Pai!
(o ar da montanha, castigo para brônquios tão velhos!, agora fingir prazer
costumeiro é ainda mais asfixiante, olhar aqueles olhos inocentemente
surrupiados de sua mocidade, uma mocidade que ele próprio esperou viver para
ser testemunha… Deus, por quê? Teria amado inconscientemente em demasia o seu
mais vigoroso galardão? Esquecera-se do Doador, por isto era provado, numa
idade tão decrépita?).
Pai!
(que direi para ele, sobre um cordeiro que não existe, que não foi trazido
junto como das vezes anteriores? Com que sentimento meu filho absorverá a
notícia, de que o cordeiro não é outro, senão ele?!)
–
Não compreendi, meu pai; o senhor me afirma que o Deus, de cujos ensinos tenho
ouvido desde o colo, um Deus de amor, pede a mim por sacrifício?! Serei eu,
pai, a oferta a ser imolada? Eu, o cordeiro agradável a Jeová? Serei eu? Que
posso dizer, além de aceitar o que o Deus Eterno ordenou a ti, como hoje me
falas?
O
vento declinava, sem satisfação, numa ocasião de ocaso escasso. As cores
sangravam timidamente, num crepúsculo que ameaçava chorar. Abraão, barba ao
vento, desferia o golpe no ar, como num ensaio desmaiado. Oscilava ou a idade o
fazia tremer?
–
Abraão, já basta, porque sei que você me ama. Detenha o cutelo, porque me
amaste a ponto de entregar teu filho, o teu único.
A
palidez nos lábios vociferando contra. Apinhadas. As ruas, todas manchadas pelo
tecido revolto de corpos agitados. Ao final de uma rua estreita, patíbulos
alçados, homens expostos. Os arquejos, a asfixia, o sangue, os insetos, os
motejos que a populaça dirige. A cruz dói.
Não
existe outro. Só um Cordeiro. Um que deve morrer. Um que substituirá a
humanidade. Seu Pai chora ao Lhe desferir o golpe em lugar de no pecador. Ele é
o coração da oferta. A vida está em Seu corpo encharcado das texturas da
sepultura. Uma oferta sem limites quanto à exuberância do amor!…
Um comentário:
Simplesmente lindo e incomparável o amor de Deus para conosco!
Postar um comentário