Casal Nardoni: muito tempo para se arrepender...
Estávamos assentados à mesa, um pouco antes do almoço. Meu interlocutor: um caminhoneiro insólito, bem desiludido com a religião, mas munido de argumentos sui generes em favor do Catolicismo. À certa altura, a conversa tratou do julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. “Acho que em casos como esse”, dizia-me o caminhoneiro, “nem deveria haver julgamento; era pena de morte!”, concluiu, soltando uma baforada de cigarro.
Conversamos mais. Ele remeteu à história de Ananias e Safira para estabelecer que, em determinadas ocasiões na Bíblia, os culpados por um crime foram punidos com a morte. Em resposta, refleti com ele sobre alguns pontos da mesma história, narrada em Atos 5. Agora, passado um dia, posso ampliar minhas considerações. Explorarei semelhanças e distinções entre os pares de criminosos mencionados, baseado na ética bíblica.
Em que se assemelham os Nardonis e a família de Ananias? Ambos cometeram um crime, esconderam o que fizeram, mas acabaram punidos. Obviamente, todas essas aproximações são gerais, embora não sejam artificiais. A natureza de cada um dos aspectos paralelos é marcadamente diversa, embora não o suficiente para desfazer os paralelos.
Analisemos alguns dos pormenores: o crime dos Nardonis foi hediondo. A perícia revelou que, ainda consciente, a menina Isabella viu-se agredidana sala do apartamento do pai, passou por estrangulamento, para, finalmente, ser lançada do 6o andar do Edifício London.
Alguns poderiam arrazoar que perto disso, o que Ananias e Safira cometeram foi um crime muito menor! Aliás, o relato os apresenta mentindo sobre o valor de uma propriedade, ao alegarem que sua doação à comunidade se tratava da quantia integral da transação quando, em verdade, correspondia à parte do ganho. Isso seria, de fato, crime? Esse tipo de fraude se enquadraria no Código Penal? Afinal, quem foi prejudicado pelo seu erro? É preciso que nos perguntemos: todo crime é um pecado? Todo pecado é um crime? Não, em ambos os casos.
Uma definição simplista (mas útil aqui) para crime abarcaria tudo o que é contrário às leis estabelecidas, as quais partem de noções morais ulteriores. A moral é o grande impulso legislador. Mas a moral bíblica possui concorrentes. De fato, leis que sancionam o aborto, promovem os direitos homossexuais e favorecem o concobinato, por exemplo, são contrárias ao espírito dos ensinamentos das Escrituras. Desrespeitar leis assim seria um crime, com pena prevista em lei, sem constituir, necessariamente, um pecado contra Deus.
Alguns pecados, igualmente, não são enquadrados em lei alguma, conquanto firam a moral da Bíblia e, em muitos casos, até o senso moral comum. Um homem que de sua janela observe maliciosamente a vizinha indiscreta se trocando jamais será preso, sequer citado, pelo que fez. Contudo, Jesus declarou que, se um homem fantasiasse sexualmente com uma mulher que não fosse sua esposa, isso seria adultério (Mt 5:28) e, logo, quebra do sétimo mandamento (Ex 20:14).
Voltando a Ananias e Safira, o que se pode dizer sobre o que fizeram? O apóstolo Pedro deu-lhes a vigorosa senteça: O que fizeram desonrou a Deus, porque quebrando um juramento de forma banal, tratando a Deus com leviandade. O pecado da irreverência (desrespeito pela Pessoa de Deus) foi punido com morte. Notemos que a morte não ocorreu devido a atuação humana. Pedro não sacou de uma espada. Deus mesmo os feriu e matou (At 5:5, 10). Uma intervenção divina executou o casal rebelde.
O Novo Testamento não apoia explicitamente a pena capital; no máximo pressupõe sua existência nas mãos do governo civil (Rm 13:1-4), reconhecendo o valor da obediência e sem discutir muito a validade do princípio. Não temos mais a teocracia, onde Deus e Seus agentes aplicavam sentenças de morte em casos específicos.
Em um país no qual tantos se veem presos injustamente, seria temerário endossar a pena de morte. Quantas injustiças irreparáveis seriam cometidas? Ademais, penso que o único que possui direito sobre a vida humana seja Deus – sei que Ele, em Pessoa, julgará a todos com justiça. Enquanto isso, a graça paira sobre todos, até sobre Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Já que terão muito tempo – 31 e 26 anos de sentença, respectivamente –, que eles aproveitam a oportunidade para se arrpenderem e buscarem o perdão divino, enquanto sofrem o julgamento justo dos homens.
