sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

CRISTO, NOSSO SALVADOR



(Hans K. LaRondelle, Chris our Savior: What God does for us and us. Pacifc Press Publishing Association, 1980.)


Hans K. LaRondelle foi um dos principais teólogos da Igreja Adventista. Sua influência perdura mesmo depois de sua morte, há poucos anos. Bem conhecido por suas obras escatológicas (que tratam do tempo do fim), ele também produziu materiais voltados para a soteriologia (doutrina da salvação). Dele é esse pequena joia, intitulada Christ Our Savior.
Aqui o principal tema de LaRondelle é a salvação, a partir da centralidade da obra de Cristo. Ele defende a tese de a salvação se desenvolver em três etapas distintas: justificação, santificação e glorificação. Em sua argumentação, teólogo ressalta que não são nossos esforços humanos que garantem a reconciliação com Deus, mas a obra de Cristo, tanto em Seu ministério terrestre, o qual compreende Sua morte vicária, quanto em Seu ministério no santuário celestial, intercedendo pelos pecadores. Isso somente aconteceu devido ao fato de que o amor é o que define a natureza divina. Deus, portanto, toma a iniciativa de alcançar o homem e realizar aquilo que Ele não pode sozinho. Por isso, segundo LaRondelle, o “evangelho em sua essência não é ‘faça!’, mas ‘feito!’; não ‘trabalhe!’, mas ‘creia!’” (p. 44).
O livro traz uma impressionante quantidade de textos bíblicos para reforçar sua argumentação. Evidentemente, pressupõe-se que o leitor já parta de uma base cristã e queira saber mais sobre a salvação. E a análise de LaRondelle é, de fato, impecável e bastante fiel em seu tratamento dos textos. Embora bastante simples, fugindo de termos técnicos, consegue uma ampla cobertura de temas correlacionados, trabalhando de forma sistemática, construindo tijolo a tijolo um edifício de grande envergadura. Em acréscimos à análise bíblica propriamente dita, as obras de Ellen G. White são citadas, reforçando as conclusões extraídas dos textos bíblicos. Alguns outros poucos autores evangélicos são citados, sendo o principal George Ladd, em sua magistral obra Teologia do Novo Testamento, mencionada ao longo de todo o livro.
Por se tratar de uma edição mais antiga, o livro não preza pela diagramação ou pelo formato. O sistema de notas de rodapé ou notas finais também dariam um aspecto visual melhor do que as referências inseridas (de modo bastante abreviado e incompleto) ao longo do texto. Não sei se há uma edição mais recente desse material, mas seria bom vê-lo com um acabamento mais apropriado. Tirando as limitações da edição, trata-se de um clássico em versão banzai (para ser justo, devo destacar que são limitações que levam em conta critérios atuais, os quais não contavam na época em que o material foi escrito).
O livro está dividido em três partes, as quais enfocam as etapas da salvação: justificação, santificação, glorificação. Logo na introdução, o autor parte do pressuposto de que há (e sempre houve, como parece ainda haver) muita incompreensão sobre o tema da salvação. Principalmente, quando nos perguntamos sobre o que temos de fazer para ser salvos.
Entretanto, LaRondelle esclarece que o Novo Testamento (doravante, NT) ensina que a salvação está vinculada, acima de tudo, a uma pessoa: Jesus Cristo. Embora o pecado seja algo complexo demais para ser perdoado automaticamente (p. 18), Deus nos reconciliou consigo por meio da morte substitutiva de Jesus (p. 22). Foi dEle a iniciativa (p. 22-23). Deus revelou Seu plano por meio do santuário terrestre (p.24), ensinando que a culpa de todo pecado deveria ser transferida (p. 27). Mas a salvação não estava completa sem a expiação final. Como diz Paulo em Hebreus (2:17), Jesus ainda faz expiação por nós, o que significa que Seu ministério no santuário é a continuação do processo de salvação, o qual não se resume à cruz (p.34).
No segundo capítulo, o enfoque recai sobre justificação.  Há muito de impactante nesse capítulo: “Seus méritos [de Cristo] não complementam nossos méritos, mas são nossos únicos méritos diante de Deus.” (p.43). A justificação ocorre quando aceitamos a Cristo, sem depender de nossa obediência. Aliás, aproveita-se para se desfazer uma confusão: quando Paulo não contrasta a lei com o evangelho (como muitos evangélicos supõem), mas dois modelos de justificação: um pela lei (como muitos judeus de seu tempo) e outro, pela fé (p. 48). A própria ideia de que o Antigo Testamento (doravante AT) ensine uma maneira de se salvar diferente do NT é estranha à própria Bíblia. Afinal, o legalismo não era consequência da religião do AT, mas sua distorção (p. 49). O próprio serviço do santuário ensinava justificação constantemente (p. 50).
No terceiro capítulo, a santificação (vida vitoriosa em Cristo) é mostrada como alvo positivo da salvação (p.61); afinal, “Cristo não nos redimiu meramente do pecado, Ele nos redimiu para Deus!” (p. 54). LaRondelle explora de forma mais detida o texto de Romanos (6:1-11) apontando o significado do batismo, não como morte da pessoa batizada, mas para que ela receba a morte de Cristo em sua vida (p.62). O batismo seria o grade argumento de Paulo para defende a vida santificada (idem). Em alusão a isso, o autor ressalta que a crucifixão não era morte instantânea; igualmente, crucificar nosso eu não significa que todos os impulsos naturais sumirão expontaneamente, mas faz parte daqueles que foram redimidos alcançar essa mortificação diária do eu (Cl 3:1, 3, 5, 9-10; 1 Co 6:19-20), o que faz parte do processo de salvação (p. 63-64). Deus escolheu Israel para Lhe pertencer e ser santo (p. 69). Há um motivo escatológico para perseguirmos esse ideal de santidade: os cristãos que não “perseverarem até o fim” não escaparão do julgamento final (p. 76).
O último capítulo versa sobre glorificação, o momento quando o processo de salvação se completa na volta de Jesus. Para o apóstolo Paulo, “o caráter e a vida cristã são essenciais para a futura glorificação.” (p.81). Em sentido real, nós não apenas esperamos a glória para o futuro, mas já usufruímos dela aqui mesmo (p. 82). As promessas de Deus não falharão com aqueles que desde agora vivem em aliança com Ele, procurando manter-se em santidade pela fé em Cristo, o Salvador (p. 90).
As reflexões de LaRondelle nos fazem meditar sobre o plano completo e belo que Deus elaborou para nossa salvação. Ao mesmo tempo, somos incitados a tomar parte ativa da salvação. Por último, vale destacar que o autor nos mostra que, apesar de a salvação constituir-se um processo, não precisamos chegar ao fim para descobrir qual será o resultado: a vitória está assegurado aqueles que respondem ao convite do Salvador pela fé.

Além de ser um material de forte cunho espiritual, que serve para reforçar a fé e levar a meditar no amor salvador de Cristo, o livro é um excelente exemplo de que teologia de boa qualidade não precisa ser inacessível e hermética. Por todos esses fatores, a obra ainda continua essencial, mesmo passados mais de trinta anos que foi escrita. Altamente recomendável para todos, desde cristãos recém-conversos, a pessoas que tem uma fé mais madura.


Um comentário:

William Fernandes disse...

Tenho lido alguns livros do Hans sobre o Apocalipse, e tenho me impressionado com este autor, ele faz relações excelentes entre os textos da bíblia, e o foco é sempre Jesus. Poderíamos ter mais obras dele traduzidas pela CPB.
Este livro mencionado com certeza deve ser uma benção. Obrigado pela dica.