domingo, 5 de dezembro de 2010

SERIA CORRETA A NOÇÃO PÓS-MODERNA DE TOLERÂNCIA?

Afirmar ser a estrutura da verdade exclusiva é visto como algo intolerante por muitas pessoas. Arrogância e denegrimento de outras crenças são também constantemente interpretadas como expressões de intolerância. …

A chave para o problema com a objeção ao proselitismo é que ela repousa em alguns falsos-conceitos sobre a natureza da tolerância. Um olhar pela história da noção de tolerância ilustra o problema. A promoção de tolerância como uma virtude é a de origem relativamente recente. Tolerância não é identificada como virtude por Aristóteles, ou pelos estoicos, ou por São Tomás de Aquino. De fato, antes do Iluminismo, tolerância era vista como fraqueza, ou como expressão de covardia, ou seja, uma falta de comprometimento para com uma crença professada. Hoje isto é visto como uma virtude. A mudança na avaliação poderia no mínimo nos levar a questionar nossas atitudes contemporâneas para com a tolerância.


Elmer John Thiessen, The Ethics of Evangelism:A Philosophical Defense of Proselytizing and Persuasion (Downers Grove, Ill: Intervarsity Press, 2011). Enxerto do capítulo 5, disponível no site da editora.

21 comentários:

Rodrigo disse...

defina tolerância.

douglas reis disse...

Excelente e oportuna pergunta!

Tolerância é convivência e diálogo.

No aspecto da convivência, traduz-se na liberdade que dou ao outro de ele crer em algo que considero equivocado e cobro a mesma liberdade dos que de mim discordam.

Quanto à esfera do diálogo, dentro de uma estrutura lógica, convido outros a verificar as minhas crenças e as suas próprias, enquanto faço o mesmo, em busca do que corresponde à Verdade.

Logo, tolerância não exclui a crítica respeitosa de um sistema de crenças, valores e ideologias. Se excluísse, nivelaríamos todas as crenças (pressuposto pós-moderno), estabelecendo o relativismo.

E para você, o que é tolerância?

Rodrigo disse...

concordo plenamente com a sua definição. o problema, de fato, não é a tolerância em si.
as vezes tolerância pode ser mal-interpretado como aceitar tudo. por definição, justamente não é isso. tolerar quer dizer conviver com algo apesar de não concordar.
podemos nos perguntar o que é conviver, ou conviver respeitosamente.
creio que isso quer dizer que posso conviver ou aceitar sem concordar, até porque, de fato, não tenho alternativa. não tenho o poder de mudar o outro, e Deus não quer que eu tenha esse poder, já que nem Ele o usa.
um dos princípios fundamentais de Deus, expresso em sua carta de amor a nós (a Sua Palavra), é a liberdade. ainda antes do amor, de certa forma, porque o amor verdadeiro só pode existir em liberdade; é nesta verdade que se baseia todo o grande conflito.
portanto, Deus tolera, sim. mas quando chega-se a um limite de tolerância (pela bíblia este limite parece ter aspectos sociais), Ele trás o julgamento.
o julgamente pertence a Ele (como o antigo e o novo testamento deixam claro), portanto eu diria que a tolerância é uma virtude, sim. aceitar, sim. concordar, não.
é mais dificil fazer a diferença entre "amar o pecador" e "odiar o pecado" do que a gente as vezes pensa. a bíblia nos adverte para focar no amor ao pecador, e deixar o odiar o pecado mais nas mãos de Deus, que não sofre de erros e julgamento e não mistura pessoas com ações.
Jesus Cristo mesmo, quando viveu fisicamente entre nós, se mostrou amoroso, e a transformação das pessoas vinha motivado pelo amor, e menos pela advertência. Jesus se mostrou aparentemente intolerante apenas com aqueles que eram intolerantes, os fariseus. exemplo perfeito disso é a oração do fariseu e a oração do pecador.
a transformação real e o amor real se baseam na liberdade real. e para ela ser real, a tolerância é um fator importante.

