quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

SURPRESAS DA FÉ - PARTE 1


Zacarias é um nome bíblico bem comum. E, semelhante ao seu nome, estamos diante de um religioso comum, atuando de forma discreta em seu turno. Nada de especial. Quando saiu da cama e calçou seu chinelo, Zacarias não tinha a presunção de encontrar nada além do que se espera ver em um dia de trabalho. Se você olhasse em sua agenda, não veria qualquer menção a algo do gênero: “11 horas: encontrar-se com o anjo no templo”. Todavia, às vezes o extraordinário eclode na esquina de nossa rotina comum.
A coisa aconteceu assim:

Conforme o costume dos sacerdotes, ele havia sido escolhido por sorteio para queimar o incenso no altar e por isso entrou no Templo do Senhor. Durante o tempo em que o incenso queimava, o povo lá fora fazia orações. Então um anjo do Senhor apareceu em frente de Zacarias, de pé, do lado direito do altar. (Lc 1:9-11, NTLH).

Claro que Zacarias sabia quem eram os anjos. Ele já lera sobre eles no Antigo Testamento. Conhecia o relato da visita deles a personalidades como Abraão, Jacó, Manoá e sua esposa (os pais de Sansão) e tantos outros. Ocorre que você não esbarrava em anjos o tempo todo nas ruas de Jerusalém! Aliás, fazia algum tempo desde que o último anjo fizera uma visita ao povo escolhido. Muitos sacerdotes já nem criam mais neles!4 
O que um anjo fazia ali? Sem dúvida, não viera tomar uma xícara com café (ou cevada)! O mensageiro celestial portava um recado. Algo incrível aconteceria. E Zacarias faria parte daquilo – por mais inacreditável que parecesse!
A primeira reação do sacerdote e futuro papai de profeta foi medo. Ele se sentiu profundamente aterrorizado pela companhia repentina. Você já teve medo de algo que Deus fez? Já sentiu o coração ficar abaixo de zero com o toque do Eterno? Era bom demais para crer, mas estava lá, acontecendo diante de seu olhos fora das órbitas.
Claro que o anjo tinha boas notícias. Zacarias veria que suas orações foram atendidas e que ele em breve seguraria seu filho nos braços (Lc 1:13). O cheiro de xampu infantil ficaria impregnado nas mãos cheias de calo. Depois de tantos anos, ele e sua amada Isabel poderiam voltar a pensar em enxoval e economias para as fraldas.
Contudo, não se trataria apenas de um sonho. O pacote completo incluía solene reponsabilidade. O menino seria especial. Um mensageiro de alegria. Traria renovação e satisfação a um povo oprimido pela maldade. A aridez da religião seria irrigada com a mensagem do profeta do Jordão.
O menino seria chamado João, nome que está associado com a palavra para “graça”. Graça é quando o Ser supremo beijo o pó que o cerca e que jamais poderia beijar sua face em retribuição – eu e você somos esse pó, diante do glorioso Deus que nos trata favoravelmente. Não merecemos e recebemos. Isso é graça.
Tudo aquilo soava fantástico. Até demais. Zacarias era um sacerdote, que orava regularmente e que tinha diante de si confirmação sobrenatural de que Deus o ouvira. O que fez ele? Começou a exclamar “aleluia”, enquanto pulava de felicidade? Infelizmente, sua reação tinha o ranço da dúvida que persegue um adorador amargurado:
E Zacarias disse ao anjo: “De acordo com que fato eu saberei disso? Pois, digo por mim, sou um homem idoso, e minha esposa é avançada em anos. E o anjo respondendo, lhe disse: “Digo por mim, eu sou Gabriel que permanece na presença de Deus, e eu fui enviado com a missão de falar a você e lhe mostrar as boas novas dessas coisas. E atente, você estará continuamente em silêncio e não poderá falar até o dia quando essas coisas tiveram lugar, porque você não creu em minhas palavras, palavras de tal natureza que elas se cumprirão em seu tempo estrategicamente apontado. (Lc 1:18-20, New Testament: An Expanded Translation)

Com mal disfarçada descrença, o esposo de Isabel se manifestou. Talvez fosse a vez do anjo se impressionar – “como esses mortais conseguem ser tão cegos?!”
O texto destaca qual seria a punição de Zacarias: sendo que sua fala expressou descrença, sua mudez serviria para convencê-lo de que Deus é capaz de realizar o que desejar. Às vezes, as maravilhas do Céu nos deixam boquiabertos e mudos, de qualquer jeito mesmo…
 Quando o Senhor levanta a voz, o silêncio humano deixa de ser mero requisito para se tornar o hábitat do sábio – pois quem seria tolo para contestar as palavras do Rei do universo? No templo do silêncio, a alma reverencia quem merece ser ouvido.
Foi fácil para o idoso sacerdote conservar-se mudo? Nos próximos meses, ele não pode comemorar a gravidez com Isabel, nem dizer que ela continuava linda quando a barriga começou a se destacar. Não deu muitos palpites nas cores do quarto da criança. Teve de permanecer quieto, de forma embaraçosa.
Contudo, chegou o dia da mudança: o sol se derramou pelas colinas e se deitou sobre a grama, que agora se iluminava de forma especial. Pássaros cantavam apaixonada e febrilmente. Todos na vizinhança acordaram cedo, expectantes. Uma parteira estava profissionalmente ao lado de Isabel, insegura pela gestação tardia. Às contrações aumentaram, os gritos surgiram, os sorrisos despontaram.
João Batista nasceu!

Zacarias, evidente, estava lá, na primeira fila. As circunstâncias lhe faziam ter muito a comentar. Se pudesse, ele teria falado para todos de sua alegria. Porém, ainda estava sem palavras – literalmente. Os presentes reconheciam o nascimento da criança como resultado da misericórdia divina sobre o casal (Lc 1:57); na verdade, como veremos, Deus estendia Sua misericórdia sobre todos ao levantar João Batista.

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