Sam Harris: por que ele não começa a desafiar sua própria crença com o devido rigor?
Cada
vez mais autores procuram desacreditar o Cristianismo. Obviamente, não se trata
de um fenômeno da pós-modernidade; entretanto, parece haver um esforço
consciente para varrer a religião de Jesus, de uma vez por todas, o que ganha
força com a maciça promoção da mídia. Quem está à frente de uma nova investida
nesse sentido é o filósofo Sam Harris, autor de alguns trabalhos anti-cristãos.
Propomos efetuar uma leitura crítica das opiniões desse autor, conforme
divulgadas na edição de Outubro da revista Galileu. [1] Ao mesmo tempo,
apresentamos alguns argumentos, visando validar a racionalidade do Teísmo
Cristão.
Sem
fugir à regra de reportagens desta estirpe, DM levanta um questionamento
sugestivo, a respeito da sobrevivência da religião, sem oferecer contraponto
algum para que o leitor analise as coisas por si mesmo. Não deixa de ser
curioso que Sam Harris ganhe destaque, enquanto por aqui ninguém ouve falar de
Alvin Platinga ou William Lane Craig, para ficarmos com dois exemplos. Ambos
são influentes filósofos, bastante respeitados nos círculos acadêmicos. Também
são cristãos militantes, que escrevem artigos e participam de debates sobre
temas ligados à Religião. Por que eles sequer são citados? Talvez a pergunta,
posta de modo impertinente, fosse: reproduzir, com isenção, os argumentos
pró-Cristianismo ajudaria a vender revista na mesma proporção que divulgar
ideias contrárias a essa religião? É muito fácil marcar gols na ausência do
time adversário.
Vale
lembrar que Harris é estupendamente credenciado pela revista ("[...] o
ensaísta norteamericano Sam Harris, estudou filosofia em Standford e concluiu doutorado em neurociência sobre como o cérebro
lida com a crença. Isso deu a ele base necessária..."); ora, se o número
de PhDs é credenciamento, valeria exaltar William Dembski, preponente do Desing
Inteligente: Dembski possui títulos em Matemática, Filosofia e Teologia!
Observada
a parcialidade do articulista, vamos nos ater à análise de algumas críticas
reproduzidas na matéria. A própria reportagem parece "cantar vitória"
previamente no trecho a seguir: "[...] essas obras têm em comum a oferta
de bem-nutridos argumentos para demolir de vez o mais resistente dos mitos:
Deus." Para tornar mais acessível nossa crítica, passamos a elencar os argumentos
contra Deus, pela ordem que aparecem.
1. A impossibilidade dos milagres: Em seu livro A Morte da Fé - Religião, Terror e o Futuro da Razão (a ser lançado), Harris dirige seus ataques contra os milagres. Ele desafia os cristãos a orarem por um amputado, para que ele seja restaurado [2]. Ele parte do pressuposto de que, em mundo natural (leia-se naturalista) tais eventos são impossíveis. Primeiro, temos que definir milagre: para os cristãos, tratam-se de eventos sobrenaturais, os quais desafiam a ordem física corrente no mundo como o conhecemos. Ficam excluídas as explicações fantasiosas para eventos ordinários ou fenômenos naturais, como, e.g., soem explicar o panteísmo e o misticismo oriental. Segundo, temos que notar que os milagres costumam ser eventos únicos, sob circunstâncias especiais, não-induzidas. Em terceiro lugar: embora os milagres fossem forma eficaz de validar o ministério de Jesus e dos apóstolos, não constituem a prova final, mas apenas um meio de conduzir à mensagem do Evangelho - mesmo Jesus Se recusou a realizar milagres para provar Sua messianidade (Lc. 23:8). A melhor forma de avaliar os milagres é averiguar a historicidade de seus registros [3].
1. A impossibilidade dos milagres: Em seu livro A Morte da Fé - Religião, Terror e o Futuro da Razão (a ser lançado), Harris dirige seus ataques contra os milagres. Ele desafia os cristãos a orarem por um amputado, para que ele seja restaurado [2]. Ele parte do pressuposto de que, em mundo natural (leia-se naturalista) tais eventos são impossíveis. Primeiro, temos que definir milagre: para os cristãos, tratam-se de eventos sobrenaturais, os quais desafiam a ordem física corrente no mundo como o conhecemos. Ficam excluídas as explicações fantasiosas para eventos ordinários ou fenômenos naturais, como, e.g., soem explicar o panteísmo e o misticismo oriental. Segundo, temos que notar que os milagres costumam ser eventos únicos, sob circunstâncias especiais, não-induzidas. Em terceiro lugar: embora os milagres fossem forma eficaz de validar o ministério de Jesus e dos apóstolos, não constituem a prova final, mas apenas um meio de conduzir à mensagem do Evangelho - mesmo Jesus Se recusou a realizar milagres para provar Sua messianidade (Lc. 23:8). A melhor forma de avaliar os milagres é averiguar a historicidade de seus registros [3].