Rodrigo disse...

quanto a uma verdade superior a esta, não há dúvidas de que esta verdade exista.
mas também não há dúvidas que só Deus a tem por completo, e que a nossa ação cristã ou missionária nunca deve se basear na suposta superioridade da nossa verdade em relação a outras. isso coloca uma pressão muito grande sobre a nossa teologia e a nossa pratica, uma pressão que dificilmente podemos aguentar.
mais saudável é buscar uma missão mais orientada em buscar o que temos o que buscamos em comum com as outras pessoas, e que as verdades sejam reveladas num processo natural de curiosidade e amor.
eu nunca diria que a teologia adventista é superior a outras, porque corro o perigo de achar que ela é mais completa do que é; a teologia não salvará a humanidade, de qq forma.

douglas reis disse...

Rodrigo,

concordo com muito do que você afirmou. Se a verdade bíblica nos torna arrogantes, isso é uma pedra de tropeço - até para a nossa própria salvação!

Ao mesmo tempo,os profetas, Jesus e Paulo (para ficar em alguns exemplos) eram exclusivistas. Isso no sentido de que defendiam que apenas um sistema era correto (Veja Jo 14:6, por exemplo).


Os adventistas sempre defenderam o conceito de verdade presente. Somos depositários de uma verdade que ninguém mais tem, o que nós torna servos de outros. Temos um dever.

Vejo perigo quando você afirma que não podemos julgar nossa teologia superior a outras. Quer dizer que temos tantos motivos em guardar o sábado quanto alguém teria para guardar o domingo? É tão certo comer carne de porco quanto não comer? Será que nivelar as propostas teológicas não nos devolve ao beco sem saída do relativismo?

Rodrigo disse...

pastor,
estou contigo no que diz respeito a nao nivelar; como eu disse, existe sim uma verdade verdadeira, mas precisamos, sim, tolerar as outras e tentar até ver o lado delas; isso só pode causar crescimento, e o medo sempre é ruim nestas horas.
não é coincidencia que vc citou o sábado e a carne de porco. primeiro, precisamos deixar claro que nenhum destes dois pontos é ponto de salvação, que é presente dado por Jesus a todo aquele que confiar nEle.
o sábado é importante, sem dúvidas. mas precisamos admitir que tem coisas que a gente acredita, como adventistas, que não são tão 100% quanto queríamos. a interpretação nossa do apocalipse, e a importância que damos ao sábado neste livro, é justamente isso: uma interpretação. assumir que ela seja a ÚNICA é um perigo, mas isso já foge ao assunto, já que aqui nao se fala de tolerância, aqui o assunto é de exclusividade.
acho que como dventistas, estamos sempre em busca da melhor interpretação possivel, e mudanças em relação a que tradicionalmente acreditamos não precisam ser ruins. pior seria não questionar a nossa interpretação tradicional em nada. nesta luz, a troca de idéias com outros e outras interpretações pode ser muito benéfica para nós, ou nos reafirmando naquilo que acreditamos, ou levando-nos a questionar uma ou outra coisa.
a questão da carne de porco, por exemplo, não é tão fácil assim de explicar puramente pela biblia. nunca comi e provavelmente nunca comerei carne de porco, mas creio que quem come não está em "desvantageem" espiritual.

douglas reis disse...

Rodrigo,

então, para eu entender você, quero fazer algumas perguntas; não quero ofendê-lo, mas apenas entendê-lo, certo?

1) Você acha que nossa interpretação do Apocalipse, para ficar no exemplo que você citou, pode mudar completamente? Como isso afetaria a compreensão tradicional de que portamos a verdade presente?

2) Volto ao exemplo do domingo (vamos expandi1-lo, oK?): se um adventista fervoroso guarda o sábado até se perceber em dificuldades financeiras; e se ele resolve guardar o domingo, mas continua ávido leitor da Bíblia, dedicado à oração intercessória e frequente em alguma igreja, isso afetaria a sua salvação?

3)Se todas as doutrinas distintivas não podem ser 100% comprovadas, então como entender a justificação pela fé (que também é uma doutrina)? Um católico, que acredita em justificação pela fé e pelas obras (diferente de nós), não poderia alegar o mesmo que você, ou seja, que não importa a ênfase sobre a justificação (se pela fé somente ou se pela fé com as obras), o importante é que se creia?

Espero suas respostas...

