Os últimos 3 dias foram de trabalho duro. O colégio adventista de Itajaí não tinha mais professores – todos nos tornamos zeladores, na expressão do engenheiro da Associação Catarinense, o irmão Íris. Ele foi responsável pela coordenação dos trabalhos de limpeza na área de Educação Infantil, laboratórios, cozinha, quadro externa e pátios, afetados pela enchente.
Retiramos carteiras, mesas e quadros das salas para submetê-los à rigorosa higienização. Recolhemos cadernos, livros, materiais escolares completamente enlameados, que não tiveram outro destino a não ser o lixo. E haja sacola para tanta coisa que se perdeu!
As paredes foram esfregadas, as grades da quadra ensaboadas, o pátio recebeu uma “ducha” com o auxílio de um caminhão pipa. Todos tinham seus rodos na mão, vassouras, panos, jatos d’água, desinfetantes ou algo equivalente. A tarefa só não se tornou intransponível devido ao precioso auxílio de funcionários da própria Associação Catarinense (da Igreja Adventista) e de outros colégios (de Florianópolis, do IAESC, etc), que lotaram uma van para nos socorrer. Mesmo assim, foram 3 dias exaustivos.
Neste intercurso, as notícias iam chegando. Famílias de alunos que perderam seus bens. Carros de professores encharcados com as águas da enchente. Funcionários da escola que não conseguiram salvar roupas e móveis.
Cerca de 30 famílias do distrito de São Vicente (em Itajaí) tiveram prejuízo total. Louças cheias de lama, roupas apodrecendo, casas de madeira desabando, racionamento de comida e água. Relatos chocantes de uma tragédia que veio sem hora marcada e parece não ter acabado totalmente.
Pessoalmente, eu, que fui um dos menos atingidos, só pude refazer as pazes com o barbeador na noite de quinta, que não vai tão cedo da minha memória: meu primeiro banho decente em 3 dias, tomado na casa de amigos. Apenas hoje pela manhã havia água no chuveiro de minha casa (havia, porque não há mais!…).
Não seria justo de minha parte me queixar de nada – mesmo porque estou consciente de minha situação altamente privilegiada (se assim posso me expressar) em vista de tantas famílias que ainda estão empenhadas em remover a lama de seus lares.
Além do Colégio Adventista de Itajaí, as nossas igrejas na cidade tiveram que se adaptar à vida pós-enchente. Os adventistas de São Vicente realizaram um culto distrital, emprestando o prédio da Comunidade Evangélica em Itajaí (CEI), uma vez que as congregações adventistas foram gravemente afetadas (por se localizarem naqueles bairros em que água mais subiu).
Quanto ao distrito Central, que sentiu menos o efeito da calamidade (falando de uma forma generalizada), o culto foi reduzido em função da nova realidade. O distrital, Pr. Ademar Paim explicou à membresia sobre o apoio financeiro e material vindo de lugares como Curitiba, São Paulo (Igreja de Moema e do IASP), entre outros. O pastor vibrou emocionado diante do que classificou como a “maravilhosa família adventista”.
À tarde, os membros de todo o distrito se dividiram para distribuir cestas básicas com as primeiras doações que chegaram. Eu, minha esposa Noribel, professores do colégio Adventista e amigos visitamos os bairros São Bento e Promorar. Neste último, o cenário é devastador: muita lama nas ruas não asfaltadas e pilhas de objetos irrecuperáveis – de sofás e móveis a eletrodomésticos. Entregamos água mineral, cestas básicas e esperança a alguns moradores. Não deixávamos os lares antes de realizar uma oração.
Ao mesmo tempo em que as coisas começam a dar uma guinada no sentido de retomar seu ritmo habitual, a realidade ainda se afigura com requintes de extrema escuridão. O maior mercado atacadista de Itajaí foi saqueado. Moradores iam com barcos até o estabelecimento e saíam carregando televisores de plasma (não imagino que alguém, mesmo em estado de extrema necessidade, consiga comer um televisor!) e geladeiras. Latinhas de cerveja furtadas de mercados eram vendidas em semáforos. O mesmo saque covarde aconteceu em quase toda a cidade de Itajaí – do bar do Garnizé às Casas Bahia!
Na quinta-feira foi decretado o toque de recolher às 22 horas. O policiamento tornou-se constante. Ouvi comentários sobre a segurança instável da cidade, comparável a do Rio de Janeiro (ou pelo menos ao estereótipo da “cidade maravilhosa” que a mídia nos fez aceitar).
Itajaí e as demais cidades envolvidas pela calamidade (como Ilhota, Blumenau, Gaspar, Pomerode, Luís Alves) tornaram-se um microcosmo dos últimos tempos. Já dá para divisar o que vem por aí, em termos de calamidades globais, tanto as que se classificam como sinais da volta de Jesus, como aquelas que entram na categoria de últimas pragas (Ap. 16). Mas por que justo essas cidades? Por que aqui, em Santa Catarina?
A resposta a estes questionamentos exige muita cautela. Afinal, deste lado da eternidade é temerário exprimir juízo definitivo, uma vez que temos uma visão apenas parcial dos eventos. Somente Nosso Senhor sabe os motivos. Conquanto nossa compreensão seja limitada, podemos arriscar refletir sobre uma passagem bíblica instrutiva.
Jesus, comentando de uma chaga social de seus dias (o massacre de alguns galileus que se insurgiram contra o governador Pilatos) nos ensinou a não pensar nos flagelados como mais culpados do que as demais pessoas. Podemos divisar no juízo de valores do Mestre um motivo exemplar para que sobre algumas pessoas ou regiões recaiam as calamidades: “Pensais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo! Antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” Luc. 13:2 e 3.
