Ainda no parque. Ainda? Como fora parar ali, perguntava-se, procurando instintivamente o maço de cigarros no paletó amarrotado. Não achou nem cigarros, nem respostas. Olhou fixamente para as crianças correndo, andando no gira-gira, no balanço, no escorregador… Deixou-se absorver pela cena, ao mesmo tempo em que bloqueava o engarrafamento típico da avenida mais próxima.
Coçou os cabelos ralos, ao se levantar com indecisão – iria embora? Sentia que algo faltava… Uma chave de carro em sua mão aguçou a curiosidade. Mirou em várias direções, apertando o botão de alarme. Um carro utilitário prata soou o alarme. Então viera com ele?
Caminhou poucos metros e abriu a porta do veículo. Era espaçoso e sugeria uma família numerosa. Analisando atentamente o banco traseiro, viu o estofamento gasto. O carpete possuía farelos de bolacha e partículas de chocolate. Ah, meu Deus!, o menino!
Voltou às pressas para o parque. Olhava para todos os cantos, procurando o filho que não se lembrava como era. Uma forte dor de cabeça o perturbava, enquanto se tornava consciente de sua incapacidade de identificar, entre tantas crianças, aquela que viera com ele. Seria um pesadelo?
Procurou a carteira. Mas não havia fotos. Retornou ao carro, olhou o porta-luvas, tentou achar uma mochila ou algum caderno no porta-malas… Nada. Sem fotos, sem nomes, sem referências. Sequer possuía um número para o qual ligar.
A noite sacudia as últimas poeiras de luz. Pais vinham buscar seus filhos, que os abraçavam felizes. Que pensaria seu filho, negligenciado pelo pai? Onde estaria a criança, que não vinha até ele? Olhava-as a todas, procurando um traço, uma voz, um jeito de andar.
Uma mulher passou por ele, vestida como uma professora, trazendo pela mão uma menina ruiva, de ar esperto e traquinas. A menina lhe sorriu dispersamente. Levantou-se para acompanhá-las, com alívio no sorriso. Mas elas passaram por ele, entretidas com suas confidências familiares, sem perceber que ele quase as abraçara afetuosamente.
Uma a uma, as crianças deixaram o parque, o que só serviu para aumentar a desolação do homem. Quando fazia meia hora em que estava reinando no parque, decidiu sair. Andou sem rumo pelas ruas, passando por lugares que lhe despertavam algum resquício de lembranças. Olhava os bares, lojas e pessoas, com o desejo de gritar, de pedir ajuda. Alguém deveria conhecê-lo, saber onde morava e lhe dizer por que o filho não o esperara no parque.
Até pensara em ir a um posto policial. E dizer o quê? Comunicaria o desaparecimento de uma criança intuída e não vista, pressuposta e talvez nem existente de fato? Por mais que tentasse se concentrar, nada lhe vinha à mente. Nem filhos, ou qualquer outra memória.
Já exausto, entrou no estacionamento do hospital. Tomou o ticket, estacionou e seguiu para a ala de internação. Seus pés tinham vida própria e sua mente era ativada pelos passos. Chegou à ala de pacientes traumáticos. Ao longe, viu uma mulher segurando um urso, em uma posição de ingenuidade. A cena era idílica e pueril, apesar da dor presente muito aquém da superfície.
“Ellen?…”, balbuciou, inseguro. “Oi, Teófilo”. Respondeu ela melancolicamente. Reunindo forças, ela se levantou. “Sinto muito a falta de Jenifer!”. “Eu também, meu amor, eu também.” Choraram ao se abraçarem longamente.
Um comentário:
desculpa pastor mais não entendi!!!
:/
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