segunda-feira, 9 de agosto de 2010

DESCRENÇA E FÉ NA FLIP: DOIS LADOS DA MESMA MOEDA

Um dia do ateu, outro dos defensores da religião. Talvez classificar Terry Eagleton como um escritor que defende o Cristianismo seja precipitado. Convidado pela Feira Literária de Parati (FLIP) deste ano, Eagleton parece mais disposto a argumentar sobre a necessidade da religião em termo de contribuições humanitárias. Entrementes, o escritor, que é professor de Literatura Inglesa em University of Lancaster, não crê que Jesus tenha nascido de uma virgem ou mesmo que Ele andou sobre as águas.

Logo, não me parece que seus pressupostos difiram muito dos de Richard Dawkins, o biólogo ateu convidado pela FLIP do ano passado. Em entrevistas, Dawkins exaltou a Bíblia como literatur e admitiu sua contribuição para as grandes obras de arte (e ele próprio admira Bach e alguns poetas). Evidentemente, Dawkins não vê que algo bonito ou inspirador seja necessariamente verdadeiro, e nesse ponto sua lógica é exímia.

Entretanto, o autor de Deus: um delírio derrapa quando atribui a motivação religiosa da música de Bach ao mecenato – o compositor era luterano e, como muitos artistas de sua época, foi fortemente impressionado pela ideologia da Reforma. Isso apenas ilustra como Dawkins minimiza as contribuições cristãs.

Como se vê, a intersecção entre Eagleton e Dawkins está no paradigma de que o melhor da religião está em cabedal moral, em seu consolo, em sua beleza mísitica e numiosa. Ambos ignoram, porém, as evidências em favor da fé cristã, que se fez dependende de acontecimentos historicamente verificáveis para se estabelecer.

Penso que a culpa nem seja dos convidados da FLIP: a responsabilidade cabe aos cristãos, que permitiram que o Cristianismo fosse “civilizado” e embalado para consumo. A fé tornou-se um artigo menor, reduzida a alguns de seus benefícios, enquanto seus alicerces foram erradicados. Falta quem a ponha em seu lugar: uma visão poderosa para explicar o mundo e seus dilemas.

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