Um
novo estudo publicado no site do Estadão adverte que a religião pode se
extinguir em nove países: Austrália, Áustria, Canadá, República Checa,
Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia e Suíça. O prognóstico pessimista
leva em conta dados do censo desses países, que constatou o alarmante
crescimento de pessoas que se declaram sem-religião.
Por
que uma sociedade entra em processo de secularização? O que suscita o
afastamento de pressupostos religiosos? Sugiro que a inocuidade da religião,
pensando em concepção de vida, assume o posto de fator preponderante. Para
sermos justos, diversos fatores contribuem para o processo. Não obstante, o
mero desenvolvimento industrial e tecnológico, e as demandas da vida consumista
nos grandes centros urbanos, per si, constituem explicações incompletas. A meu
ver, a mutilação da estrutura religiosa (condicionalmente esvaziada pelo
zeigeist da vez), ou sua inadequação ao contexto pós-moderno, explica melhor a
problemática; afinal, se a fé falha em prover com suporte holístico o homem do
século XXI, por que manter sua estrutura conceitual?
Logo,
as religiões (incluindo, infelizmente, o cristianismo) se mantêm em um sentido
diametralmente oposto ao da racionalidade pessimista, que sub-repticiamente se
instalou na modernidade, desembocando na pós-modernidade. O que pode salvar o
cristianismo? Um senso de missão, sem dúvida, implicaria em envolvimento dos
seus adeptos, acarretando aprimoramento da vivência religiosa fora das paredes
do templo. Tem de ser observado, entretanto, que se a missão se restringir à
quantidade de pessoas aceitas na comunhão da igreja por meio do batismo,
estaremos reduzindo o propósito integrador e holístico do cristianismo.
Integrador,
porque a participação na missão não cessa quando alguém toma parte em um rito
de iniciação. Integrar-se em uma comunidade requer convivência e readaptação a
um novo padrão de vida. Os membros da igreja são responsáveis por permitir ao
novo converso acesso e participação em seu estilo peculiar de vida permeado
pela vida na comunidade ideal de Deus. A vida em comunidade também envolve o
reconhecimento e uso do dom espiritual concedido a cada crente (1 Co 12), o
qual deve ser empregado de forma harmoniosa, para crescimento da comunidade (Ef
4). Cabe aos ministros a função de desenvolver os dons espirituais (Tt 1:5,
onde a palavra traduzida por “estabelecer” significa levar de um “ponto a
outro”, “desenvolver”).
O
propósito integrador está associado ao segundo, dito holístico. O cristianismo
não se limita a atividades de fim de semana. Cristianismo engloba administração
de emoções, perfil profissional, aquisição de conhecimento, relacionamentos
interpessoais e todas as demais temáticas existenciais referentes ao indivíduo.
Obviamente, alguns elementos são acrescidos com a maturidade espiritual, razão
pela qual não se pode esperar perfeição em estágios iniciais – e mesmo
perfeição absoluta se torna onírica e fantasiosa; fala-se em integridade, em
perseguir propósitos e busca de maturidade.
O
cristianismo medíocre que ora viceja é o pai da secularização. Apenas quando
ele voltar ao seu cerne, poderá virar o jogo, em termos de influência decisiva
sobre indivíduos e sociedade.
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