Queremos crescer. Equiparamos
crescimento com cumprimento da missão. Não está de todo errado, porque a
Palavra do Senhor não volta vazia. Os que se deixam influir por Seu Espírito
abraçam a proposta de vida do Evangelho. Um evangelho que sacode as entranhas
humanas e, como uma semente, germina em novas ações, em um novo contemplar da
existência.
A igreja tem de
avançar para alcançar o mundo. Disponibilizar a salvação que Deus oferece
gratuitamente. Mas a agressividade empresarial, com suas metas e burocracia,
não pode render o espírito de serviço próprio da evangelização. Temo que uma
cultura enraizada apague o verdadeiro e belo sentido da missão.
Não há em nenhuma
parte do Novo Testamento uma desenfreada demanda por batismos. Nada que
justifique o batismo como fim em si mesmo. Por definição, ele é símbolo da
morte e ressurreição em Cristo. Para alguém chegar a esse ponto de entrega
espiritual precisou ser submetido ao discipulado antes. Estranho que hoje
concebamos o discipulado como algo que ocorra após o batismo, visando a
conservação do recém-converso. Isso não é bíblico. Discipulado ocorre antes e
depois do batismo. O verbo principal na grande comissão é discipular – qualquer
bom estudioso do grego o sabe.
Mas parece que ignoramos
o método histórico-gramatical quando nos convém. Não nos interessa saber o que
diz o sentido original se isso conspira contra a visão de crescimento que
sustentamos. Uma visão insana, que torna ministros em máquinas evangelísticas. Uma
pressão administrativa, uma mentalidade triunfalista – poderia isso estar
contribuindo para o genuíno cumprimento da missão?
Sei que há países
em que não há mais batismos. Um amigo, que serviu como capelão no Líbano,
contava que por lá se batizam os filhos de adventistas – e ninguém mais. Na Inglaterra
conversei com um jovem que se tornou sensação nos círculos adventistas do país:
de católico, converteu-se ao adventismo e se sentiu chamado para o ministério. Que
pensariam os ingleses se soubessem quantos fazem o mesmo a cada semana em
muitas regiões brasileiras!…
Não creio que a
obsessão por alvos e a total apatia evangelística sejam as duas únicas
possíveis saídas. O verdadeiro amor pelas almas deve nos levar a um evangelismo
consciente, sensato, cristocêntrico, doutrinário e efetivo. As pessoas não
devem ser convocadas a programas. Devem ser convidadas a uma aliança com Deus.
A história conta
que William Miller, pioneiro do adventismo, obtinha formidável sucesso em suas
pregações. Milhares se converteram a Cristo e passaram a acalentar a esperança
na Segunda Vinda por sua influência. Qual o segredo? Miller amava o Seu Senhor,
tornara a Bíblia o centro de sua experiência cristã e expunha suas convicções
de forma extremamente lógica. Possuía senso de urgência, mas não era dado a
excessos ou arroubos emotivos. Acho que isso já explica o seu sucesso.
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