alto-falante do céu. Suas convicções? Mais claras do que a do mais bem sucedido
empresário. Se uma revista de empreendedores fizesse uma matéria sobre a
importância de manter o foco, deveria entrevistá-lo! João sabia quem era e não
admitiu que o confundissem com o Messias (embora, sob uma ótica mundana isso
fosse vantajoso).
E o que foi feito
desse pilar da fé? O João de tantas certezas ficou reduzido ao João que duvida
(Mt 11:3). Leia com cautela suas palavras:
Quando ele
ouviu falar do que jesus estava fazendo, enviou seus próprios discípulos para
perguntar: “Você é quem estávamos esperando ou temos de continuar esperando?” (The Message)
Sei o que você está
pensando: nem parece o mesmo João. Ele, quem arrebanhou pessoas para Cristo,
expressou incerteza quanto a Sua identidade messiânica. A bússola de João
perdera o magnetismo. Sem foco – semelhante a muitos jogadores de futebol, que
depois de carreiras estelares em clubes europeus, voltam a jogar no Brasil mais
preocupados em participar de festas e manter contratos comerciais lucrativos do
que em recuperar a forma física.
Isso significa que
João fosse superficial? Não creio se trate disso. Muitos mártires do passado
experimentaram o mesmo. Dúvida, medo, a tentação de abjurar de sua fé. Alguns
até o fizeram e, depois, arrependeram-se amargamente, voltando a professar sua
crença na doutrina do evangelho com tal veemência que foram levados ao
sacrifício.
Deus distingue um
coração que luta sinceramente de outro que não suporta as provas, por falta de
alicerce. Na hora mais escura, a luz invisível é percebida quando a fé
persistente prevalece. Aquela era a escuridão do Batista.
E quanto a nós? Que
temos cultivado em nossa experiência? O cristianismo de momento pode ser
atrativo e estimulante. Todavia, a questão é quanto ele dura. Na hora mais
escura, de que ele nos aproveitará? Sem o exercício de fé constante e madura, o
menor sopro assumirá proporções ciclônicas!
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