E Kaká voltou mais cedo do campo...
As polêmicas da Era Dunga estão muito longe de terminar. E uma das mais recentes envolve o jogador Kaká. Conhecido por seu bom-mocismo, o meia ficou visivelmente irritado com o excesso de vontade dos jogadores da Costa do Marfim, último adversário da Seleção canarinho. Num lance polêmico, Kaká recebeu o segundo cartão amarelo e deixou mais cedo o gramado.
Comentando o episódio, o jogador explicou que, apesar de não ter se irritado, não possuía “sangue de barata”. “– Não aconteceu nada demais. […] Se eu tivesse tido uma atitude irresponsável, eu chegaria aqui e pediria desculpas para vocês (jornalistas) e para o grupo. Joguei uma partida normal e que acabou com a minha expulsão”, completou Kaká [1].
O músico e escritor Tony Belloto, ateu declarado, disse em seu blog que, apesar de implicar com o que chamou de “fervor religioso” de Kaká, aprovou a virilidade agressiva do craque. “Quem estava ali, no campo, não era um símbolo, um modelo, um heroi ou um garoto propaganda. Era um homem lutando por uma vitória. Valeu, Kaká, parabéns pela sua expulsão, ela também foi um exemplo para todos nós.” [2]
Mas a maior polêmica veio à tona quando Kaká aproveitou um momento da entrevista para contra-atacar a um comentário do jornalista Juca Kfouri. Kfouri declarara, na semana anterior, sobre as fortes dores que Kaká sente na região do púbis, e como isso o estaria atrapalhando em campo. Ao responder à pergunta do repórter André Kfouri, filho de Juca, o jogador deu o troco: “- Há algum tempo os canhões do teu pai têm me atingido, não para me criticar por motivos profissionais, mas por causa da minha fé em Jesus Cristo. Do mesmo jeito que eu respeito o Juca Kfouri como ateu, eu queria que ele me respeitasse por acreditar em Jesus Cristo. Milhões de pessoas acreditam em Jesus e ele precisa respeitar isso.” [3]
Juca Kfouri, através de seu blog, rebateu a declaração do ex-são paulino, alegando que não é contra a religião, mas desfavorável ao “merchandising religioso que ele e outros jogadores da Seleção costumam fazer, tentando nos enfiar suas crenças goela abaixo”. Kfouri citou que a própria Fifa proibiu quaisquer manifestações religiosas durante a Copa (mas não mencionou que a entidade procura evitar, dessa forma, atitudes públicas de grupos radicais muçulmanos). O jornalista ainda mostrou que Kaká caiu em contradição, admitindo na mesma entrevista, que os médicos discutiam se ele seria operado da pulbagia após da Copa. “Mas, para quem não tem nada no púbis, como alegou, por que cogitar de tal hipótese? Talvez só Deus saiba. Como não acredito nele…”, ironizou Kfouri, que, no fim, elogiou Kaká por confrontá-lo diretamente. [4]
Kaká, membro da Igreja Renascer em Cristo, denominação neopentecostal fundada pelo apóstolo Estevam Hernandes e a bispa Sônia, encarna hoje o ideal dos atletas de Cristo de forma bem-sucedida. Isso não legitima as contravenções do casal Henandes (que já teve problemas com a Justiça norteamericana e com a brasileira), tampouco faz dele alguém absolutamente acima de qualquer crítica.
Por outro lado, se ele faz propaganda de sua fé, não seria esse um direito dele? Afinal, todo cidadão não é livre para praticar sua fé? E, se algumas crenças são categoriazas como de expansão (como por exemplo, o Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo), o proselitismo é parte do exercício da crença a que o cidadão possui por direito. Obviamente, ninguém é obrigado a nada; ateus e cristão são livres para conviver e expor suas ideias, e até para debater abertamente, de forma respeitosa. Assim, como em uma boa partida de futebol, que cada qual faça seu jogo e alcance o melhor resultado.
[1] Leandro Canônico, Márcio Iannacca e Thiago Lavinas, Kaká lamenta expulsão e avisa: 'Ninguém tem sangue de barata', disponível em http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2010/06/kaka-lamenta-expulsao-e-avisa-ninguem-tem-sangue-de-barata.html .
[2] Tony Belloto, Viva Kaká!, disponível em http://veja.abril.com.br/blog/cenas-urbanas/cenas/viva-kaka/ .
[3] Kaká acusa jornalista de perseguição religiosa e nega dores no púbis, disponível em http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2010/06/kaka-acusa-jornalista-de-perseguicao-religiosa-e-nega-dores-no-pubis.html .
[4] Juca Kfouri, O engano e a contradição de Kaká, disponível em http://blogdojuca.uol.com.br/2010/06/o-engano-e-a-contradicao-de-kaka/ .