O homem engravatado do outro lado da mesa coçou o cavanhaque e levantou a sobrancelha no que me pareceu um bom sinal.
- Seu currículo é ótimo, para alguém da sua idade - disse o Sr. Assunção - Fale-me um pouco da sua experiência em nossa área.
- Fiz estágio desde meu segundo ano de faculdade - respondi - e meu gerente disse que só não fui contratado em razão de que o quadro da empresa estava completo.
Sem falsa modéstia, posso dizer que eu tinha um bom perfil par$a o contrato desta empresa, mas as palavras que seguiram me causaram certo abalo.
- Sempre falamos isso quando não queremos contratar estagiários - disse o entrevistador e devolveu meu currículo a uma pilha em cima da mesa e recostou-se na poltrona. Havia um ar de desdém em suas palavras e, ao mesmo tempo, um tom de desafio.
- Eu consideraria essa hipótese - respondi, mantendo a compostura, - caso o gerente não tivesse me apresentado formalmente ao presidente da empresa e feito um pedido de contratação para a equipe.
- Então você conheceu o presidente da outra companhia? - perguntou-me e pegou novamente o currículo. - E se, por acaso, eu o contratasse e esse presidente o convidasse para assumir o cargo que anteriormente você buscava naquela empresa? O que você faria?
Essa era uma das grandes oportunidades da entrevista. Era o momento certo de dar uma boa resposta. Arrumei-me na poltrona e falei:
- Sr. Assunção, quando apresentei meu currículo para esta conversa eu tinha duas certezas. A primeira: não estou aqui à procura de um emprego. Busco uma carreira e sei que esta empresa fornece todas as oportunidades para que eu cresça em minha profissão. Quando for admitido em seus quadros, não vou querer sair daqui. A segunda certeza: quando vocês testarem e constatarem minha capacidade, também não quererão que eu abandone a empresa. Podem apostar em mim.
O entrevistador manteve o semblante impassível, mas, desta vez, depositou meu currículo no centro da mesa, onde havia outros poucos papéis.
- Você conhece as condições do contrato e do trabalho? Tem alguma pergunta a respeito ou alguma observação relevante?
Sim, eu tinha uma "observação relevante", algo que, para muitos, era fatal. Embora fosse algo normal para mim, muitos não entendiam o que eu iria falar:
- Eu não posso atender às necessidades da empresa após o pôr-do-sol da sexta-feira até a mesma hora do sábado. Fora esse período, estou à inteira disposição de vocês.
- E qual o motivo?
- Por questão de consciência religiosa - respondi sem rodeios e, a partir daquele momento, o Sr. Assunção parecia estar olhando para um jovem que, no lugar de terno e gravata, trajava uma túnica de dois mil anos.
- Isso pode ser um problema, se não for negociável.
- Então é um problema - eu disse, mantendo o tom formal de toda a conversa e tentando relembrar ao entrevistador que eu não era um terrorista armado com bombas ao redor do corpo, - pois isso é inegociável.
O Sr. Assunção me avaliou por um breve momento. Até posso imaginar o que pensava: "Como um jovem com futuro tão promissor pode colocar em cheque uma chance dessas por motivo religioso?" Seria difícil ele entender, mas eu já estava começando a me acostumar com a falta de compreensão de alguns.
- Tudo bem! - disse ele - Em cinco dias, se a comissão aprovar seu currículo, faremos contato.
Levantamo-nos e nos despedimos com um aperto de mãos.
Saí do grande prédio sem olhar para trás. Cinco dias se passariam e não me ligariam. Aquilo não me abalou muito, pois, assim como na entrevista, eu tinha duas certezas. A primeira: fui fiel ao meu Deus. E a segunda: nessa relação, não sou o único leal. Deus é ainda mais fiel. Outras e melhores oportunidades viriam... e vieram.
- Seu currículo é ótimo, para alguém da sua idade - disse o Sr. Assunção - Fale-me um pouco da sua experiência em nossa área.
- Fiz estágio desde meu segundo ano de faculdade - respondi - e meu gerente disse que só não fui contratado em razão de que o quadro da empresa estava completo.
Sem falsa modéstia, posso dizer que eu tinha um bom perfil par$a o contrato desta empresa, mas as palavras que seguiram me causaram certo abalo.
- Sempre falamos isso quando não queremos contratar estagiários - disse o entrevistador e devolveu meu currículo a uma pilha em cima da mesa e recostou-se na poltrona. Havia um ar de desdém em suas palavras e, ao mesmo tempo, um tom de desafio.
- Eu consideraria essa hipótese - respondi, mantendo a compostura, - caso o gerente não tivesse me apresentado formalmente ao presidente da empresa e feito um pedido de contratação para a equipe.
- Então você conheceu o presidente da outra companhia? - perguntou-me e pegou novamente o currículo. - E se, por acaso, eu o contratasse e esse presidente o convidasse para assumir o cargo que anteriormente você buscava naquela empresa? O que você faria?
Essa era uma das grandes oportunidades da entrevista. Era o momento certo de dar uma boa resposta. Arrumei-me na poltrona e falei:
- Sr. Assunção, quando apresentei meu currículo para esta conversa eu tinha duas certezas. A primeira: não estou aqui à procura de um emprego. Busco uma carreira e sei que esta empresa fornece todas as oportunidades para que eu cresça em minha profissão. Quando for admitido em seus quadros, não vou querer sair daqui. A segunda certeza: quando vocês testarem e constatarem minha capacidade, também não quererão que eu abandone a empresa. Podem apostar em mim.
O entrevistador manteve o semblante impassível, mas, desta vez, depositou meu currículo no centro da mesa, onde havia outros poucos papéis.
- Você conhece as condições do contrato e do trabalho? Tem alguma pergunta a respeito ou alguma observação relevante?
Sim, eu tinha uma "observação relevante", algo que, para muitos, era fatal. Embora fosse algo normal para mim, muitos não entendiam o que eu iria falar:
- Eu não posso atender às necessidades da empresa após o pôr-do-sol da sexta-feira até a mesma hora do sábado. Fora esse período, estou à inteira disposição de vocês.
- E qual o motivo?
- Por questão de consciência religiosa - respondi sem rodeios e, a partir daquele momento, o Sr. Assunção parecia estar olhando para um jovem que, no lugar de terno e gravata, trajava uma túnica de dois mil anos.
- Isso pode ser um problema, se não for negociável.
- Então é um problema - eu disse, mantendo o tom formal de toda a conversa e tentando relembrar ao entrevistador que eu não era um terrorista armado com bombas ao redor do corpo, - pois isso é inegociável.
O Sr. Assunção me avaliou por um breve momento. Até posso imaginar o que pensava: "Como um jovem com futuro tão promissor pode colocar em cheque uma chance dessas por motivo religioso?" Seria difícil ele entender, mas eu já estava começando a me acostumar com a falta de compreensão de alguns.
- Tudo bem! - disse ele - Em cinco dias, se a comissão aprovar seu currículo, faremos contato.
Levantamo-nos e nos despedimos com um aperto de mãos.
Saí do grande prédio sem olhar para trás. Cinco dias se passariam e não me ligariam. Aquilo não me abalou muito, pois, assim como na entrevista, eu tinha duas certezas. A primeira: fui fiel ao meu Deus. E a segunda: nessa relação, não sou o único leal. Deus é ainda mais fiel. Outras e melhores oportunidades viriam... e vieram.
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