segunda-feira, 17 de março de 2008

O QUE SE LÊ E O QUE SE OUVE POR AÍ...


Até tenho certo receio em começar este artigo. Não, não se trata de autopromoção, nem de um clima de suspense para valorizar a seqüência do escrito, muito menos medo de me expor. É que já estou imaginando a polêmica causada, os comentários sobre o que não disse, os julgamentos espirituais e todas as barbáries do gênero. Mas vamos lá, pois a “coisa tá demais”. Tenho visto, lido e ouvido muitos disparates por aí, que merecem comentários, reflexões e um posicionamento a respeito. Do que estou falando? Calma, meu leitor, que lá vamos nós.

Há duas semanas, uma aluna minha presenteou-me com o livro A lei do reconhecimento, de Mike Murdock (tradução de Aline Grippe, editora Central Gospel). Fiquei muito emocionado pelo gesto dela, pois gratidão é artigo escasso neste mundo e isso já é assim há muito tempo, nosso Jesus que o diga (por acaso: lembra-se da parábola dos dez leprosos? Dez curados e apenas um volta para agradecer pelo milagre...). Tenho plena convicção de que ela quis me ajudar a tornar-me um profissional melhor, um ser humano melhor com a leitura desta obra, mas... Bem, deixemos a grata e ilustre aluna de lado, e desembrulhemos o presente.

Ao chegar à minha casa e entrar em meu escritório, peguei o livro e o deixei na pilha de leituras a serem feitas. Antes, não agüentei de curiosidade e comecei a folheá-lo, o que sempre faço com todos os livros que chegam às minhas mãos – muitos, pois sou professor de Literatura Brasileira. Não gostei do título – típico de literatura de auto-ajuda, best-seller que vende muito e acrescenta pouco –, mas tentei vencer a minha mania de implicar com tudo e continuei com a leitura da capa. No alto, aparecia o seguinte texto: “descubra os dons, as oportunidades e os relacionamentos que Deus já colocou em sua vida”. Até aí, tudo bem. Editora? Central Gospel, aquela do Pastor Silas Malafaia, a quem imputo como um homem sério, apesar de não apreciar totalmente seu estilo. Passou. No verso do livro, um texto explicativo e esquemático sobre a obra, num tom de propaganda, muito próprio para um texto de verso. Passou também. Finalmente, uma pequena síntese do currículo do autor, cujos fragmentos mais interessantes transcrevo aqui:

“(...) um dos oradores mais dinâmicos da América. Milhares de pessoas em 38 países têm participado de suas Escolas de Sabedoria e Conferências. (...) recebe centenas de convites para ministrar em igrejas, universidades e empresas. O pastor Mike é autor de mais de duzentos livros, inclusive o best-seller Segredos do homem mais rico que existiu. Milhares de pessoas assistem ao seu programa de televisão semanal Chaves de Sabedoria com Mike Murdock. Muitos freqüentam suas Escolas de Sabedoria que ele promove nas maiores cidades dos Estados Unidos e em sua igreja”.

Uau, que currículo, não? Entretanto, como engolir tais palavras? Dar um nome de uma escola de Escola de Sabedoria é algo ridículo, não? Para não dizer pedante, para não dizer pernóstico, para não dizer “picaretoso”. Mike faz palestras em igrejas, universidades e empresas; isso mesmo, tudo a mesma coisa, falando sobre suas “palavras de sabedoria”. Olhe, meu leitor, eu fico só pensando comigo: em quais universidades ele encontra público para suas idéias e seus textos? Em Harvard, Princeton, Yale, Stanford, MIT? Provavelmente não. Agora, infelizmente, creio que as igrejas de fato lotem para ouvir o que ele tem a dizer ao povo cristão. Outra pergunta impertinente? Quem é capaz de escrever, de fato, duzentos livros? Asseguro que é impossível alguém possuir obra tão vasta e tão boa; quem escreve muito acaba escrevendo mal. Bem, pelo que você deve ter notado, minha intransigência se manifestou mesmo. Resolvi então abrir as páginas de meu presente, a concha que guardava a pérola da sabedoria.

