sábado, 8 de janeiro de 2011

CONSCIENTE




Não foi por mero conforto,
Bem o diria a sobrinha
Que morava na outra quadra.
É certo que, se tentara,
Fora ao menos para a rua
E algum vizinho o veria
(Havia gente por perto,
Crianças atrás de bolas
E senhoras no jardim,
Sendo que muitos sabiam
De suas complicações).
Telefonar? Para quem?
Todos trabalham longe
E, é provável, não viriam
A tempo de socorrê-lo.
Sentou-se no sofá, tonto,
A vista em torvelhinho, ébrio,
Não pelo álcool. Respirou.
Seu semblante contrastava
Com aqueles dos retratos,
Em felicidade plástica,
A narrar, indefectíveis,
Proezas nos bastidores.
Tinha orgulho da família.
Chiava, o peito ebulindo,
Uma tontura de louco,
Dedos vincando no sofá.
Pálido e exausto, decide-se:
Deus foi bom por tantos anos,
Por que se desesperar?
Acordou ao ouvir seu nome.

Um comentário:

FRAM.. disse...

acabei de ler seu livro paixão cega..amei..como todos os outros...parabéns continue sendo uma benção....