A
controvérsia sobre que tipo de natureza humana Jesus assumiu em Sua encarnação
assume um caráter prático, refletido na vivência cristã. Se aceitarmos que Ele
possuía uma natureza humana como a nossa, se Ele foi essencialmente como nós,
podemos ser como Ele, obtendo perfeição absoluta. Contra esta tendência,
relacionada com os termos pós-lapsarianismo (conceito de que Jesus veio com a
natureza pecaminosa) e perfeccionismo (afirmação de que podemos ser perfeitos
nesta vida), o Pr. Amin Rodor ergue sua voz. No artigo Cristo e os cristãos (revista Parousia, revista do Seminário
Adventista Latino-americano de Teologia – Sede Brasil - Sul; 2008, ano 7 – nº
1, p. 45-73), Rodor trata da questão, baseando sua argumentação no ensino
bíblico e nas declarações de E. G. White.
O
tom do artigo, publicado na revista Parusia, é apologético, às vezes sendo
incisivo e mesmo duro com aqueles que, por ignorância ou desonestidade, torcem
a Palavra de Deus, fazendo com que ela apoie suas conclusões precárias. Ainda
assim, o texto de Rodor possui suficiente abrangência para clarear o que os
perfeccionistas soem confundir.
De
início, o professor Rodor estabelece que a “1) extensão de sua [de Jesus]
identificação conosco foi determinada por quem Ele era, e 2) A extensão de sua
identificação foi também determinada por sua missão como Salvador da
humanidade.” (p. 51).
De
forma reincidente, o artigo trata Jesus como um conosco, não um de nós. Mais à
frente, Rodor afirma: “Qualquer leitura responsável de Ellen White não deixaria
passar despercebido o seu cuidado em tornar claro, além da dúvida razoável, que
Cristo não participou da corrupção do homem, de suas paixões ou propensões
malignas, do orgulho humano, inveja, rivalidade, egoísmo ou qualquer inclinação
para o mal. Para ela, mesmo entre Cristo e os cristãos existe uma imensurável
distância.” p. 60.
A
despeito do que afirmaram pioneiros, como A. T. Jones e E. J. Waggoner, e
eminentes denominacionais, entre os quais M. L. Andreasen, defensores do
pós-lapsarianismo, Rodor esclarece que nosso compromisso maior se dá com a
Revelação (p. 65). Neste sentido, o artigo aborda a famosa carta a Baker, um
dos momentos em que E. G. White mais claramente elucida que não podemos
rebaixar o Salvador ao nível comum da humanidade.
De
fato, os autores e ministérios independentes que se apoiam em declarações de
Jones e Waggoner, chegam a defender sua apostasia, além de procurar veicular a
chancela de Ellen White a estes autores. Infelizmente, além da idolatria aos
pioneiros apostatados, a falta de critério em analisar todas as declarações de
White em conjunto pesa contra a integridade da proposta de tais advogados do
pós-lapsarianismo.
Em
vista disso, só podemos agradecer a Deus que nos enviou um Salvador perfeito,
incomparável, como gosta de frisar Rodor. Seu artigo, além de documentar a
concepção de Ellen White, em flagrante contraste com a daqueles que entendem
que Jesus possuísse uma natureza pecaminosa, nos incentiva a perseguir a
verdadeira compreensão – aquela que nasce do entendimento de nossa
pecaminosidade e da certeza de que mediante Jesus, o segundo Adão, podemos
vencer, não como Ele venceu, mas porque Ele venceu. Como entender a graça no
contexto da visão adventista de salvação? A graça se relaciona ao plano de Deus
em reproduzir Seu caráter em nós. Não se resume ao modo como Ele lida com os
pecados que cometemos, mas inclui também o modo como Deus me leva a tomar
decisões práticas, a ser obediente em todas as áreas. Quem confunde obediência
com legalismo deveria, no mínimo, repensar seu adventismo e se perguntar se as
distorções evangélicas não têm afetado sua compreensão da própria salvação.
Temo que muitos se choquem tanto ao ler sobre isso porque sempre pensaram como
evangélicos, sem terem sido ensinados a pensarem como adventistas. Trágico
assim.
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