Rodrigo disse...

oi pastor,
vou responder a sua primeira pergunta agora e as outras, mais tarde (por falta de tempo).
a nossa interpretação do apocalipse, ou/e o nosso papel nele, parte da idéia de que os adventistas do sétimo dia são os "remanescentes" mencionados algumas vezes no texto. portanto, o "guardar os mandamentos", sob este ponto de vista, é enfatizado no quarto mandamento do decálogo; nesta linha de interpretação, o sábado ganha uma valorização enorme, virando até símbolo da salvação (muitos adventistas interpretam o sinal da besta como o domingo, portanto o sinal dos salvos seria o sábado). o meu ponto é que este ponto de vista não precisa necessariamente ser o ponto e vista certo.
quando se pesquisa o uso a palavra grega usada para "remanescentes" no próprio novo testamento, outras interpretações são possíveis.
podemos entrar em mais detalhes, se quiser, mas os resultados de algumas mudanças de interpretação seriam:
1) nós não somos o povo exclusivo chamado remanescentes; antes portamos características deste grupo e queremos fazer parte do mesmo na última geração antes a volta de Jesus.
2) o sábado não é o mandamento decisivo para a salvação, é apenas um entre muitos, que podem ser resumidos com o amor a Deus (e, com isso, o devido respeito e adoração a Ele) e o amor ao próximo, expressão do amor a este Deus. acho que a igreja encararia o sábado com mais prazer e de forma consciente em busca de um contato especial com o Criador, em vez de vê-lo (incoscientemente) como a base da salvação, que ele certamente não é.
3) buscaremos talvez mais diálogo com outros pontos de vista, o que, repito, só pode enriquecer nosso entendimento e nossa teologia. o medo de sermos influenciados é supervalorizado; creio que quando paulo se refere ao corpo, ele nao se refere a nossa igreja, e sim a todos que confessam verdadeiramente seguir a Jesus. somos parte deste corpo, e como na analogia de paulo, com certeza temos um papel diferenciado - mas, de certa forma, as outras denominações podem tambem ter.
4) há uma idéia bem enraizada na nossa cultura religiosa de que a igreja adventista é a melhor das igrejas, do mundo. sair um pouco dessa visão acho que pode melhorar a vida espiritual dos seus membros (o perigo do farisaismo).
5) nós precisamos ser conhecidos como um povo que ama a Deus e faz todo o resto a partir deste princípio. a compreensão de Deus é bem importante neste quesito, e o plano de salvação é prova máxima de que para o nosso Criador, a nossa liberdade é o maior bem, ainda antes do amor.
precisamos mudar a imagem e igreja que guarda o sábado e que não come carne de porco (embora eu concorde plenamente com as duas coisas, na minha vida); isto era útil quando a maior parte do mundo ocidental era crente, e precisávamos diferenciar (e estes eram alguns dos nossos diferenciais). agora, precisamos voltar um pouco às raizes do cristianismo.

douglas reis disse...

Bem Rodrigo,

eu poderia esperar sua resposta às outras questões antes de comentar, mas acho que será mais prático falar agora (mas continuo aguardando suas outras respostas; tempo não é problema!).

Sendo sincero, o que você chamou de interpretação não é exatamente um novo entendimento - simplesmente, uma mudança de ênfase. Existem diferenças entre a cultura adventista comum e as declarações oficiais da IASD.

De fato, a igreja, ao assumir seu papel de remanescente, não afirma ser exclusivamente o corpo de Cristo, nem o único grupo cristão. Entendemos ainda que outras denominações podem contribuir com a pregação do evangelho, embora apenas nós tenhamos uma mensagem distintiva, a tal da "Verdade presente".

Os ads sempre entenderam que são a igreja visível, mas não o grupo de salvos que Jesusbuscará. Somos a igreja militante, mas de nossa pregação surgem os 144 mil (Ap 14 - compare o começo do capítulo, onde os 144 mil são apresentados já resgatados e depois, num típico background apocalíptico, as 3mensagens são introduzidas, como o fator que deu origem ao grupo de salvos).

Dito tudo isso, o que você propôs não constitui uma mudança radical do Apocalipse. Reformulo, então, a pergunta: se nossa interpretação não é definitiva, uma outra explicação poderia suplantá-la futuramente? Será que podemos descobrir no futuro que a besta não se refere ao sistema papal ou o selo de Deus não tem qualquer relação com a guarda do sábado?

Rodrigo disse...

pastor, vou responder primeiro a sua primeira pergunta.
ao meu ver, as mudanças possíveis não são tão drásticas, mas creio que há divergências. quero deixar claro que o que vou citar agora não é necessariamente a minha opinião formada, só gostaria de saber que estamos, como igreja, abertos a interpretações que fogem a tradicional interpretação.
a nossa interpretação dá uma ênfase especial ao sábado (que é o que a gente realmente lê quando o apocalipse fala em "guardar os mandamentos") e ao conceito de "remanescente". tanto que interpretamos a primeira mensagem angélica como mais um argumento pró-sábado, atraves de sua ligação com a criação. e, afinal, chegamos a interpretar o domingo como sinal a besta, fazendo do sábado, consciente ou não, um símbolo de salvação.
creio que há, no mínimo, duas outras maneiras de interpretar a palavra ou o conceito dos "mandamentos". uma é no paralelismo encontrado no próprio livro de apocalipse, onde "Palavra" e "mandamentos" são praticamente equivalentes (um dos versos de referência seria encontrado logo na introdução de apocalipse), e joão usa a palavra "Palavra" no contexto de sua "Revelação", quer dizer, ele se refer ao próprio livro de apocalipse. neste contexto, guardar a palavra pode se referir também a guardar e estudar o próprio livro de apocalipse. claro que a interpretação de que "Palavra" e "mandamentos" se refiram a bíblia, e até ao decálogo; mas daí dar papel superior ao sábado em comparação aos outros mandamentos ou aos dois grandes mandamentos é realmente uma questão interpretativa nossa, que não precisa ser a verdade absoluta ou nem a mais importante dos textos.
igualmente, o conceito de remanescentes que temos pode ser também revisto. a palavra usada no original grego é encontrada muitas vezes no novo testamento, e em geral serve para fins de contraste (uns... e "outros"). no contexto de apocalipse, a interpretação que os remanescentes são os outros filhos da mulher pelo menos não me parece absurda.

Rodrigo disse...

as consequencias de uma ou outra mudança na nossa visão tradicional seria as seguintes, ao meu ver:
1) está na hora da nossa igreja não mais ser identificada como aquela uqe guarda o sábado e não come carne de porco. de forma alguma estou dizendo que estas coisas não são boas, mas ser conhecido por elas não é bom. quando a nossa igreja foi fundada, a maior parte do mundo ocidental era cristã e era natural se identificar pela diferença. hoje, num mundo onde o secularismo e ateismo crescem, talvez a nossa imagem precise mudar também.
2) o sábado tem sido visto, mesmo se não explícito, como questão de salvação. isso vem direto da nossa interpretação do apocalipse e o sinal da besta. creio que o sábado aponta para o Criador e é feito para o homem, mas a tendência que e observa num ambiente onde o sábado é supervalorizado é que as pessoas percam o real sentido dele. precisamos resgatar, como igreja, a preciosidade deste dia, e pra mim faz parte nesse processo não elevá-lo acima dos mandamentos para quem ele dá a base, o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo. Jesus nunca falou do sábado. isso não quer dizer que ele não existe ou não deve mais ser guardado, mas dá uma idéia sobre aquilo que é mais importante e, quem sabe, menos.
3) a maneiro que vemos o mundo cristão é afetada diretamente pela nossa interpretação do apocalipse. está no nosso dna sermos A igreja remanscente, e não parte dela; portanto, consideramos que temos uma teologia superior, e, de fato, uma igreja superior aos outros. muitos ainda consideram que as outras igrejas cristãs estão perdidas. tanto que para nós é natural interpretar "o corpo de cristo" como descrito por paulo como a nossa igreja; eu creio que o corpo seja feito por todo cristão sincero em qualquer igreja, e que a nossa igreja tem um papel especial a desempenhar nela; mas que outras igrejas também tem. portanto, o diálogo seria positivo para todos os lados; não precisamos temer o diálogo, acho que ele só pode acrescentar.
4) a liberdade é o bem supremo deste universo, acima ainda do amor. o plamo de salvação é prova disso: pra que elaborar plano tão dificil e belo se não para preservar a possibilidade de um amor livre ao salvador? para tal, a busca por Deus pode e precisa ser guiado, mas as pessoas precisam ser livres nesta busca, também. se o relacionamento é individual, a busca também tem pelo menos parte deste aspecto. acho perigoso uma denominação que diz "é assim, e não pode ser diferente", até porque ela tira a necessidade da busca individual.
bem, antes de responder a outras, aguardo a sua resposta, pastor.
abraço.

Rodrigo disse...

repeti a resposta a primeira pergunta pq achei que tinha sido perdida por alta de espaço.
foi mal.
depois vou a segunda e terceira perguntas, mas concordo que não haveria uma mudança radical, apenas nuances.
e sei que a igreja não afirma ser exclusivista, oficialmente, mas de onde vem a idéia cultural de que é assim?

Rodrigo disse...

quanto a sua segunda pergunta.
o adventista fazendo isso, mudando de dia de guarda para garantir sua sobrevivência financeira, ele estaria indo contra tudo que implica em "amar a Deus sobre todas as coisas".
amar a Deus é, primeiro, conhecer mais sobre Ele e, como consequencia, reconhecer a sua glória, seu poder, sua criação e seu caráter amotoso e libertador.
uma vez entendido isso, se "buscamos em primeiro lugar o reino de Deus", podemos confiar que Ele cuidará de nós e entregar a nossa vida e os nossos problemas a Ele.
a manutenção da guarda do sábado é apenas uma consequencia disso, já que Deus cuidará. a mudança de dia para este adventista seria um problema em relação a isso.
por outro lado, uma pessoa que não conhece ou viveu a realidade do sábado pode muito bem ter o domingo como o seu dia de guarda, até que Deus lhe mostre o seu propósito de forma clara (talvez através de nós); mas isso não afetaria a sua salvação.
concluo: Deus não precisa esperar alguem se decidir guardar o sábado para salvá-lo. mas a salvação em si (e precisamos entender isso, o que é isso) é que trará a pessoa as benções diversas de Deus, entre elas a benção do sétimo dia.
então, ao adventista a mudança de dia não afetaria a sua salvação, e sim o não reconhecer quem Deus é, e como consequencia natural, confiar nEle.

douglas reis disse...

Rodrigo,

Minhas observações:

1) Tornar o sábado como sinal de Deus não o torna necessariamente símbolo (ou causa) da salvação. Se alguns fazem isso, o fazem contrariamente ao entendimento adventista;
2) Você alega que as expressões “palavra” e “mandamentos” são paralelas no livro do Apocalipse. Mas a mera ocorrência de ambas não implica necessariamente em paralelismo. Você analisou gramaticalmente situações em que os termos aparecem intercambiavelmente?
3) A igreja não alega que o sábado seja superior aos demais mandamentos. O que se afirma é que este mandamento possui o selo de Deus e, por isso, sofre ataque direto de Satanás. É claro que todos os dez mandamentos são atacados – ou seja, não adianta ser fiel no sábado e trair a esposa (Tg 2:10-12);
4) O que você quer dizer quando afirma que o remanescente poderia ser identificado como “os outros filhos da mulher”? Há duas palavras para outro em grego. Nenhuma delas aparece no texto grego. Em que baseia a sua ideia?
5) Sobre a mudança na mensagem da igreja (no comentário subsequente): George Knight já abordou a mudança de ênfase no adventismo ao longo de sua existência. Como eu lhe afirmei antes, mudar de ênfase é uma coisa, mudar de mensagem é completamente diferente! Eu mesmo defendo que, em determinados aspectos, precisaríamos mudar de ênfase para alcançar as pessoas (ver, por ex.: http://questaodeconfianca.blogspot.com/2010/09/falando-com-as-paredes-esquecemos-de.html);
6) Como assim Jesus nunca falou do sábado?! Você nunca leu Mc 2:23-28, Lc 4:16, Lc 14:1-6?
7) Sobre teologia adventista e as teologias cristãs, estão elas igualmente corretas? Se você afirmar que sim, como seria possível? Afinal, elas se contradizem em muitos aspectos. Nesse caso, se todas estão certas, a Verdade bíblica seria difusa e indeterminável – bem vindo ao relativismo! Se você quiser rever e afirmar que as teologias não são igualmente corretas, então qual o problema de afirmar que algumas são mais bíblicas do que outras? Costumo dizer que pessoas são pessoas, e há sinceros e insinceros em todas as confissões. Ao mesmo tempo, será que o Deus que Se revelou não disponibilizaria a verdade para o Seu povo? Pense bem na questão: ao longo da História, Deus teve sempre o povo remanescente. Eles não eram um clube exclusivo de gente salva (aliás, Deus salvou muita gente que não era do Seu próprio povo e condenou muitos de Seu remanescente!);
8) Colocar a liberdade acima do amor é falsa-dicotomia; EGW diz que o verdadeiro amor é quem garante a liberdade (afinal, Deus nos concedeu livre-arbítrio), ao mesmo tempo que o amor se desenvolve em liberdade. É claro que nos pontos periféricos pode haver divergência de entendimento; mas será que alguém que não aceita a Jesus como salvador pode se salvar ou alguém que acredite na intercessão de Maria, apesar de ambos terem acesso à mensagem de salvação bíblica?

douglas reis disse...

