No controverso universo das igrejas neopentecostais, muitas
práticas e doutrinas têm atraído os pesquisadores. Neste breve artigo, quero
sugerir que a nomenclatura adotada pelos líderes neopentecostais denota certas
ênfases distintivas do movimento. Todavia, antes pretendo esboçar alguns dos títulos
usados pelos cristãos para designar seus líderes. A listagem está longe de ser
extensiva ou de se pautar por rigor histórico. Ela é concisa pela intenção de
ser evocativa e servir para efeito de contraste com a realidade neopentecostal.
No NT, temos os epíscopos, que as versões modernas traduzem acertadamente como bispos.
O termo designa líderes locais. De forma intercambiável, temos os presbíteros, expressão que remete ao vocábulo grego para velho. Talvez a
ideia aqui não seja a de uma liderança baseada em critérios meramente
cronológicos, porém, que o termo expresse a maturidade dos líderes cristãos,
experimentados pela comunidade. Além desta função, haviam os apóstolos, literalmente aqueles que eram “enviados para longe”, uma
espécie de missionário, atuando rotativamente para estabelecer novas
congregações, a exemplo de Paulo, ou restrito a um determinado perímetro, como
os apóstolos que se estabeleceram em Jerusalém. Inicialmente, a palavra
designava exclusivamente os doze líderes originais, os quais foram escolhidos
por Jesus. Na eleição de Matias, o critério que os apóstolos remanescentes
adotaram foi escolher quem havia testemunhado como eles o ministério de Jesus.
Ao longo do Novo Testamento, o apostolado se amplia, ganhando outras conotações,
bastante debatidas entre os teólogos. Os pastores também são mencionados, de forma que
sua função guarda muitas semelhantes com os dois títulos primeiramente citados.
Nos primeiros séculos, parece ter havido uma supervalorização da
chamada sucessão apostólica, ou seja, de líderes que tinham uma relação direta
com os primeiros apóstolos. O conceito somente ganhou forma (e equivocadamente)
quando a igreja romana predominou sobre as demais. Neste período, o próprio
conceito de Bispo já havia ganho uma importância extra além do âmbito
espiritual, enveredando para a esfera política. Na Idade Média, com o advento
de um monasticismo cristão, o clero paroquial (baixo clero) ficou altamente
desvalorizado. Mas, em geral, pertencer ao clero já indicava vantagens sobre a
sociedade comum, laica. De padres, bispos, arcebispos e cardeiais até o Papa, tudo
ganhou contornos de um jogo político, às vezes bem delineado aos olhos da
sociedade secular.
Com a Reforma Protestante, retomou-se a nomenclatura mais discreta
do Novo Testamento para os líderes: pastor. Não que essa fosse a única forma
como os líderes protestantes foram intitulados. Algumas das designações mais
persistentes: epíscopos, bispos, reverendos (lit.: aquele que merece reverência,
o que, biblicamente se aplica apenas a Deus), etc. No Brasil, se popularizaram
termos como missionário (muito usado com a chegada dos primeiros pregadores,
que queriam evitar o preconceito da cultura católica dos nativos) e pastor.
Tendo sumarizado brevemente algumas das formas pelas quais os
cristãos trataram ou tratam seus líderes, quero voltar a atenção para o meio neopentecostal,
designação usada para igrejas que se caracterizam por ênfases como pregação agressiva
na mídia, teologia da prosperidade e estratégia de expansão em número de fiéis
e congregações. Os líderes neopentecostais, a princípio, usavam a nomenclatura
mais corrente no meio dito evangélico – eram conhecidos como pastores. Com o
passar do tempo, surgiram bispos e, mais recentemente, apóstolos. O que essa
ordem sugere? Como essa mudança se relaciona com a ideologia dos líderes de
igrejas mais recentes? Longe de dar respostas definitivas, exponho duas
percepções relacionadas a essa mudança de nomenclaturas:
a) A escolha de designações usadas na Bíblia ocorre pela
necessidade de expressar autoridade, e não necessariamente de identificar-se
com os líderes do passado ou sua mensagem: o nome apóstolo hoje é empregado por fundadores de novas denominações
por sugerir superioridade em relação a pastores (pois tantos há!) e, assim,
fomentar uma aura de reverência em relação ao ministério estabelecido,
reverência indissolúvel da pessoa de seu expoente máximo, uma vez que tais
igrejas possuem liderança personalista e autocrática;
b) O apostolado hoje procura estabelecer uma conexão direta com
Deus, criando uma antítese entre aqueles que seguem o líder e os insubmissos: se o apóstolo é enviado por Deus, quem se opõe a ele tem de,
necessariamente, fazer eco aos desígnios satânicos. Com isso, o líder neopentecostal
se defende prolepticamente contra toda crítica (ainda que bem fundada) e deixa
implícita a obediência cega que todos lhe devem e à sua visão ministerial.
Uma crítica possível aos autoproclamados apóstolos consiste na
insuficiência da legenda. Não basta ter nome de apóstolo, se a doutrina não é
bíblica e a mensagem não passa de um neoliberalismo adocicado com extrato de
Evangelho. Nem mesmo o crescimento dessas congregações justifica a adulteração
da mensagem bíblica, ou o exercício de uma liderança ditatorial, sendo que a
Bíblia defende a liderança servil, voluntária e auto-sacrifical. Deus espera
mais do que líderes de nomeada ou gerentes de igreja – ele quer homens de fé
robusta e identificação cabal com a Obra, para que a pregação alcance o mundo.
2 comentários:
Ótimo, eu encontrei o que eu estive olhando para
Ótima postagem!
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