Em
nossa época, olha-se com desconfiança para quem possua qualquer tipo de
certeza. A honra cabe àqueles que apresentem suas dúvidas, em relação a
qualquer área. Todo o tipo de conspiradores tem surgido, e explicar a realidade
tendo por base uma rede de verdades fictícias é tema recorrente de filmes,
reportagens e livros – assim, a ficção desforra-se da realidade, lançando sobre
ela suas próprias atribuições. A melhor certeza, apontam os conspiradores, é
desconhecer as certezas e duvidar de todas elas. Vale, entretanto, a ressalva:
os conspiradores geralmente são interlocutores de um monólogo acrítico,
resguardando suas teorias das dúvidas que lançam contra tudo mais.
Passo
a desenvolver melhor a ressalva apresentada: supondo que um conspirador
apresente a teoria A, em geral, a validade de seus argumentos será proporcional
ao clima de dúvida que lançará contra ideias e parâmetros bem aceitos. Ocorre,
na maioria das empreitadas do gênero, que todo tipo de evidências casuais e
pálidas são tecidas por duvidosa linha argumentativa, a qual se respalda na
crítica pela crítica, na dúvida pela dúvida – como se apenas a não aceitação de
uma determinada convenção já fosse algo inerentemente meritório!
Os
conspiradores e seus pares evocam uma suposta coragem ao duvidar. Mas seria
toda dúvida um ato inequívoco de coragem? Se meu prédio pegasse fogo, e eu
saísse gritando pelos corredores, na tentativa de alertar meus vizinhos,
imagine que um deles (digamos, o que mora no apartamento 105), me dissesse que
duvida da realidade de um incêndio (ainda que a fumaça negra se avolumasse e o
odor de fuligem se intensificasse) seria tal morador um homem corajoso? Em
verdade, diríamos ser ele um louco, um acomodado ou um desatento, mas em nenhum
destes adjetivos se vislumbraria algo semelhante à verdadeira coragem.
Mas
a dúvida pode estar ligada a uma atitude efetivamente corajosa? É claro. Vamos
inverter a situação do exemplo anterior. Imagine se o vizinho que ocupa o
apartamento 105 saísse, desconfiado com a possibilidade de incêndio, e eu, por
qualquer razão superficial (talvez, nesse caso, eu agisse de forma louca,
acomodada e desatenta), lhe dissesse não haver nada, e mesmo assim, ele se
insurgisse contra a minha opinião e averiguasse por si mesmo, confirmando a
presença das chamas no prédio?
Ou
ainda: se eu fosse o síndico, e quisesse manter as aparências, acobertando um
incêndio (talvez julgando que os bombeiros estivessem a caminho e pudessem
contornar o problema sem pânico), o morador do 105 não seria corajoso ao me
enfrentar e divulgar uma informação vital aos demais condôminos?
Qual
a diferença, então, nos exemplos mencionados? A dúvida válida acompanha uma
certeza, a qual pode ser confrontada dentro da mesma lógica que o objeto do
qual duvido. Infelizmente, a maioria dos conspiradores duvida de coisas, e se
justificam apenas por duvidar, isentando-se de confrontar suas certezas e suas
dúvidas dentro de um mesmo ambiente lógico.
Não
creio que a dúvida per si tenha alguma serventia. Serve mais como estratégia de
marketing (muitas vezes, pessoal) do que algo que se leve a sério. A dúvida
constitui um benefício quando acompanhada de uma certeza, não quando se
sustenta na capacidade imaginativa de um conspirador, que a põe na frente de
outra dúvida, e de outra, e mais outra, como quem usa um cheque sem fundos para
cobrir outro, e o faz indefinidamente. Afinal, uma vida calcada em dúvidas não
me soa razoável. Disto, não tenho dúvidas.
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