Sobre a segunda pergunta: concordei com suas primeiras observações, mas identifiquei em seu último parágrafo uma frase bastante curiosa: “[…] então, ao adventista a mudança de dia não afetaria a sua salvação, e sim o não reconhecer quem Deus é, e como consequencia natural, confiar nEle.” A palavra grega pistis (fé) inclui a ideia de confiança – não à toa o nome desse blog!! –, sendo que a salvação se baseia nessa relação de fé com Deus, “o justo viverá pela fé”. Como uma coisa pode afetar nossa confiança em Deus sem afetar nossa salvação?

Rodrigo disse...

opa,
observações em relação as suas:

1) concordo plenamente. mas fica dificil de argumentar que não guardar o sábado tem repercussões salvíficas, como a sua segunda pergunta de antes indicou.
2) compare apocalipse 1:2 com 12:17. parece que joão fala do mesmo povo, e na sua intenção inicial, é o povo que recebeu a revelação profética dele e que viu jesus --> os primeiros cristãos. 14:12 seria outro texto paralelo a isso; não digo ser esta a interpretação "certa", mas certamente uma possibilidade de interpretação.
3) eu sei que a igreja não eleva o sábado sobre as outras, mas interpreta o apocalipse desta forma: quando fala em "os que guardam os mandamentos", interpreta-se que fala-se de nós, já que os outros não guardam o sábado; esquece-se porem que talvez não guardemos os outros ou nem esse da maneira correta; a comparação antiga mas mesmo assim válida com os fariseus na época e Jesus não é absurda.
4) leia os seguintes textos:
mat 25, 10-11
mar 16, 12-13
luc 8,10
luc 18,9.11
luc 24,9-10
rom 1,13
rom 11,7
1 cor 7,10-12
2 cor 12,13
1 tess 4,13 e 5,6
2 ped 3,16
ato 2,37
ato 28,8-9
1 cor 9,5
gal 2,12-13
phi 4,3

em todos estes textos, a palavra "hoi loipoi" é usada, nos últimos cinco na versão singular. é esta palavra que aparece traduzido como "os remanescentes"; a tradução da new international traz o texto de apoc 12,17 como "the other sons" ou algo semelhante.
5) em nenhum momento sugeri mudar de mensagem, mas algumas ênfases antigas precisam ser mudadas por causa dos tempos atuais, e outras, sejamos sinceros, pq são ênfases enganosas.
6) claro que o sábado é mencionado em contextos com jesus, mas não da maneira que costumamos interpretar. em marcos, o objetivo de Jesus não é o dia em si, mas o objetivo do dia (feito para o homem). Jesus pregou no sábado e ia a sinagoga, mas não pregou "sobre" o sábado, pelo menos não temos este relato. em suma: ela dá o real sentido do sábado, como ele faz com todos os mandamentos. mas ele não sugere que o sábado tenha um papel especial no fim dos tempos, nem em mateus 24, quando fala sobre o fim.
7) acho que vc me entendeu bem então, pq minha afirmação é justamente que a teologia adventista não está totalmente correta, e achar que estaria seria tb um grande perigo. existe uma verdade absoluta (apesar de poderem existir diferentes manifestações de uma verdade), e é o nosso dever cristão buscar conhecer Jesus e a sua natureza cada vez mais. na minha visão particular, creio que temos mais a acrescentar no lado teológico a outros irmãos cristãos do que eles para nós (embora ele possam contribuir, sim!); mas tem lados não teológicos onde podemos aprender bastante, e este aprendizado talvez seja mais essencial do que o "puramente teológico" (acho que vc entende o que quero dizer).
8) a questão da salvação em si não compete a nós, e graças a Deus por isso. julgar não é nem necessário em relação a isso. fiz a minha colocação sobre a liberdade pq vejo isso como talvez a nossa maior deficiência, como igreja. Deus poderia ter resolvido o problema do pecado de inúmeras outras formas, mas a preservação do livre-arbitrio Lhe é essencial porque o amor a Ele só é verdadeiro se for em liberdade. concordo com você que a liberdade provém do amor de Deus, em primeiro instância; mas o nosso amor a Deus depende da liberdade; sem liberdade, não há amor verdadeiro de criaturas para com o Criador. o amor sem liberdade não é amor, a definição do amor verdadeiro é que ele seja vivido, em ação, com base na liberdade de escolhê-lo.

