segunda-feira, 14 de maio de 2007

UMA ESCOLHA E SUAS RAZÕES



Enquanto você é conduzido a seu posto, os gritos, assobios e aplausos desencadeiam a liberação de sua adrenalina. Suas pernas não ostentam muita firmeza. Mãos e braços parecem tão fora de local que melhor seria não tê-los. Basta, porém, olhar a figura carismática, trajada com um terno sofisticado, para que você se acomode no ambiente.
O apresentador desfere um sorriso macio. Você se contém, o corpo agora empertigado, encarando a plateia. “É melhor sorrir”, você pensa, “Por que estou diante das Câmeras”. “Bem, vamos à nossa pergunta”, diz o seu interlocutor com uma ousadia polida.
É hora de se concentrar; o programa oferece um valor mirabolante, e algo lhe diz que esta é a sua oportunidade. “Muita atenção: eu vou dar as características de uma pessoa que marcou a História. E você terá que me dizer sobre quem eu falei. Está preparado? Escute com atenção: 
 “O seu pai era um carpinteiro”. Prossegue a voz levemente anasalada. “Essa pessoa não nasceu como fruto natural do relacionamento de seus pais; Apesar de fazer sucesso com seus sermões, dizia não desejar o poder do mundo. Ela procurou instituir a ordem mundial vivendo entre religiosos hipócritas, e se apresentava como juiz de toda a terra”. “Valendo o grande prêmio da noite, responda agora quem é esta pessoa?”
O cronômetro passa a regredir. O auditório suspenso. Você sorri triunfante, certo de que a pergunta está muito fácil. Nesse ponto, sua mão aperta o botão do painel à frente e você diz convicto “Jesus Cristo”. O apresentador mantém o suspense e anuncia que a sua resposta está e… e… errada!!
A personagem é o frade Hildebrando!

NÃO MAIS DO QUE COINCIDÊNCIAS

Surpreso com o que leu acima? Alguns fatos sobre a vida do frade Hildebrando: seu pai realmente era um carpinteiro chamado Banizon. Como ele pôde não ter nascido do relacionamento natural de seus pais? Em verdade, sua mãe adulterou – os historiadores creem que Hildebrando fosse de fato filho de seu tio materno, o abade do convento de Nossa Senhora Aventino.
Concluídos os estudos, Hildebrando fez-se presente na corte do imperador Henrique, o Negro; alcançando grande sucesso com os seus sermões nesta ocasião, foi designado para realizar uma reforma no mosteiro de São Paulo, em cuja direção proibiu a presença feminina (razão de alguns escândalos).
Porém, uma das mais belas serviçais foi apanhada em constrangedora situação justamente...com Hildebrando!
Acima de tudo, a fantástica biografia de Hildebrando revela o seu desejo pelo poder, que até mesmo o levou a envenenar outros oito papas. Chegaria o momento de ver sua empreitada trazer-lhe o êxito: dado o falecimento do papa Alexandre II, os cardeais reuniram-se na Basílica de São Pedro, buscando eleger um nome para ocupar o trono pontifício.
Nas ruas, alguns padres se puseram no meio da multidão passando a gritar por Hildebrando, e o povo não tardou a repetir a aclamação. Um tal fenômeno de massa levou à eleição de Hildebrando, que sendo arqui-diácono já atuara como legado papal.
Assumindo a cadeira de São Pedro, o frade Hildebrando, aliás, agora Gregório VII, aos sessenta anos, trabalhou durante o seu pontificado (1073-1085) para estabelecer seu domínio temporal. Para ele, ser representante de Deus sobre a Terra significava governar o mundo. Em virtude de sua gestão agressiva, a Gregório VII se deve a responsabilidade por inúmeras guerras e mortes. Um exemplo para o que afirmamos temos na famosa Querela das Investiduras.
Gregório reclamou exclusivamente para si a autoridade de nomear bispos, entrando em choque com o imperador germânico Henrique IV. Os revezes se sucederam de ambos os lados. O monarca chegou mesmo a ser forçado a viver por certo período uma vida simples, abrindo mão de suas regalias e posição de comando.
Temendo o pior, o rei não esperou para se encontrar com o papa no concílio - dirigiu-se à Roma. Após algumas negociações (envolvendo ouro), Gregório recebe e absolve Henrique, que por três dias em jejum suportou os rigores do inverno vestido de maneira reles, descalço, enquanto esperava pela audiência à porta do castelo de Canossa!
Em outra atitude polêmica, durante um concílio, Hildebrando afirmou preferir padres devassos, sodomitas (homossexuais) e até incestuosos a aqueles que se casavam!
Creio que já é o momento de pararmos e refletirmos: um rápido olhar sobre as vidas de Nosso Salvador Jesus Cristo e a do frade Hildebrando, que assumiu o pontificado como Gregório VII, pode revelar algumas coincidências. E elas não passam disto: são meras coincidências. Analisadas ambas as vidas a fundo, encontramos dois homens de princípios diferentes. Neles, a maior distinção estava na essência da personalidade: o caráter.
Mas, o que aprofundou o abismo da distância entre eles?

Muitas seriam as razões apontadas, principalmente se entendermos a pessoa de Jesus como a Bíblia a apresenta (um ser divino preexistente e com a mesma natureza que o Pai)! Mas é marcante como se nota um intransponível contraste desde o tipo de lar que tiveram Nosso Senhor e aquele religioso com foros de estadista: enquanto Gregório era filho de uma mulher adúltera, Jesus tinha por mãe uma mulher purificada pela graça de Deus.

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