Muçulmanos e cristãos egípcios rezaram juntos neste domingo (6) na emblemática Praça Tahrir, no centro do Cairo. O local virou a fortaleza dos manifestantes que, durante 13 dias, exigiram a renúncia imediata do contestado presidente Hosni Mubarak.
Os muçulmanos realizaram primeiro sua prece diária do meio-dia, ajoelharam-se em direção a Meca, numa praça onde se produziu uma batalha campal na quarta-feira passada, quando milhares de partidários do presidente entraram em Tahrir para desalojar os opositores.
Depois, um grupo evangélico entoou duas canções, uma delas pedindo a paz, enquanto milhares de pessoas agitavam a bandeira egípcia fazendo um V da vitória com as mãos. Em seguida, um religioso cristão, Ihab Jarrat, leu através de alto falantes alguns salmos, concluídos com um "amém" geral.
Egípcio ora prostrado sobre bandeira do país na Praça Tahrir, neste domingo (6); em seus óculos escuros, o crescente, símbolo do Islã, e a cruz, símbolo do cristianismo. Milhares de manifestantes aproveitaram a oportunidade para lançar a mensagem de que as duas religiões estavam unidas contra Mubarak.
"Os muçulmanos e os cristãos do Egito, a Crescente Vermelha e a Cruz, dizem vá embora, presidente", declarou Jarrat, filho do escritor egípcio Edward Jarrat.
Imediatamente, a multidão entoou o lema habitual: "Mubarak, vá agora".
Os cristãos representam entre 6 e 10% dos 80 milhões de egípcios. A maioria é formada por coptas ortodoxos, cujo patriarca Shenuda III pediu aos fiéis que não participassem das manifestações. Os protestos já deixaram mais de 300 mortos desde 25 de janeiro, segundo as Nações Unidas.
Nota: Mubarak, o teimoso da vez, tem a seu favor o alto índice de influência ecumênica: conseguiu unir cristãos e muçulmanos, feito que fóruns, ativistas e anos de diálogo interreligioso não lograram atingir! Analisando o ocorrido, parece-me justo que cristãos cooperem com adeptos de outras religiões a fim de promover paz, justiça e o bem-estar comunitário, desde que tenham a liberdade de manter íntegras suas perspectivas peculiares sobre o assunto em pauta. Isso não envolve perda de identidade (posta em risco pela faceta mais radical do ecumenismo), mas empatia diante de necessidades comuns. E a crise no Egito, sem dúvida, tornou-se involuntariamente o exemplo de uma sitz in lieben que exige um ethos cooperativo da parte dos cristãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário