domingo, 18 de abril de 2010

NADA COMO OS ÔNIBUS DE SÃO PAULO

O metrô me deixou no terminal e, uma vez informado, tomei o ônibus que me poria na última etapa do caminho para o UNASP campus 1. Lá seria minha entrevista de emprego. Eu me arrumara para a ocasião e sentia certa ansiedade. Entrei no ônibus longo e tomei assento.

De frente para mim sentara-se um homem negro, careca, com grandes oósculos espelhados. Tive a impressão de que ele me encarava. Entretanto, julguei que a impressão se devia mais à posição dos assentos do que a qualquer outro fator. A viagem transcorreu.

Lá pela metade do caminho, um rapazote loiro, com fiapos de barba, saiu de seu lugar no fundo do veículo, e veio ficar ao meu lado. Aquilo me perturbou por alguns instantes, por parecer desprositado que alguém deixasse seu lugar e viesse sentar-se justamente ali, onde eu me encontrava. Acalmei-me com o pensamento de que não haveria de ser nada de mais.

Eu me enganara. Passados poucos minutos, o rapaz me cutucou. Olhei para ele, que sinalizou para que eu olhasse para frente. Instintivamente, virei-me e o senhor negro, levantou a camisa e me mostrou um revolver cujo cano prendia-se à calça. O homem fez um gesto para que eu mantivesse o silêncio.

Há momentos em que um homem deve mostrar de que é feito. Reuni toda a minha coragem. Afinal, não permitiria que ele simplesmente me pedisse para ficar quieto. Tinha que tomar uma atitude. Olhando firmemente para ele, acenei com a cabeça, concordando!

O rapaz ao lado em revistou e tenho que dizer da sua decepção: um celular sem crédito, um relógio com o vidro trincado, R$ 13,00 – eis tudo o que eles arrancaram de mim (mesmo porque, eu possuía apenas tais bens). “E os cartões de crédito?”, perguntou o malfeitor que tinha a arma oculta. Eu consegui responder, achando alguma graça da pergunta, que não os tinha.

Eles deixaram o ônibus minutos após, ainda pedindo a minha cooperação quanto ao sigilo. Enquanto eles saíam, agradeci a Deus em oração. Bens podem ser comprados. O principal, porém, era a vida, a segurança, o não ter sofrido nenhum dano. Deus guardara-me incólume.

Agradeci igualmente pela minha jaquete marrom que os gatunos deixaram para trás. Na verdade, por se tratar de um presente de meus pais, muito me agradara o tê-la conservado. Mal acabara de proferir esse último preito, quando o mais novo dos assaltes voltou e proferiu a frase chocante: “Passe a jaqueta também”.

Com bastante calma, argumentei com ele que não precisava levar a jaqueta, que fora um presente. Embora ele insistisse, acabou desistindo e voltando a sair do ônibus. A melhor explicação que encontrei para a desistência, humamente falando, foi que provavelmente o rapaz não estivesse armado e também pelo fato de o veículo estar parado esperando que ele descesse. Portanto, não havia muito tempo para que ele insistisse ou talvez arma que usasse para me obrigar.

Do vidro de trás do ônibus, avistei os comparsas ainda me observando, em uma despedida constrangedora. Sinalizavam-me, mostrando que ainda estavam de olho. Pensei: o que me impediria de denunciá-los? Como saberiam? Dei-me conta então de que, muito provavelmente ainda outro integrante da quadrilha permanecera a bordo.

Enquanto essas reflexões me acudiam, um passageiro que estivera todo o tempo ao lado do homem negro me abordou, perguntando o que ocorrera, se eu fora assaltado. Achei fora de lugar a questão. Afinal, o homem, pela proximidade do ocorrido, testemunhara tudo. Não participara diretamente da ação, antes, soubera manter-se icógnito, disfarçando sua presença com discrição total. Desconfiei de que sua curiosidade não passasse de dissumulação. Dei algumas evasivas e esperei até chegar no terminal João Dias.

Assim que desembarquei, restava tomar outra condução até meu destino. Como me achava completamente dilapidado, tive de usar de minha coragem (essa era a hora para agir corajosamente!) para ir até o motorista e revelar minha completa falta de recursos. Expliquei-lhe sobre o assalto. Quamanha naturalidade ele mostrara, que percebi que assaltos deveriam ser frequentes naquelas bandas.

Assim que subi, notei que o mesmo homem curioso que se dirigira a mim após o assalto também embarcara. Em vários momentos da viagem curta, reparei que aquele cidadão me olhara. Aquilo me trouxe preocupação aflitiva.

Quando finalmente cheguei ao UNASP, uma sensação paronóica me percorreu. Todos eram suspeitos. Demoraria ainda meses para que aquilo me deixasse (e, a bem da verdade, ainda sou excessivamente cauteloso). Enfim, nada como uma viagem de ônibus em São Paulo para trazer um pouco de suspense e adrenalina!

4 comentários:

Anônimo disse...

É, pastor...
Moro em Cidade Tiradentes. Aqui é o mesmo drama. Passei por isso, também.
DIferentemente da orientação dada (de não resistir) eu lutei com os meliantes... Graças a Deus o dízimo fica dentro da capa da Bíblia!!!!!!!!
"Belo" início de Sábadp aquele...

Deus o abençoe

Anônimo disse...

Hahahahaah!!

Douglas!!!Sua mãe me contou essa história!!!O que mais achei intrigante foi a parte da jaqueta... Já que era um presente e vc permaneceu bravamente com ela até o fim!

Mas eu te pergunto... Pq levou a jaqueta nesse dia? rsrs

Anônimo disse...

É, a história está bem contada- à risca, fora um detalhe; a jaqueta foi dada perla sra. sua mãe...Rsrsrs
Sonineca

Noemi disse...

Nossa, já passei por situação parecida, mas em cidade do interior de SP(fui refém em minha própria casa, sequestrada durante 1h sobre a mira de arma, enquanto bandidos reviravam a casa) e sei quão assustadora é esta experiência, principalmente por nossa vida está nas mãos de homens inescrupulosos. Infelizmente estamos todos sujeitos a isso por mais cautelosos que sejamos. Eu que já era desconfiada redobrei a minha atenção em tudo. O importante é confiar em Deus e sempre pedir sua proteção.