sábado, 1 de agosto de 2009

O ALVO DE BATISMO E A DEMANDA POR CRESCIMENTO


Queremos crescer. Equiparamos crescimento com cumprimento da missão. Não está de todo errado, porque a Palavra do Senhor não volta vazia. Os que se deixam influir por Seu Espírito abraçam a proposta de vida do Evangelho. Um evangelho que sacode as entranhas humanas e, como uma semente, germina em novas ações, em um novo contemplar da existência.
A igreja tem de avançar para alcançar o mundo. Disponibilizar a salvação que Deus oferece gratuitamente. Mas a agressividade empresarial, com suas metas e burocracia, não pode render o espírito de serviço próprio da evangelização. Temo que uma cultura enraizada apague o verdadeiro e belo sentido da missão.
Não há em nenhuma parte do Novo Testamento uma desenfreada demanda por batismos. Nada que justifique o batismo como fim em si mesmo. Por definição, ele é símbolo da morte e ressurreição em Cristo. Para alguém chegar a esse ponto de entrega espiritual precisou ser submetido ao discipulado antes. Estranho que hoje concebamos o discipulado como algo que ocorra após o batismo, visando a conservação do recém-converso. Isso não é bíblico. Discipulado ocorre antes e depois do batismo. O verbo principal na grande comissão é discipular – qualquer bom estudioso do grego o sabe.
Mas parece que ignoramos o método histórico-gramatical quando nos convém. Não nos interessa saber o que diz o sentido original se isso conspira contra a visão de crescimento que sustentamos. Uma visão insana, que torna ministros em máquinas evangelísticas. Uma pressão administrativa, uma mentalidade triunfalista – poderia isso estar contribuindo para o genuíno cumprimento da missão?
Sei que há países em que não há mais batismos. Um amigo, que serviu como capelão no Líbano, contava que por lá se batizam os filhos de adventistas – e ninguém mais. Na Inglaterra conversei com um jovem que se tornou sensação nos círculos adventistas do país: de católico, converteu-se ao adventismo e se sentiu chamado para o ministério. Que pensariam os ingleses se soubessem quantos fazem o mesmo a cada semana em muitas regiões brasileiras!…
Não creio que a obsessão por alvos e a total apatia evangelística sejam as duas únicas possíveis saídas. O verdadeiro amor pelas almas deve nos levar a um evangelismo consciente, sensato, cristocêntrico, doutrinário e efetivo. As pessoas não devem ser convocadas a programas. Devem ser convidadas a uma aliança com Deus.

A história conta que William Miller, pioneiro do adventismo, obtinha formidável sucesso em suas pregações. Milhares se converteram a Cristo e passaram a acalentar a esperança na Segunda Vinda por sua influência. Qual o segredo? Miller amava o Seu Senhor, tornara a Bíblia o centro de sua experiência cristã e expunha suas convicções de forma extremamente lógica. Possuía senso de urgência, mas não era dado a excessos ou arroubos emotivos. Acho que isso já explica o seu sucesso.


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