
Logo, não me parece que seus pressupostos difiram muito dos de Richard Dawkins, o biólogo ateu convidado pela FLIP do ano passado. Em entrevistas, Dawkins exaltou a Bíblia como literatur e admitiu sua contribuição para as grandes obras de arte (e ele próprio admira Bach e alguns poetas). Evidentemente, Dawkins não vê que algo bonito ou inspirador seja necessariamente verdadeiro, e nesse ponto sua lógica é exímia.
Entretanto, o autor de Deus: um delírio derrapa quando atribui a motivação religiosa da música de Bach ao mecenato – o compositor era luterano e, como muitos artistas de sua época, foi fortemente impressionado pela ideologia da Reforma. Isso apenas ilustra como Dawkins minimiza as contribuições cristãs.
Como se vê, a intersecção entre Eagleton e Dawkins está no paradigma de que o melhor da religião está em cabedal moral, em seu consolo, em sua beleza mísitica e numiosa. Ambos ignoram, porém, as evidências em favor da fé cristã, que se fez dependende de acontecimentos historicamente verificáveis para se estabelecer.
Penso que a culpa nem seja dos convidados da FLIP: a responsabilidade cabe aos cristãos, que permitiram que o Cristianismo fosse “civilizado” e embalado para consumo. A fé tornou-se um artigo menor, reduzida a alguns de seus benefícios, enquanto seus alicerces foram erradicados. Falta quem a ponha em seu lugar: uma visão poderosa para explicar o mundo e seus dilemas.
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