Embora os juízos finais de Deus sigam certa “ordem de prioridade”, sendo derramados sobre aquelas cidades e países que tenham majoritariamente se declarado em rebelião contra Deus e Sua Palavra, não podemos nos esquecer que a necessidade de arrependimento e preparação para a última crise são fundamentais a todas as pessoas. Daí se poder falar no aspecto exemplar: todos necessitam se aperceber, através dessa calamidade, que precisam acertar as contas com Deus antes de Seus juízos lhes sobrevirem. Ricos e pobres, todos foram afetados pela enchente. Um dia, os grandes e pequenos se lamentarão diante da face do Senhor, temendo aquele encontro que adiaram ao máximo enquanto desfrutavam desta vida transitória (Ap. 6:15-17). Isto podemos aprender com a tragédia: a necessidade de estar preparado sempre!
Leia também:
Textos de Ellen White sobre a destruição às cidades no Tempo do fim: Calamidades
Os primeiros relatos que pude fazer sobre a crise em Itajaí: "CHOVE CHUVA": MINHA EXPERIÊNCIA COM UMA ENCHENTE
Sobre um catarinense emocionado e um Deus amoroso:Coração catarinense
Contribua para socorrer as vítimas da enchente depositando qualquer valor na conta: Banco do Brasil - Agência 3425-8 e C/C 15.000-2 em nome de ADRA DESABRIGADOS SC).
7 comentários:
Nós jovens adventistas de Lages estamos orando e nos solidarizando com este grave problema que atingiu nossa família adventista bem como toda a população do Vale do Itajaí. Ações estão sendo desenvolvidas em nossa cidade e alguns membros de nossa igreja estiveram pessoalmente em alguns municípios fazendo doações.
Cremos que tudo isso ainda é insuficiente mas estamos torcendo e intercedendo para que Deus transforme maldições em muitas bênçãos. Estamos com vocês!
Queridos irmãos em Cristo. Seguramente não podemos dizer que estamos surpresos por tais acontecimentos, pois a palavra de Deus nos tem alertado quanto aos eventos deste mundo. Assim, nosso consolo reside no fato inequívoco de que Jesus em breve virá... entretanto, este é o momento de reflexão quanto à nossa própria condição diante de Deus, não para fazermos algo que não tenhamos feito, porque por nossas forças nada podemos mudar, então, a solução é a comunhão diária com esse Deus maravilhoso, que permite as tribulações exatamente para despertarmos de nossa letargia espiritual. Aqui em Rio do Sul, temos orado e empreendido esforços no sentido de diminuir o sofrimento de tantos catarinenses. Fica o nosso abraço e a palavra de confiança inabalável ao Deus criador, salvador e restaurador.
Ola pastor Douglas tudo bem com vc? Desculpe estar usando a sessao de comentarios mas n encontrei seu email...faz pouco tempo q estou acompanhando seu blog e estou gostando pelas noticias diretas,claras e verdadeira q tem postado...e mto importante relacionar o q aprendemos na Biblia com os acontecimentos(sem sensacionalismo)...acho q a internet nos proporciona oportunidades de maiores conhecimentos e um relacionamento com nossos lideres e irmaos distantes fazendo de nos o que realmente somos "a familia de Deus"...assim agradeço aos ceus pq pessoas como vc estao se unindo e proclamando as boas novas q ja estao esquentando esse fim do mundo...sabe,nos q somos leigos lemos mtas coisas q precisam ser esclarecidas pelos mais experientes...e esse meu objetivo aki...tenho migalhas de conhecimento sobre as profecias...quero aprender mais...pode me ajudar? por exemplo,tenho lido sobre o alinhamento dos planetas e q ele ira causar uma força gravitacional diferente da q a terra possui e isso ira afetar o eixo da terra deixando o planeta fora de orbita por algum tempo ocasionando grandes catastrofes...bom,as profecias biblicas sao mto resumidas mas diz q qdo as coisas tiverem acontecendo nos saberemos diferenciar o q e do q n e...o q vc sabe a esse respeito? aguardando guida
Douglas, nós de Bela Vista estamos orando por vcs.
No sábado na hora dos anúncios passei o relato da atual situação de Santa Catarina e convocamos toda igreja a ajudar na arrecadação de alimentos, água, roupas etc.
Divulguei tb a conta corrente para depósitos.
Em breve nossas doações chegarão a SC.
Estamos em constante oração!
Um Abraço p/ vc e p/ Nori
Priscila
Estamos profundamente sensibilizados com o povo catarinense e com os irmãos de Itajai que por 5 anos foram nossa família. Em Cascavel, tanto as igrejas como a cidade estão mobilizadas e também foram e estarão enviando o que puderem.Oramos a Deus para que intervenha segurando os anjos, e que o povo, os irmãos se recuperem, lembrando "de que todos devemos nos arrepender" e estar preparados para os dias finais.
Abraços sensibilizados a todos.
Pr. Érico e Noemi
Olá Pr. Douglas. Sou do Paraná, trabalho como Pastor Distrital do IAP, onde moro. Estamos extremamente sensibilizados com os últimos acontecimentos que envolveram a cidade de Itajaí. Temos amigos aí, como o Pr. Sonir. Estamos não só orando mas nos mobilizando para levantar doações e levar o que for arrecadado até nossa irmamdade na região atingida. Continuem com coragem, pois Deus é o refúgio certo e socorro na angústia!
Pr. Josias, comunidade e alunos do IAP
Lamentável o que ocorreu...fiz minha pequena parte solidária...
Todavia, nesses momentos as pessoas ficam mais sensíveis à mensagem da cruz!!!
Jorge Schemes
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