Conversamos mais. Ele remeteu à história de Ananias e Safira para estabelecer que, em determinadas ocasiões na Bíblia, os culpados por um crime foram punidos com a morte. Em resposta, refleti com ele sobre alguns pontos da mesma história, narrada em Atos 5. Agora, passado um dia, posso ampliar minhas considerações. Explorarei semelhanças e distinções entre os pares de criminosos mencionados, baseado na ética bíblica.
Em que se assemelham os Nardonis e a família de Ananias? Ambos cometeram um crime, esconderam o que fizeram, mas acabaram punidos. Obviamente, todas essas aproximações são gerais, embora não sejam artificiais. A natureza de cada um dos aspectos paralelos é marcadamente diversa, embora não o suficiente para desfazer os paralelos.
Analisemos alguns dos pormenores: o crime dos Nardonis foi hediondo. A perícia revelou que, ainda consciente, a menina Isabella viu-se agredidana sala do apartamento do pai, passou por estrangulamento, para, finalmente, ser lançada do 6o andar do Edifício London.
Alguns poderiam arrazoar que perto disso, o que Ananias e Safira cometeram foi um crime muito menor! Aliás, o relato os apresenta mentindo sobre o valor de uma propriedade, ao alegarem que sua doação à comunidade se tratava da quantia integral da transação quando, em verdade, correspondia à parte do ganho. Isso seria, de fato, crime? Esse tipo de fraude se enquadraria no Código Penal? Afinal, quem foi prejudicado pelo seu erro? É preciso que nos perguntemos: todo crime é um pecado? Todo pecado é um crime? Não, em ambos os casos.
Uma definição simplista (mas útil aqui) para crime abarcaria tudo o que é contrário às leis estabelecidas, as quais partem de noções morais ulteriores. A moral é o grande impulso legislador. Mas a moral bíblica possui concorrentes. De fato, leis que sancionam o aborto, promovem os direitos homossexuais e favorecem o concobinato, por exemplo, são contrárias ao espírito dos ensinamentos das Escrituras. Desrespeitar leis assim seria um crime, com pena prevista em lei, sem constituir, necessariamente, um pecado contra Deus.
Alguns pecados, igualmente, não são enquadrados em lei alguma, conquanto firam a moral da Bíblia e, em muitos casos, até o senso moral comum. Um homem que de sua janela observe maliciosamente a vizinha indiscreta se trocando jamais será preso, sequer citado, pelo que fez. Contudo, Jesus declarou que, se um homem fantasiasse sexualmente com uma mulher que não fosse sua esposa, isso seria adultério (Mt 5:28) e, logo, quebra do sétimo mandamento (Ex 20:14).
Voltando a Ananias e Safira, o que se pode dizer sobre o que fizeram? O apóstolo Pedro deu-lhes a vigorosa senteça: O que fizeram desonrou a Deus, porque quebrando um juramento de forma banal, tratando a Deus com leviandade. O pecado da irreverência (desrespeito pela Pessoa de Deus) foi punido com morte. Notemos que a morte não ocorreu devido a atuação humana. Pedro não sacou de uma espada. Deus mesmo os feriu e matou (At 5:5, 10). Uma intervenção divina executou o casal rebelde.
O Novo Testamento não apoia explicitamente a pena capital; no máximo pressupõe sua existência nas mãos do governo civil (Rm 13:1-4), reconhecendo o valor da obediência e sem discutir muito a validade do princípio. Não temos mais a teocracia, onde Deus e Seus agentes aplicavam sentenças de morte em casos específicos.
Em um país no qual tantos se veem presos injustamente, seria temerário endossar a pena de morte. Quantas injustiças irreparáveis seriam cometidas? Ademais, penso que o único que possui direito sobre a vida humana seja Deus – sei que Ele, em Pessoa, julgará a todos com justiça. Enquanto isso, a graça paira sobre todos, até sobre Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Já que terão muito tempo – 31 e 26 anos de sentença, respectivamente –, que eles aproveitam a oportunidade para se arrpenderem e buscarem o perdão divino, enquanto sofrem o julgamento justo dos homens.
2 comentários:
Olá Douglas,
Estou pesquisando sobre "a pena capital e o cristianismo".
Queria seu email, pra fazer umas perguntas.
Seria possivel?
Grata,
Lídia
Oi, Lídia. Ficarei muito feliz em poder ajudá-la. Façamos assim: envie um comentário com seu e-mail. Obviamente, eu não adicionarei o comentário, mas lhe darei o retorno.
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