Durante a Idade Média, a Igreja Católica causou uma cisão social, inventando o conceito de leigo. A acepção corrente da palavra, mesmo para o mundo secular, ainda traduz ideias como inaptidão, inexperiência e inépcia. No contexto eclesiástico, o leigo se opunha diametralmente ao clero, esse sim, constituído por cristãos de primeira classe.
Durante a Reforma Protestante, o paradigma mudou. Surgiu o ideal da vocação, que valorizava todos os cristãos, defendendo que cada qual possuía um chamado de Deus. Todas as ocupações – do latoeiro ao pintor de afrescos, do leiteiro ao rei, do comerciante ao clérigo – eram honradas por Deus e, por sua vez, todos podiam honrá-Lo através de suas vocações.
Entretanto, a visão católica persevera em propor a falsa dicotomia entre vocações espirituais e ocupações seculares. Durante um convite para que os fiéis se fixassem no “Sagrado coração de Jesus”, o papa Bento XVI ponderou que “‘um jovem ou uma moça que deixa sua família de origem, os estudos ou o trabalho para se consagrar a Deus’ é ‘um exemplo vivo de resposta radical à vocação divina”’. Mas quem disse que não podemos servir a Deus por meio de nossos estudos e trabalhos? O que, afinal, Bento XVI propõe – uma volta ao monasticismo infrutífero e mendicante?
É inacreditável como essa visão sagrado X secular afeta muitos cristãos, inclusive não-católicos. Encontrei há algum tempo uma mulher que se lamentava por não assumir cargos na igreja, por causa dos filhos pequenos. Há aqueles que se sentem infelizes devido ao trabalho, porque queriam se envolver mais com as coisas espirituais. Mas, em todos esses casos, falta a percepção de que servimos a Deus em diversas áreas, glorificando a Ele através de nossas ocupações. Se somos pessoas espirituais, faremos de nosso trabalho algo realizado dentro de uma perspectiva que promova o reino de Deus.
Três anos antes de falecer, Ellen White escreveu: “Cristianismo e negócios, corretamente compreendidos, não são duas coisas separadas; precisam ser uma coisa só. A religião da Bíblia deve ser levada a tudo o que fazemos e dizemos. Os agentes humanos e divinos… devem estar unidos em todas as realizações humanas, em trabalhos mecânicos e agrícolas, em empreendimentos mercantis e científicos.” [2] Tal compreensão marcou o século seguinte à Reforma e pode orientar os cristãos a fazerem a diferença quatro séculos depois.
Leia também:
[1] Deus preenche plenamente o coração humano, disponível em http://zenit.org/article-25346?l=portuguese .
[2] Ellen White, A dignidade do trabalho, em artigo publicado na Advent Review and Sabbath Herald, em 3 de Outubro de 1912, citado na Lição da escola Sabatina, Jul-Set. de 2004, Lição de adultos, p. 68.
[2] Ellen White, A dignidade do trabalho, em artigo publicado na Advent Review and Sabbath Herald, em 3 de Outubro de 1912, citado na Lição da escola Sabatina, Jul-Set. de 2004, Lição de adultos, p. 68.
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