Rodrigo disse...

quanto a observação sobre a segunda pergunta, estamos de acordo. acho que me expressei mal, quis dizer que a salvação estaria comprometida SIM, mas não por causa do sábado, e sim pela falta de confiança em Deus. sábado como consequencia, não causa.

Rodrigo disse...

quanta a terceira pergunta inicial sua, acho que ficou claro que não desejo uma revolução ou questionamento de "todas as doutrinas". mas você há de concordar que algumas são mais claras e outras, menos. e espaço para interpretação existe em todas, sem exceção! é assim a natureza humana.
outra verdade é que não é raro que as nossas interpretações não sejam resultado puro da pesquisa ou do texto, muitas vezes (e isso é humano) elas vem de crenças pré-estabelecidas e até acariciadas.
encarar a religião que se vive livre das "tradições" eu considero essencial, mesmo que as conclusões sejam as mesmas de antes. em outras palavas: cada adventista deveria tornar a religião a sua própria. a começar pelo que Jesus se preocupou mais quando esteve aqui, o assunto da "vida cristã", o dia a dia.
viver pelas Leis de Deus e não pelas leis do mundo é que torna uma religião significativa, e estas leis não são "podes" e "não podes" (isso era adequado para os israelitas na época), Jesus dá vários exemplos disso nos evangelhos. a Lei vive da idéia de que este mundo não é tudo, de que existe um Criador, e de que Ele, o Todo-Poderoso, amou e ama. enxergar e viver a vida assim é o verdadeiro desafio.

douglas reis disse...

Rodrigo,

vou tentar ser o mais conciso.

Remanescentes: pelo que entendi, sua preocupação está em limitar o remanescente a uma característica (uma vez que você encontrou outros textos que atribuem ao grupo mais características). Seria isso?

Bem, nem todos os textos que você citou seriam claramente identificados com o remanescente; em alguns contextos, a ideia de contrastar dois grupos aparece simplesmente (os "outros" é usado para discriminar um grupo do outro; a palavra difere de outro como adjetivo, os termos allós e heterós).

Mas a ênfase dada no apocalipse se refere à crise final, quando aqueles que amam a Deus se prontificarão a permanecer confiantemente ao lado deles, apesar das pressões contrárias. Você crê nisso?

Claro que o sábado ganha um destaque, por fazer parte desta aliança de amor. O dia do senhor aparece discretamente em Ap 1:10, e a identificação dele em Ap 14 não é apenas pela referência ao Criador - compare a linguagem do v. 7 com Ex 20:11.

Quanto a Jesus, e as afirmações dele sobre o sábado (além de Seu exemplo) não servem para reforçar a necessidade não apenas de guardar esse dia, mas de fazê-lo corretamente e dentro do espírito correto?

Sobre a terceira pergunta: espaço para interpretação sempre existirá, porque nenhum homem sabe tudo o que há para saber. Quando afirmo que é possível sabermos a Verdade absoluta, digo que isso não nos torna absolutos (afirmei isso em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2010/01/adventistas-fanaticos-algumas-reflexoes.html ; o texto pode lhe interessar, porque fala justamente sobre ênfases errôneas que assolam nosso povo).

Ainda assim, uma verdade foi deixada por um Deus de amor e, como disse, afirmarmos que somos o remanescentes nos torna servos dos outros, com o dever de compartilharmos a salvação e detalhes do plano de Deus. Concordo que podemos aprender com outros - até com não-cristãos, eu acrescentaria.

Contudo, minha preocupação é que esse diálogo mine nossa compreensão e compromisso com a verdade bíblica. Gostaria que você lesse, sobretudo, um texto que, melhor do que outros, reflete (e respalda!) essa minha preocupação: http://questaodeconfianca.blogspot.com/2010/07/o-risco-de-um-cristianismo-pos-moderno.html .

douglas reis disse...

