segunda-feira, 6 de junho de 2011

PODER E ÉTICA: STRAUSS-KHAN NA BERLINDA


O casaco escuro deu sobriedade ao senhor acompanhado por policiais. Sua fisionomia sisuda mal transparece a influência que exerceu e os recursos financeiros que ainda detém. Às 9h40 (horário de Nova Iorque), O ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn, 62 anos, chegou ao Tribunal Penal. Ao fim da sessão, a terceira desde sua prisão, ele se declarou inocente. Em frente ao tribunal, camareiras de hotéis da região que organizavam uma manifestação vociferavam: “tenha vergonha”.

No último 14 de Maio, Strauss-Khan foi acusado de crime sexual cometido contra a camareira (32 anos) de um hotel em Manhattan. Uma semana depois, o francês foi preso e permaneceu durante quatro dias em Rilkers Island, sob as grades. Mediante o pagamento da fiança (US$ 1 milhão!), Strauss-Khan teve de fazer o depósito (de US$ 5 milhões!) que lhe garantisse ficar em prisão domiciliar. Ele é vigiado 24h por dia e monitorado com um dispositivo eletrônico afixado em seu tornozelo – tudo para impedir que ele deixe os EUA. Vale lembrar que Dominique Strauss-Kahn teve de desembarcar de um avião com destino à França, quando tentava deixar o país após a acusação. Detido no aeroporto Kennedy de Nova York, ele não havia se pronunciado até hoje.

Ao se declarar inocente, o ex-diretor do FMI deixou a cargo do Justiça Americana provar se houve agressão sexual. Alguns jornais americanos divulgaram que testes conduzidos pela polícia (que não se pronunciou sobre o assunto) detectaram o sêmen de Strauss-Khan nas roupas da camareira agredida, uma imigrante cuja identidade se mantém preservada. Se confirmadas as acusações, Dominique Strauss-Kahn ficará até 74 anos na prisão.

Isso põe fim nas ambições do político socialista francês de carreira ascendente e que, segundo se especulava, concorreria em 2012 à presidência de seu país. Por mais que seu advogado, Benjamin Brafman, garanta que ele em breve estará livre das acusações, sua carreira está manchada. No luxuoso apartamento em que vive desde que se sujeitou à prisão domiciliar, Strauss-Khan amarga a demissão do FMI, pedida 4 dias depois da acusação. Além disso, seu futuro parece cada vez menos promissor.

Assumindo que o francês é, de fato, culpado de todas as acusações (o que ainda não se acha definitivamente provado), teríamos um caso grave de abuso de poder. Semelhante a outros episódios contemporâneos, a suma desse indica o quanto o poder (financeiro, político, social, etc) se revela capaz de desumanizar pessoas e reduzi-las a objeto de satisfação ou ganho pessoal. Sendo esse o caso, o político francês não teria sucumbido à tentação de comprar algo que não estava à venda, de desejar uma mercadoria que, em verdade, era mais do que manufatura – era um ser humano, com desejos próprios e não-manipulável.

O FMI se define como uma organização presente em 187 países, visando a cooperação entre eles em vista da estabilidade financeira mundial. Pena que seu líder máximo presumidamente tenha contribuído para uma crise moral, mostrando que a maior necessidade de nosso tempo não tem que ver tanto com finanças quanto com caráter!

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