segunda-feira, 15 de março de 2010

PRETINHO BÁSICO


Era domingo e eu acabara de fazer uma visita para uma mulher afastada da igreja. Saíra da casa, entrara no carro, dera a partida e… nada! O carro não saiu do lugar. Meio constrangido, falei com a pessoa e ganhei uma carona ao posto de gasolina mais próxima.

Enchi duas garrafas plásticas emprestadas com gasolina e voltei aonde estava meu carrinho, inerte. Achei que a dose de gasolina resolveria o problema, uma vez que o painel indicava que o combustível estava na reserva. Porém, para minha surpresa, meu automóvel continuava autoimóvel. Conclusão: a mulher, seu marido e seus irmãos tiveram de empurrar meu carro, até que ele “pegasse”.

Fiz a próxima visita. Conversamos, lemos a Bíblia e oramos. Quando fui sair… bem, você já imagina. Precisei de mais outra família para empurrar meu carro. Alguém me disse jocosamente que “família que empurra o carro do pastor unida, desce ao tanque batismal unida!”

Ainda precisava buscar minha esposa no centro da cidade. A cada semáforo fechado, eu reduzia um pouco, mantinha a distância, e continuava avançando devagar, sem jamais parar o veículo de vez. Acontece que, mesmo com toda essa manha, o carro me deixou na mão novamente. E como pouco azar não me agrada, lá estava eu, no centro da cidade, procurando quem empurasse minha máquina, em plena chuva. Além disso, faltava buscar minha esposa, encontrar um mecânico e ir pregar na igreja centreal… (no final, deu tudo certo, com algum esforço.)

Tenho um Corsa 96. Meu carro é do século passado. Ele já conta com quatorze anos e, decididamente, não quero estar com ele em sua maioridade.

Eu me lembro de quando dava estudos bíblicos a pé. Andava o dia inteiro, até o pé criar bicho. Emagrecia a cada mês. Depois de casado, ainda continuava a pé ou dependente de caronas. Até que eu e minha esposa nos esforçamos para comprar nosso primeiro carro.

Fizemos algumas viagens inter-municipais e inter-estaduais com o nosso Corsa. Ele é econômico e atende bem às necessidades de um casal sem filhos. Ou, pelo menos, atendia.

Nos últimos meses, tem trazido alguns gastos, dado algumas dores de cabeça. “Pastor, e o carro?”, às vezes me perguntam. “Está bem, no mecânico”. Em todo caso, do primeiro carro a gente nunca se esquece. Sempre terei em mente o número da placa, da cor do estofado, as histórias, as multas (bem, desta parte posso até me esquecer…). Costumo brincar dizendo que é carro de pobre, mas é meu, paguei por ele. Não dizem que ter algo preto é básico? E lá vou eu, pelo verão afora, num carro preto, sem ar-condionado.

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