Rodrigo,

vou tentar ser o mais conciso.

Remanescentes: pelo que entendi, sua preocupação está em limitar o remanescente a uma característica (uma vez que você encontrou outros textos que atribuem ao grupo mais características). Seria isso?

Bem, nem todos os textos que você citou seriam claramente identificados com o remanescente; em alguns contextos, a ideia de contrastar dois grupos aparece simplesmente (os "outros" é usado para discriminar um grupo do outro; a palavra difere de outro como adjetivo, os termos allós e heterós).

Mas a ênfase dada no apocalipse se refere à crise final, quando aqueles que amam a Deus se prontificarão a permanecer confiantemente ao lado deles, apesar das pressões contrárias. Você crê nisso?

Claro que o sábado ganha um destaque, por fazer parte desta aliança de amor. O dia do senhor aparece discretamente em Ap 1:10, e a identificação dele em Ap 14 não é apenas pela referência ao Criador - compare a linguagem do v. 7 com Ex 20:11.

Quanto a Jesus, e as afirmações dele sobre o sábado (além de Seu exemplo) não servem para reforçar a necessidade não apenas de guardar esse dia, mas de fazê-lo corretamente e dentro do espírito correto?

Sobre a terceira pergunta: espaço para interpretação sempre existirá, porque nenhum homem sabe tudo o que há para saber. Quando afirmo que é possível sabermos a Verdade absoluta, digo que isso não nos torna absolutos (afirmei isso em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2010/01/adventistas-fanaticos-algumas-reflexoes.html ; o texto pode lhe interessar, porque fala justamente sobre ênfases errôneas que assolam nosso povo).

Ainda assim, uma verdade foi deixada por um Deus de amor e, como disse, afirmarmos que somos o remanescentes nos torna servos dos outros, com o dever de compartilharmos a salvação e detalhes do plano de Deus. Concordo que podemos aprender com outros - até com não-cristãos, eu acrescentaria.

Contudo, minha preocupação é que esse diálogo mine nossa compreensão e compromisso com a verdade bíblica. Gostaria que você lesse, sobretudo, um texto que, melhor do que outros, reflete (e respalda!) essa minha preocupação: http://questaodeconfianca.blogspot.com/2010/07/o-risco-de-um-cristianismo-pos-moderno.html .

Rodrigo disse...

só uma resposta em relação ao remanescente: os textos que citei claramente não dizem respeito aos remanescentes de apocalipse, quis com eles apenas comprovar a interpretação de "os outros", no contexto do capítulo 12 como os outros filhos da mulher. a palavra em si não indica que o grupo é pequeno; ele parece falar de todos os cristãos que tem a fé em Jesus e seguem a Sua Lei (expressa como decálogo no antigo testamento e resumido em duas grandes Leis no novo). meu problema é afirmar que nós adventistas somos os remanescentes, como diz o ítem 13 no voto de batismo oficial. isso pode causar problemas de compreensão religiosa e de diálogo.

no mais, creio que Deus sempre teve seus remanescentes e que, de forma abrangente, eles são os cristãos fieis a ele em toda a história pós Cristo; afirmaria que queremos ser parte deste grupo, mas assumir esta identidade pode ser perigosa (pelas razões citadas acima). concordo tb que em apocalipse 14, um grupo especial destes remanescentes é mostrado, que é a última geração antes a volta de Cristo. só saberemos quem são quando Jesus voltar, já que muitas gerações (incl. de adventistas) se passaram sem serem os últimos remanescentes.
de forma geral, concordo com os perigos do pensamento pós-moderno e pessoalmente acredito que eles são tão perigosos a nós justamente pela maneira que encaramos a religão por décadas. o pós-modernismo, como quase tudo, tem o seu lado muito bom também, inclusive espiritualmente. devemos usufruir dos aspectos bons tanto para a nossa edificação espiritual pessoal e como grupo, como para a missão e o testemunho verdadeiro. por causa do pós-modernismo, pessoas estão mais abertas do que em outras épocas, mas elas precisam ver os frutos, não vão mais pela argumentação. por tempo demais nossa missão foi via argumentação, chegou a hora de convencer pela nossa vida, com humildade (afinal Deus é o único Grande) e amor equilibrado.
Viver as Leis do Reino que se iniciou com a vinda de Jesus é ser remanescente de verdade. que possamos fazer parte deste povo!