(Hans K. LaRondelle, Chris our Savior: What God does for us and us. Pacifc Press Publishing Association, 1980.)
Hans K. LaRondelle foi um dos principais teólogos
da Igreja Adventista. Sua influência perdura mesmo depois de sua morte, há
poucos anos. Bem conhecido por suas obras escatológicas (que tratam do tempo do
fim), ele também produziu materiais voltados para a soteriologia (doutrina da
salvação). Dele é esse pequena joia, intitulada Christ Our Savior.
Aqui o principal tema de LaRondelle é a salvação,
a partir da centralidade da obra de Cristo. Ele defende a tese de a salvação se
desenvolver em três etapas distintas: justificação, santificação e glorificação.
Em sua argumentação, teólogo ressalta que não são nossos esforços humanos que garantem
a reconciliação com Deus, mas a obra de Cristo, tanto em Seu ministério terrestre,
o qual compreende Sua morte vicária, quanto em Seu ministério no santuário
celestial, intercedendo pelos pecadores. Isso somente aconteceu devido ao fato
de que o amor é o que define a natureza divina. Deus, portanto, toma a
iniciativa de alcançar o homem e realizar aquilo que Ele não pode sozinho. Por
isso, segundo LaRondelle, o “evangelho em sua essência não é ‘faça!’, mas ‘feito!’;
não ‘trabalhe!’, mas ‘creia!’” (p. 44).
O livro traz uma impressionante quantidade de
textos bíblicos para reforçar sua argumentação. Evidentemente, pressupõe-se que
o leitor já parta de uma base cristã e queira saber mais sobre a salvação. E a
análise de LaRondelle é, de fato, impecável e bastante fiel em seu tratamento
dos textos. Embora bastante simples, fugindo de termos técnicos, consegue uma
ampla cobertura de temas correlacionados, trabalhando de forma sistemática,
construindo tijolo a tijolo um edifício de grande envergadura. Em acréscimos à
análise bíblica propriamente dita, as obras de Ellen G. White são citadas,
reforçando as conclusões extraídas dos textos bíblicos. Alguns outros poucos autores
evangélicos são citados, sendo o principal George Ladd, em sua magistral obra
Teologia do Novo Testamento, mencionada ao longo de todo o livro.
Por se tratar de uma edição mais antiga, o livro
não preza pela diagramação ou pelo formato. O sistema de notas de rodapé ou
notas finais também dariam um aspecto visual melhor do que as referências inseridas
(de modo bastante abreviado e incompleto) ao longo do texto. Não sei se há uma
edição mais recente desse material, mas seria bom vê-lo com um acabamento mais
apropriado. Tirando as limitações da edição, trata-se de um clássico em versão banzai (para ser justo, devo destacar
que são limitações que levam em conta critérios atuais, os quais não contavam
na época em que o material foi escrito).
O livro está dividido em três partes, as quais
enfocam as etapas da salvação: justificação, santificação, glorificação. Logo
na introdução, o autor parte do pressuposto de que há (e sempre houve, como
parece ainda haver) muita incompreensão sobre o tema da salvação. Principalmente,
quando nos perguntamos sobre o que temos de fazer para ser salvos.
Entretanto, LaRondelle esclarece que o Novo
Testamento (doravante, NT) ensina que a salvação está vinculada, acima de tudo,
a uma pessoa: Jesus Cristo. Embora o pecado seja algo complexo demais para ser
perdoado automaticamente (p. 18), Deus nos reconciliou consigo por meio da
morte substitutiva de Jesus (p. 22). Foi dEle a iniciativa (p. 22-23). Deus
revelou Seu plano por meio do santuário terrestre (p.24), ensinando que a culpa
de todo pecado deveria ser transferida (p. 27). Mas a salvação não estava
completa sem a expiação final. Como diz Paulo em Hebreus (2:17), Jesus ainda
faz expiação por nós, o que significa que Seu ministério no santuário é a
continuação do processo de salvação, o qual não se resume à cruz (p.34).
