quarta-feira, 12 de agosto de 2009

POR QUE UM DEUS ETERNO?


Apesar de não fazer parte desta geração, Chuck Norris continua rendendo comentários. Circulam vários textos cômicos pela internet, ironizando os exageros dos filmes protagonizados pelo ator. Uma delas afirma: “Chuck Norris contou até o infinito. Três vezes.”

O próprio absurdo da anedota nos provoca risos, uma vez que ninguém pode contabilizar o infinito. Suponhamos que você aceitasse o desafio e começasse a contagem – é claro que o tempo de sua vida seria insuficiente para completar a tarefa. Ainda assim, a própria noção de infinito permanece aceitavelmente lógica.

Uma complexidade maior se verifica com o senso de eternidade. Veja: o infinito é uma corda com somente uma ponta, mas a eternidade é uma corda sem pontas.

Por séculos, os cristãos têm sustentado que Deus é eterno. Embora a ideia seja complexa, não podemos negar a eternidade divina com base na rejeição a priori da própria eternidade, uma vez que o conceito de eternidade em si não se apresenta como algo irracional. Até muitos não-cristãos fazem uso do conceito. Para o filósofo grego Platão, os elementos do mundo supra-sensível (mundo das ideias) são eternos. Para os filósofos materialistas (os evolucionistas, por exemplo), a matéria é eterna. Então, a pergunta apropriada seria: qual a necessidade de crer que Deus é eterno?

Gostaria de levá-lo a considerar este enunciado: sendo A eterno, e B temporal, A explica adequadamente B. Vamos analisar isto com frieza. Uso a palavra temporal para me referir a algo que tem um começo e um término. Temporal difere de infinito, aquilo que tem um começo e não um término. Tanto as coisas e seres temporais como as infinitas se ligam ao estabelecimento do Tempo – algo não poderia ter um começo sem que houvesse o Tempo. Aquilo que é eterno não usa o Tempo como referencial.

Pense neste exemplo: sendo eu um ser temporal (nascido em uma data específica), meus cabelos tenderão a ficar mais brancos a cada ano, sendo isto um dos efeitos da passagem do tempo sobre mim (Felizmente, o processo não começou!). Concebendo Deus como eterno, o tempo não pode afetá-Lo e Ele não pode situar Seu início em uma parte específica do Tempo (o que equivale a dizer que Deus não nasceu, nem teve um começo). Feitas as definições dos termos, volto ao que anunciamos anteriormente: sendo A eterno, e B temporal, A explica adequadamente B.

Sendo o mundo se apresenta como racional e lógico, faz sentido crer que a lógica e a ordem do mundo temporal se explique por algo anterior, de caráter eterno. Semelhantemente, se boa parte da realização humana se baseia em relacionamentos pessoais, é racional admitir a existência de um Ser Pessoal, capaz de experienciar relações comunitárias (como na crença cristã na Trindade) antes que houvesse o tempo.

O perigo com o raciocínio que adotamos consiste em buscar uma correspondência absoluta de todos os elementos temporais em relação aos eternos. Tome a presença da maldade no mundo: será que um Deus Eterno é o originador do mal? Seria o mal eterno? Como a questão envolve princípios universais, temos de considerar a essência de tais princípios.

Na história do pensamento, o mal é referido como o contraste do bem. Observe que na experiência comum, Maria sabe que gritar com a mãe é errado porque aprendeu o valor do respeito. João sabe que não deve mentir à professora, porque assimilou a honestidade. Admitimos que, para se tornar possível classificar alguma ação como errada, precisamos estabelecer um padrão que nos apresente o correto.

A própria existência do Mal fica condicionada a um padrão anterior, que chamamos de Bem. Logo, no que se refere a princípios universais, não nos vemos obrigados a atribuir eternidade a todos; princípios positivos parecem logicamente anteriores, sendo eternos, enquanto os seus opostos, os anti-princípios, podem ter surgido em algum momento posterior (sendo, assim, não-eternos). Observe, contudo, que isto não altera o nosso pressuposto de que algo eterno explica satisfatoriamente algo temporal.

O que afirmamos é compatível com a informação bíblica, a qual esclarece que a existência do mal não deriva do próprio Deus – Deus é Eterno e eternamente Bom (Sl. 136:1-ss; Tg. 1:17). O mal surgiu durante a rebelião de Lúcifer, um ser criado para a vida imortal (Is. 14; Ez. 28; Ap. 12). O mal atingiu os seres humanos (Gn.3), maculando o mundo que Deus declarara bom (Gn. 1:31). Pela razão e pelas Escrituras, se entende que exclusivamente Deus é Eterno, sendo fonte de Justiça, Bondade, Amor, Alegria, etc. Estes e outros atributos não existiriam no vazio, mas estão presentes no eterno e imutável caráter divino.

O estabelecimento de Deus como Eterno é o melhor fundamento para o entendimento do mundo natural, uma vez que aquilo que vem sendo chamado de complexidade especificada exige um agente inteligente que projetasse voluntariamente o universo. Ao mesmo tempo, um Deus Pessoal que possuísse um caráter justo e bondoso, serviria de fundamento para a ética humana – a existência do homem (a princípio, imortal, depois temporal) encontraria propósito na existência de um Deus Eterno.

Em meio à vida transitória, você não precisa se sentir desorientado e temeroso. Há um Deus, tanto Eterno, quanto presente na História Humana (Jo. 1:14) e, especificamente, presente na sua história (Mt. 28:20). Ele é, parafraseando Francis Schaeffer, Eterno e Pessoal (cf.: Is. 57:15; Dn. 2:28). Portanto, não é apenas lógico, como igualmente necessário, crer e se relacionar com o Deus Eterno.

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