segunda-feira, 31 de agosto de 2009

NONDUM NATUS ERAM


Diziam advir uma Era de Aquário
Antes de minha ida à maternidade.

Luther King se opusera ao Vietnã
Num período ainda mais remoto.

Pela Guerra do Iraque e seus revezes
Pode o júri levar-me à forca um dia;

Mas Iroshima não foi minha culpa
E Stalin conheci só pelas fotos.

Como querem que eu dê conta de crimes
Cometidos por outras mãos mais velhas?

E eu é que sei do sangue no carpete?
Senhores, por favor, deixem-me em paz!

Deixem a sala, o oxigênio é pouco,
E os saguis liguem para mim depois.

Tenho de trabalhar, comprar jornais,
Mandar meu currículo por satélite.

Os problemas dos outros são dos outros;
Não os criei, por isso os não resolvo.

Como eu estou sem tempo! Ouçam: sem tempo!
No ano que vem far-me-ei uma visita.

Se ao planeta destrói a negligência,
Ou (sem tanto exagero teatral)

Se nada melhora sem minha ajuda,
Embora eu seja um (como os outros mais,

Que compartilham dessas opiniões),
Não me linchem nas praças ou na mídia:

Eu sou apenas passageiro aqui,
O piloto do avião que se preocupe!

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