quarta-feira, 24 de setembro de 2008

BORDADO DESFEITO


Na portiola, olha e a carta, onde? Deixara
Sobre a mesa. Torna a ir pela azinaga;
Entra. Ah!, o envelope! Sobra obreia. É clara
A hora e estranha o silêncio, a manhã vaga…

Como que por um sopro, empurra a porta
E inside a luz sobre a arandela. A filha
– Toca-lhe a mão e ela…ela não se importa,
E ao invés do olhar, a arandela é que brilha.

De seu cabelo, belo igual ao nastro,
A encalecida mão materna tece
Sete tranças. Em torno, enxerga o rastro
De lã a esperar quem dela se esquece.

A maranha cai por sobre o tear – arte
Que ela própria ensinara à moça. À dor
Dá-se. Seda tão cara, e cedo parte
Tafetá sem a afetação que for!

O fervor no favor prestado, as mãos
Sem pouso, o gosto, não no emolumento,
Mas no ser útil, olhos de artesãos
– Em tudo a admira a mãe neste momento.

E a pureza que punha em cafetãs
Era dela, do espírito bordado
Por Deus, Maior dos passamanes – chãs
Virtudes usou para este brocado.

A mãe traz-lhe um mantô que não lhe aperte;
E um baldaquim rabisca sobre a mesa
– Fizera-o e retribuíra à filha inerte:
Vivera em luta, dormiria alteza!…

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