No segundo capítulo, o enfoque recai sobre
justificação. Há muito de impactante
nesse capítulo: “Seus méritos [de Cristo] não complementam nossos méritos, mas
são nossos únicos méritos diante de
Deus.” (p.43). A justificação ocorre quando aceitamos a Cristo, sem depender de
nossa obediência. Aliás, aproveita-se para se desfazer uma confusão: quando
Paulo não contrasta a lei com o evangelho (como muitos evangélicos supõem), mas
dois modelos de justificação: um pela lei (como muitos judeus de seu tempo) e
outro, pela fé (p. 48). A própria ideia de que o Antigo Testamento (doravante
AT) ensine uma maneira de se salvar diferente do NT é estranha à própria Bíblia.
Afinal, o legalismo não era consequência da religião do AT, mas sua distorção
(p. 49). O próprio serviço do santuário ensinava justificação constantemente
(p. 50).
No terceiro capítulo, a santificação (vida
vitoriosa em Cristo) é mostrada como alvo positivo da salvação (p.61); afinal, “Cristo
não nos redimiu meramente do pecado, Ele
nos redimiu para Deus!” (p. 54). LaRondelle explora de forma mais detida o
texto de Romanos (6:1-11) apontando o significado do batismo, não como morte da
pessoa batizada, mas para que ela receba a morte de Cristo em sua vida (p.62).
O batismo seria o grade argumento de Paulo para defende a vida santificada
(idem). Em alusão a isso, o autor ressalta que a crucifixão não era morte
instantânea; igualmente, crucificar nosso eu não significa que todos os
impulsos naturais sumirão expontaneamente, mas faz parte daqueles que foram
redimidos alcançar essa mortificação diária do eu (Cl 3:1, 3, 5, 9-10; 1 Co
6:19-20), o que faz parte do processo de salvação (p. 63-64). Deus escolheu
Israel para Lhe pertencer e ser santo (p. 69). Há um motivo escatológico para
perseguirmos esse ideal de santidade: os cristãos que não “perseverarem até o
fim” não escaparão do julgamento final (p. 76).
O último capítulo versa sobre glorificação, o
momento quando o processo de salvação se completa na volta de Jesus. Para o apóstolo
Paulo, “o caráter e a vida cristã são essenciais para a futura glorificação.”
(p.81). Em sentido real, nós não apenas esperamos a glória para o futuro, mas já
usufruímos dela aqui mesmo (p. 82). As promessas de Deus não falharão com
aqueles que desde agora vivem em aliança com Ele, procurando manter-se em
santidade pela fé em Cristo, o Salvador (p. 90).
As reflexões de LaRondelle nos fazem meditar
sobre o plano completo e belo que Deus elaborou para nossa salvação. Ao mesmo
tempo, somos incitados a tomar parte ativa da salvação. Por último, vale
destacar que o autor nos mostra que, apesar de a salvação constituir-se um
processo, não precisamos chegar ao fim para descobrir qual será o resultado: a
vitória está assegurado aqueles que respondem ao convite do Salvador pela fé.
Além de ser um material de forte cunho
espiritual, que serve para reforçar a fé e levar a meditar no amor salvador de
Cristo, o livro é um excelente exemplo de que teologia de boa qualidade não
precisa ser inacessível e hermética. Por todos esses fatores, a obra ainda continua
essencial, mesmo passados mais de trinta anos que foi escrita. Altamente recomendável
para todos, desde cristãos recém-conversos, a pessoas que tem uma fé mais
madura.
Um comentário:
Tenho lido alguns livros do Hans sobre o Apocalipse, e tenho me impressionado com este autor, ele faz relações excelentes entre os textos da bíblia, e o foco é sempre Jesus. Poderíamos ter mais obras dele traduzidas pela CPB.
Este livro mencionado com certeza deve ser uma benção. Obrigado pela dica.
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