Na apresentação, Silas Malafaia define muito bem Murdock: um conferencista motivacional. Exatamente como tantos que vemos por aí, contratados mais ou menos da seguinte forma: as grandes empresas sabem que a parte do corpo mais sensível de seus funcionários é o bolso. Dar aumentos significativos para muitos trabalhadores seria a grande motivação necessária a um melhor desempenho; entretanto, fica muito caro e em desacordo com os princípios de administração deste capitalismo inescrupuloso que vemos prosperar por aí. O que se faz? Contrata-se um Murdock da vida, por um salário de alguns milhares de dólares, para que o sujeito venha e faça a sua exposição de idéias prontas. Destaque na mídia, projeção pessoal dos diretores e uma grande cortina de fumaça, que se dissipa diante das primeiras situações do cotidiano. Uma pena, meus caros, que esta é a literatura que ocupa a maior parte das gôndolas das livrarias evangélicas brasileiras; cortina de fumaça para as situações reais de nossa vida, que nos intoxica com vapores nocivos à fé genuína, ao intelecto sadio e a uma vida equilibrada.

Viro uma página e chego ao sumário. São 31 capítulos, mais uma introdução do autor (“Por que escrevi este livro”) e, ao final, sua biografia. O primeiro capítulo refere-se à lei que dá título ao livro, e os restantes seguem o seguinte esquema: “Reconhecimento de X”. Alguns capítulos parecem bastante nobres pelos títulos que possuem: Reconhecimento da voz do Espírito Santo (cap. 2), ... de uma idéia inspirada por Deus (cap. 9), ... das próprias limitações (cap. 26). Outros, provocam-me intensa inquietação: ... da Bíblia como seu manual de sucesso supremo (cap. 31). Não, nem preciso ler tal capítulo para repudiá-lo. Por quê?

A Bíblia sagrada como um manual de sucesso supremo... Um livro tão rico, de valor moral, literário, histórico e filosófico, reduzido a mera obra de auto-ajuda. Ora, por favor, Mike e leitores, a Bíblia não pode ser vista assim, por vários motivos, mas um só já é o suficiente: um manual traz respostas diretas e objetivas para uma série de situações. A Bíblia não é assim. Não é mesmo. Muitos a chamam de “manual do fabricante” e de outros apelidos simpáticos. Porém, o fato é que a Bíblia nos deixa muito mais perguntas do que respostas. Sua grandeza está justamente nos questionamentos a que nos leva, nos princípios estabelecidos, alguns muito simples, como a salvação em Cristo Jesus, e outros extremamente complexos, como redenção, adoção, predestinação, justiça divina e tantos outros.

Bem, continuo na minha tentativa de leitura e chego ao texto de introdução: “Por que escrevi este livro”. Transcrevo as primeiras páginas:

“Já andei pelas ruas de Calcutá, na Índia, com o grande missionário Mark Buntain, e senti o terrível cheiro da ignorância. A decadência, a angústia e a tragédia humanas são sempre resultado da cilada da igonrância”. – Ora, quer dizer que a Índia se encontra na situação atual em virtude da ignorância? E o que dizer da opressão imperialista britânica até meados do século 20? Os branquinhos, limpinhos e riquinhos bretões nada têm a ver com a miséria, sujeira, fedor, decadência, angústia e tragédia presentes na Índia? Inacreditável.

“Amo a sabedoria.

Gosto muito de observar o notável progresso e as milagrosas mudanças que ela promove”.

Sou revigorado quando observo as pessoas que conseguem a chave de ouro da sabedoria, destrancam a porta e deixam entrar o sucesso em sua vida.

Chaves pequenas destrancam portas de ouro.

Pequenas mudanças podem criar grandes futuros.

Tenho notado ao longo dos anos que a vida envolve uma coleção de leis e princípios. Descobrir essas leis pode mudar radicalmente o curso de sua vida... instantaneamente... para sempre.”

Cheguei a reler várias vezes esse texto, não acreditando no que estava escrito. Como alguém pode levar a sério um livro como este? Estilisticamente, a metáfora da “chave de ouro da sabedoria” soa totalmente cafona para os dias de hoje. É de fato um chavão, um lugar-comum de péssimo gosto. Ora, os mais “instruídos” dirão que é uma imagem bíblica. Sim, e na Bíblia a imagem é totalmente válida, levando-se em consideração o contexto e a sua originalidade.


Agora, repetir a mesma imagem não representa o mesmo valor estético. Só faltou como fundo musical para o último parágrafo transcrito a vinheta “Organizações Tabajara”. Mudanças radicais, instantâneas: até parece que estamos diante de um daqueles canais de TV que vendem de tudo.
Bem, chega de analisar o livro, já é o suficiente. Infelizmente, muitos pregadores-palestrantes têm vestido o evangelho de Cristo – algo tão rico sob todos os aspectos: artístico, filosófico, cultural, social – com as roupas grotescas do marketing e das técnicas de vendas. Comercialmente, muitos ganham dinheiro com empreitadas desse tipo, apoiadas pelo argumento-pretexto de difusão do evangelho e dos princípios bíblicos. A verdade é que precisamos urgentemente de livros melhores, de músicas melhores. Precisamos ditar as tendências ao mundo e, não, sermos linha genérica de novidades seculares.

