Eu deveria ter dez anos ou menos. O menor entre os outros judocas, que exibiam as cores de suas faixas diante da minha, que era branca. Estávamos todos em um treino, quando, por alguma razão que os anos apagaram, meu professor saiu de sob o tatame.
Ao ele sair, um sentimento de apreensão dominou a nós todos, seus alunos. Em poucos instantes, não apenas o sensei tinha voltado, como havia ordenado aos discípulos que encostassem na parede. Na mão direita, ele trazia uma vara de bambu. Teríamos de pagar pela indiciplina.
Um a um, pude ouvir os gritos e ver as expressões. Não me será possível dizer se eram faces de disfarçada revolta ou de dolorosa submissão. Sou capaz de contar quando chegou a minha vez. Eu, o menor, o faixa branca, o mascote. A mão do sensei prestes a desferir o golpe, quando...
O rapaz à minha direita se pusera à frente. Foi seu grito, não o meu. Sem falar, ele voltou a se encostar na parede. Alguns reclamaram. "E o Douglas?" "Ele não precisa, outro já apanhou no lugar dele", afirmou secamente o mestre, enquanto seguia aplicando varadas nos últimos da fila.
Gosto de me lembrar desta história não apenas por ter sido o único a deixar de apanhar naquele dia. Gosto por outro motivo. Esta recordação me faz refletir em outro ponto da História, quando, coincidentemente, um golpe também iria ser desferido.
Um golpe para punir o indecente, para castigar o mentiroso. Na verdade, era um castigo mais do que justo para o desonesto. Todo homem violento tinha que sofrer a pena. A mão da Justiça prestes a desferir o golpe, quando...
O rapaz judeu ao lado dos pecadores se pôs à frente. Foi seu grito, não o nosso. Sem falar, ele desceu à sepultura. Apenas satanás reclamou: "E o homem?" "Ele não precisa, Outro já apanhou no lugar dele", afirmou graciosamente o Pai, enquanto acabava de reconciliar consigo Mesmo o mundo.
"Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si [...] ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados." Isaías 53:4 e 5.
Nenhum comentário:
Postar um comentário