Sendo
Deus quem a Bíblia afirma, os cristãos são responsáveis pela transmissão de
conceitos corretos a respeito da divindade, ou, em caso contrário, incorrerão
em idolatria (adorando uma imagem irreal acerca de Deus, em substituição a quem
Ele é de fato).
A
necessidade de tornar Deus relevante não pode nos fazer escolher as Suas
características atrativas, ao passo que ignoramos aquelas que podem soar
contrárias ao pensamento pós-moderno – como a imagem bíblica de um Deus que
traz a justiça e age como um guerreiro em favor de Seu povo e que traz destruição
sobre os ímpios (Dn 12:2; Ap 6; 18). Alguns pontos a serem pensados:
1)
Testemunhar sobre Deus é estar sempre pronto a dar as razões da nossa fé (I Pe
3:15). Esta é a alma da apologia, atividade que os cristãos têm realizado ao
longo de sua existência, confrontando o que creem com o que a sociedade ao seu
redor acredita. Ser cristão, portanto, é ter uma postura crítica,
não-conformista (Rm 12:2).
Alguns
argumentariam que não deveríamos agir como advogados de Deus, mas, sim, ser
suas testemunhas. Claro que essa opinião ignora o uso que Pedro fez da palavra
grega apologia (I Pe 3:15), que significa fazer uma apresentação em defesa de
algo. Se fosse errado "ser advogado", o apóstolo Paulo jamais
escreveria suas cartas, nas quais há longas sessões de polêmica contra os
chamados "falsos apóstolos" (cf.: I Co 4 e 9, por exemplo)!
É
claro que agir de forma apologética intencional não substitui o viver para
Cristo – e vice-versa. Jesus também gastou muito de seu tempo corrigindo as
visões distorcidas dos líderes de sua época (Mt 23, por exemplo).
Defender
a verdade com argumentos racionais faz parte de nossa comissão – é a maneira
cristã de avaliar abordagens e perspectivas seculares e, ao mesmo tempo,
oferecer algo melhor.
Os
pioneiros adventistas, infelizmente, focalizaram seu ministério apenas em
apologia. E houve considerável demora para que se buscasse um equilíbrio entre
a defesa da Verdade e sua apresentação mais positiva. Penso que hoje temos
invertido a problemática: tentamos ser simpáticos, assimilando aspectos
culturais na tentativa de soar "palatáveis", mas deixamos de pensar
de forma cristã sobre os valores de uma sociedade que se corrompe a cada
instante.
2)
O diálogo com a cultura pós-moderna inclui estratégias para alcançar as pessoas
com a mensagem cristã, sem rebaixar os nossos princípios. Aliás, foi isto que
Paulo fez, em diversas ocasiões. No entanto, Paulo não transigia princípios.
Um
exemplo disto é seu discurso no Areópago (At. 17), totalmente adaptado a uma
audiência pagã. Agora, mesmo ali, Paulo pregou sobre o modo de Deus agir na
História, apresentando os tópicos da Criação, Adoração, Redenção, Juízo e
Ressurreição. É claro que o auditório que o ouviu mostrou-se dividido, e alguns
chegaram a hostilizar o apóstolo. Por quê?
Será
que se Paulo não fosse tão incisivo poderia ter sido mais popular? Se ele
concentrasse seu discurso na apresentação de um Deus que aceita as pessoas do
jeito que elas são não teria sido convidado a falar outras vezes naquele
ambiente pagão?
A
verdade deve ser apresentada. De formas diferentes, é certo. Mas sem máscaras
ou distorções. Se adicionarmos algo a ela ou diluirmos sua mensagem, a Verdade
deixa de ser o que é e perde o seu poder.
3)
Alguns querem nos fazer crer que qualquer forma de evangelizar é válida. Para
endossar isso, apresenta o resultado em número de conversões. O argumento do
sucesso é o mais banal que pode existir, principalmente se analisarmos o tipo
de músicas ou filmes que fazem sucesso hoje nos meios cristãos, muitos dos
quais bastante incompatíveis com o caráter de Deus. Não basta atrair pessoas a
Jesus de forma ilegítima, caso contrário, estaríamos desonrando Seu nome e
rebaixando Suas santas exigências.
Um comentário:
E depois do discurso no Areópago, segundo EGW, Paulo chega a conclusão de que o ser "popular" não era tão vantajoso como ele pensou que fosse.
"A experiência do apóstolo Paulo ao defrontar-se com os filósofos de Atenas encerra uma lição para nós. Ao apresentar o evangelho no Areópago, Paulo enfrentou a lógica com a lógica, ciência com ciência, filosofia com filosofia. Os mais sábios de seus ouvintes ficaram atônitos e emudecidos. Suas palavras não podiam ser controvertidas. Pouco fruto, porém, produziu seu esforço. Poucos foram levados a aceitar o evangelho. Daí em diante Paulo adotou uma diversa maneira de trabalhar. Evitava os argumentos elaborados e as discussões de teorias e, em simplicidade, encaminhava homens e mulheres a Cristo como o Salvador dos pecadores." - A Ciência do Bom Viver - p. 214
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