domingo, 30 de março de 2008

COSMÓLOGO LANÇA "TEOLOGIA DA CIÊNCIA"


Michael Keller: mais um cientista a serviço do Criador

Como um seminarista adolescente que se sente culpado quando sua mente se divide, por exemplo, entre o chamamento para o prazer da carne e a vocação para o prazer do espírito, o polonês Michael Keller se amargurava quando tentava responder à questão da origem do universo através de um ou de outro ramo de seu conhecimento – ou seja, sentia culpa. Ocorre, porém, que Keller não é um menino, mas sim um dos mais conceituados cientistas no campo da cosmologia e, igualmente, um dos mais renomados teólogos de seu país. Entre o pragmatismo científico e a devoção pela religião, ele decidiu fixar esses seus dois olhares sobre a questão da origem de todas as coisas: pôs a ciência a serviço de Deus e Deus a serviço da ciência. Desse no que desse, ele fez isso. O resultado intelectual é que ele se tornou o pioneiro na formulação de uma nova teoria que começa a ganhar corpo em toda a Europa: a “Teologia da Ciência”. O resultado material é que na semana passada Keller recebeu um dos maiores prêmios em dinheiro já dados em Nova York pela Fundação Templeton, instituição que reúne pesquisadores de todo o mundo: US$ 1,6 milhão.

O que é a “Teologia da Ciência”? Em poucas palavras, ela se define assim: a ciência encontrou Deus. E a isso Keller chegou, fazendo- se aqui uma comparação com a medicina, valendo-se do que se chama diagnóstico por exclusão: quando uma doença não preenche os requisitos para as mais diversas enfermidades já conhecidas, não é por isso que ela deixa de ser uma doença. De volta agora à questão da formação do universo, há perguntas que a ciência não responde, mas o universo está aqui e nós, nele. Nesse “buraco negro” entra Deus. Segundo Keller, apesar dos nítidos avanços no campo da pesquisa sobre a existência humana, continua-se sem saber o principal: quem seria o responsável pela criação do cosmo? Com repercussão no mundo inteiro, o seu estudo e sua coragem em dizer que Deus rege a ciência naquilo que a ciência ainda tateia abrem novos campos de pesquisa. “Por que as leis na natureza são dessa forma? Keller incentivou esse tipo de discussão”, disse a ISTOÉ Eduardo Rodrigues da Cruz, físico e professor de teologia da PUC de São Paulo.

Keller montou a sua metodologia a partir do chamado “Deus dos cientistas”: o big bang, a grande explosão de um átomo primordial que teria originado tudo aquilo que compõe o universo. “Em todo processo físico há uma seqüência de estados. Um estado precedente é uma causa para outro estado que é seu efeito. E há sempre uma lei física que descreva esse processo”, diz ele. E, em seguida, fustiga de novo o pensamento: “Mas o que existia antes desse átomo primordial?” Essas questões, sem respostas pela física, encontram um ponto final na religião – ou seja, encontram Deus. Valendo-se também das ferramentas da física quântica (que estuda, entre outros pontos, a formação de cadeias de átomos) e inspirando-se em questões levantadas no século XVII pelo filósofo Gottfried Wilhelm Leibniz, o cosmólogo Keller mergulha na metáfora desse pensador: imagine, por exemplo, um livro de geometria perpetuamente reproduzido. Embora a ciência possa explicar que uma cópia do livro se originou de outra, ela não chega à existência completa, à razão de existir daquele livro ou à razão de ele ter sido escrito. Keller “apazigua” o filósofo: “A ciência nos dá o conhecimento do mundo e a religião nos dá o significado”. Com o prêmio que recebeu, ele anunciou a criação de um instituto de pesquisas. E já escolheu o nome: Centro Copérnico, em homenagem ao filósofo polonês que, sem abrir mão da religião, provou que o Sol é o centro do sistema solar.


Fonte: Isto É (colaborou: Levi Tavares)


Sejamos justos: a chamada da matéria original soa pretenciosa: "Através de leis da física e da
filosofia, pesquisador polonês mostra que deus existe".

Como alguém pode "provar" a existência de Deus? Desde Tomás de Aquino, tem-se argumentado que a Razão seria suficiente para se admitir Deus. Embora uma construção racional contribua para se entender pontos teológicos importantes, como a necessidade de uma causa inicial, ou mesmo da organização do mundo, isso não é tudo.

A razão humana foi corrompida pela ação do pecado; podemos apenas deixar que Deus chegue a nós, e não irmos até Ele andando com nossos próprias pernas e tentando advinhar o caminho. Nesse ponto, entra a Auto-revelção divina, que demonstra, em linguagem humana, a realidade da vida, de Deus, e do mundo vindouro. Em submeter-se ou não à Revelação consiste a grande luta individual em que todos tomamos parte.

É claro que podemos interagir com aquilo que já foi revelado, dando contribuições a diversas áreas do conhecimento humano, com preceitos extraídos das Escrituras; aliás, isto é exatamente o que milhares de pesquisadores (biólogos, antropólogos, literários, artistas plásticos, geólogos, para citar alguns profissionais) vêm fazendo. Esperamos que Michael Keller venha a trazer importantes contribuições em sua área, marcada por controvérsias (ao invés de diálogo franco) entre as Ciências Naturais e a Religião Cristã.

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