2. A obsolescência da Bíblia: Para Harris, tanto a Bíblia como o Alcorão representam
"[...] 'o trabalho de homens e mulheres que viviam no deserto, achavam que
a terra era plana, e para os quais um carrinho de mão teria sido um espantoso
exemplo de tecnologia." [4] Essa argumentação falha em dois aspectos:
primeiro, por nivelar todas as manifestações religiosas de um ponto de vista
puramente naturalista. Se tornamos o Naturalismo filosófico o juiz das demais
cosmovisões, já estamos admitindo sua superioridade. Mas quem julga o
naturalismo? estaria ele acima das análise crítica que impõe a outras visões de
mundo? Deveríamos analisar cada proposta pela sua coerência e sua correspondência
com o mundo ao redor. A segunda falha ocorre por desconsiderar que a Bíblia foi
capaz de transmitir conceitos reais sobre o mundo físico, a despeito de não
fazer uso de linguagem rigorosamente científica. Um exemplo: as Escrituras já
afirmavam, em uma época tão remota quanto 700 a.C., que a Terra era redonda
(Is. 40:22). O termo "redonda" (do heb.: חוג , chuwg, círculo,
compasso) se refere à palavra que é melhor traduzida por Terra (o termo
hebraico ארץ, 'erets, tem, como
primeira acepção, o sentido de toda a Terra, em oposição a uma parte dela, ou
em contraste com o céu.) [5]. Costumo exemplificar da seguinte forma: imagine
que um aluno se esqueceu de trazer um trabalho. Eu lhe dou a oportunidade de
ligar para casa e pedir à mãe que envie a atividade por e-mail. Quando ele faz
a ligação, quem atende é a empregada, que não entende nada sobre computadores.
Para garantir que o trabalho seja enviado, ele simplifica a mensagem, evitando
termos específicos, a fim de que sua mãe receba o recado correto. Deus fez mais
ou menos assim: enviou o recado certo numa linguagem simplificada, através de
um povo cuja mentalidade era outra. Mas o recado é verdadeiro, em qualquer
linguagem.
3. A religião como fomentadora de intolerância e guerras: Sam Harris derrapa profundamente, quando enxerga na religião um
viés de intolerância nata. Para ele, a fé, para estar certa, exclui crenças
diferentes, o que constitui o matiz da intolerância. É o caso de perguntarmos
ao escritor se sua atitude de descarte das propostas religiosas não fica em
mesmo nível, agindo com certeza absoluta, ao mesmo tempo que busca destruir
outras crenças! [6] Tolerância não pressupõe admitir que opiniões antagônicas
estejam igualmente certas, porque isso não é lógico. Por outro lado, quando
pensamos nos abusos cometidos em nome do Cristianismo, não podemos olvidar que,
historicamente, ateus também se mostraram intolerantes e totalitários. Em
contrapartida, os benefícios morais da religião, como fraternidade, ajuda ao
próximo, incentivo à vida moralidade, etc., não podem ser negados.
4. A religião como uma certeza não verificável: "[...] Segundo ele [Harris], diante de alguma pequena
evidência, eles [os fiéis] se mostram tão atentos a ela [qualquer prova a favor
de sua crença] quanto os condenados. Isso demonstra que a fé não é nada mais
que a disposição para aguardar provas." Faltaria, assim, que "os
religiosos desafiassem a própria crença com o devido rigor." Pronto!
Chegamos a um denominador comum. Pena que Sam Harris e seus partidários se
mostrem tão eficientes em agir dessa maneira em relação às crenças alheias. Por
que eles não começam questionando sua própria base filosófica? Vamos ajudá-los
nesse mister: onde está o ancestral comum? Que evidência factual temos do
surgimento da vida através da não-vida? Gostaria que os naturalistas
procurassem responder a essas e outras lacunas, se puderem. Penso que o
Cristianismo fornece melhores respostas. As evidências estão aí, confira quem quiser.
Além disso, a argumentação dos neoateus é muito fraca - gente melhor já tentou
"matar" Deus e não conseguiu.
Leia também:
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[1] Cássio Starling, “Deus está morto?”, in Galileu, n° 2191, Outubro de 2009, 72-79. Daqui para frente,
referidso como DM
[2] DM, 74.
[3] Veja, por exemplo, evidências para o
Êxodo em Douglas Reis,O esquecimento de Hatshepsut: evidências de uma
conversão? http://questaodeconfianca.blogspot.com/2009/03/o-esquecimento-de-hatshepsut-evidencias.html.
"A datação próxima do evento é uma confirmação de sua veracidade –
inclusive no que diz respeito aos milagres. Jesus não poderia ser quem afirma
ser (João 14:6) caso não pudesse realizar o que os evangelhos Lhe atribuem. Em
última estância, aceitar ou não seus milagres é uma questão de perspectiva com
a qual se inicia o estudo." Douglas Reis, Novas pérolas de Crossan na
Superinteressante, disponível em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2008/02/novas-prolas-de-crossan-na.html.
[4] DM, 75.
[5] Consultei um léxico, disponível em
http://www.searchgodsword.org/isb/view.cgi?number=02329, http://www.searchgodsword.org/isb/view.cgi?number=0776.
[6] DM, 76.
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