O rap é um fruto rebelde da música
negra, historicamente queixosa e revigorante, em constante luta contra o
preconceito e a discriminação, além de manifestar o orgulho de uma raça criada,
como as demais, à imagem e semelhança de Deus. Dos spirituals, com
suas referências a Moisés e ao Céu, ao rap, com seu
rancor violento servindo de crônica da periferia, a música negra ganhou
notoriedade. Seja pelas síncopes nas canções religiosas, ao ritmo frenético do jazz, do ritmin’ blues, a black music tornou-se linguagem universal – das
periferias de São Paulo, às comunidades minoritárias na Inglaterra, aos
movimentos de renovação musical na China e Japão.
O Brasil tem seus rappers. Não são
ainda badalados e multimilionários, como os americanos. Mas fazem barulho,
atraem a mídia e fazem shows caríssimos. Entre os rappers da velha guarda, está o famigerado Racionais MC’s. O grupo tem canções que extrapolaram os guetos para agitar
as festas dos playboys,
ironicamente a quem eles mais criticam!
Na última sexta-feira, o líder do
grupo, o cantor (?) e pensador (????) Mano Brown fez algumas declarações
polêmicas. Em meio às recentes conquistas do BOPE e das Forças Armadas, que
expulsaram traficantes das comunidades cariocas Vila Cruzeiro e Complexo do
Alemão, Brown acusou: "Para mim, o Bope não é herói. Os heróis estão
presos." A frase foi publicada no jornal Folha de São Paulo.
É claro que a declaração foi um
tiro no pé. Não poucos acusaram o rapper de apologia ao crime. É claro que não
seria a primeira vez, considerando algumas das letras do Racionais. Eu, que
não sou (e, muito menos, gostaria de ser) especialista em rap, fui em
busca de letras “entoadas” (ou faladas, sei lá…) por Mano e sua trupe.
Encontrei exemplos interessantes de apologia ao crime, como esta obra prima de
nossa língua “inculta e bela” (nesse caso, mais inculta do que bela…):
O beck está queimando
Fumaça sobe
Eu tenho a impressão de estar ouvindo vozes
Parado nessa estrada fico pensando
Pra onde este caminho está me levando
[…] a minha mente anestesiada
não percebia o quanto eu gritava
com a explosão da fogueteira
que iluminava nossa Vila Flávia
enrolando um baseado com os irmãos
diretoria presente sem confusão
Flor Vila Cruzeirinho
Vai quem quer e Noroeste"
Cada um, cada um/ O beck está queimando (aparentemente, as duas canções têm a mesma letra; aliás, reproduzi as letras com a grafia do site em que as encontrei; o mesmo vale para as demais letras).
Fumaça sobe
Eu tenho a impressão de estar ouvindo vozes
Parado nessa estrada fico pensando
Pra onde este caminho está me levando
[…] a minha mente anestesiada
não percebia o quanto eu gritava
com a explosão da fogueteira
que iluminava nossa Vila Flávia
enrolando um baseado com os irmãos
diretoria presente sem confusão
Flor Vila Cruzeirinho
Vai quem quer e Noroeste"
Cada um, cada um/ O beck está queimando (aparentemente, as duas canções têm a mesma letra; aliás, reproduzi as letras com a grafia do site em que as encontrei; o mesmo vale para as demais letras).
Contrassensualmente, em outra
canção, Brown adverte os jovens contra as drogas, especialmente o crack:
O vício tem dois lados.
Depende disso ou daquilo,então tá tudo errado.
Eu não vou ficar do lado de ninguém, por quê?
Quem vende droga pra quem? Hã!
[…] “Molecada sem futuro eu já consigo ver”
Periferia é periferia.
“Aliados, drogados, então...”
Periferia é periferia.
“Deixe o crack de lado, escute o meu recado.”
Periferia é periferia
Mesmo entre rappers, Mano já
é criticado há muito por sua postura; afinal, o cantor que censura tanto os playboys, gosta
de adornar a cara de mau com roupas caras e correntes, além de passear com belos
carros (e, conta-se, de participar de rachas). No fundo, o melhor retrato de
Mano Brown foi pintado pelo próprio artista:
Esses caras daqui metidu a
ladraozinhu mais na verdade e tudomauricinho. A vida é assim
Nenhum comentário:
Postar um comentário