quarta-feira, 11 de maio de 2011

DEPOIMENTO DE UM QUASE CRUCIFICADO


Meu último dia deveria ser
Um ato de luta contra o inimigo;
Entretanto, poderei levar comigo
Resistência maior ao poder
Se escapar da morte certa.
A esperança, porém, é remota:
Este povo, que irá escolher
Entre nós a quem salvar, vive em alerta
Ao ouvir meu passo, ao saber de minha rota
E trará minha derrota.

Em minha existência violenta, insano
Corri contra o tempo em busca de um apoio.
Entre mil trigais de Roma, semeei joio,
Salvei meu Israel deste engano.
Temor sentem legiões
Quando o vento soletra o meu nome,
Pois de seu manto fiz roto pano
E arranquei com minha lança os seus brasões.
Se hoje o homem que fui de entre as notícias some,
E meu povo passa fome,

Serei mártir firme da pátria bendita!
Ora! Eis que se assoma a multidão revolta
Para optar pela pessoa e a fazer solta
Serei solto? A alma em súplica aflita!…
Mas e o outro candidato?
Meu Deus! Não pode ser! É Jesus!
Seu olhar tem beleza esquisita:
Como o lírio, tem um brilho intemerato.
Quanto mais sangra, mais nobre se conduz
– Ele não merece a cruz.

Entre mim e Cristo, Ele será eleito.
O porco romano se aproxima e fala
Para o povo escolher um de nós. E de ala
À ala, vão os sacerdotes com o jeito
De quem faz conspiração;
Eles mudam a ideia da massa
Fico atônito ao ver o que é feito:
A Jesus, o outro, condena a multidão;
Prefere-se a espada à pregação da Graça,
Dita desde o templo à praça.

Sabendo o que o aguarda, mesmo assim consente;
Este homem conserva a sua mesma paz,
– Ao Lhe ver, quis quase não ser Barrabás
E passar por mudança de mente;
Mas prefiro ainda a luta
A esse reino de paz de um Messias,
Apesar de ver quão dignamente
Jesus se entregou de uma forma absoluta.
É como se O visse a ir em meio às gritarias
Suportando as horas frias.

Sim, fecho os meus olhos e O vejo tomando
A cruz que era minha com Seu rosto brando.

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