Houve um tempo em que a música feita nas igrejas influenciava toda a música secular – e assim nasceram o jazz, o blues, o rock, o soul e tantas variantes. Houve um tempo em que cristãos influenciaram decisivamente o mundo: Jorge Miller, Spurgeon, Martin Luther King e tantos outros. Creio ser este o papel da igreja e do cristianismo: ser uma voz original, santa e decisiva aos homens e à sociedade de seu tempo. Há bons livros, cd’s e dvd’s à disposição. Espero que procuremos selecionar melhor o que lemos e ouvimos. Espero que cada cristão-consumidor desperte de sua inércia mental e procure ir além da gôndola dos mais vendidos; procure ler as letras das canções; procure refletir sobre o que se diz por aí; procure pensar e colocar seus pensamentos na presença de Deus; procure fugir do óbvio e do repetitivo.

Bem, este foi o meu tamborilar de dedos e de cérebro, revelando minhas dissonâncias em relação ao que se vê-lê-ouve por aí. Vale discordar, vale criticar; só não vale distorcer as minhas palavras. Meu desejo é aguçar o pensamento crítico de você, ilustre leitor, cristão e cidadão, o que produz, a meu ver, uma fé genuína de fato.


Fábio Bettes

8 comentários:

Anônimo disse...

esiste muitos livros quenao tem nada com nada,e aspesoas acabam falamdo nada com nada.

Anônimo disse...

ola adoreio texto
axo que se as pesoas nao se comsiemtisarem no que vao ler
acabam falado coisa que nao tem nada ve.

Anônimo disse...

oi Douglas adorei o texto
axo que se as pesoslesem livros boms so iriam falr coisas boas.

Raphael Calaça (23 Anos) disse...

Olá, discordo de algumas afirmações suas, porém a realidade de alguns fatos podem ter sentidos na vida de muitos cristãos, não cheguei a ler o livro, nem conheço o autor. Mas acredito que o único livro que pode realmente mudar a vida de um ser humano seja a Bíblia, ela não precisa de nenhum suporte.

douglas reis disse...

Raphael,

Lembre-se que as afirmações não foram feitas por mim (Douglas); o texto é da autoria de Fábio Bettes, com quem eu compartilho de muitas das opiniões, as quais ele expressou por meio deste texto gentilmente cedido para o meu blog.

Anônimo disse...

Quem é você mesmo?
Quantos livros você escreveu?
Em quantos lugares você já deu seminários?
Você é conferencista internacional?
Você deve ser um poço de sabedoria?
Quando Deus fez o mundo, onde você estava?
Quem é você mesmo ?

Anônimo disse...

Meu caro, em alguns pontos você tem razão no que diz respeito ao povo não buscar conhecimento, mas hoje idéias e filosofia não enche barriga de ninguém. Vemos muitos "amantes da sabedoria" que levam uma vida de derrotas, não tem uma família nenhuma projeção, vivem as margens " no mundo das idéias". A Bíblia é sim um livro histórico, político, mas muito mais um livro espiritual, profético e sacerdotal que nos serve de bússola para alcançarmos uma vida plena. Em Izaías 1:19 a bíblia diz que se quisermos e ouvirmos as palavras que vem da parte de Deus, comeremos o melhor desta terra. Precisamos dar frutos para Deus em todas as´áreas. Quantos se dizem amantes da sabedoriam repudiam livros como esse que surgem o coração de Deus e tem uma vida vazia totalmente frustrada, não tem paz , família, uma vida decente, e é esse o grito que vem do coração de Deus para as nações da Terra, que escutemos a Sua voz para vivermos uma vida não só de idéias, mas de ffrutos e resultados.

Thais disse...

Não conheço o autor e nem seus livros. O único livro que muda nossas vidas é a Biblia, mais existem muitos livros bons, onde seus escritores foram inspirados por Deus. Mais uma coisa discórdo de vc, a INDIA padece pela sua ignorância, pela falta de conhecimento e por insistir em adorar deuses pagãs, infelismente são verdadeiros fantoches de satanás e realmente espero que os olhos dessas pessoas se abram para o conhecimento da verdade.