sexta-feira, 23 de julho de 2010

BAKUGANS, PRATELEIRAS E O VALOR DAS COISAS

Nós quatro em torno da pilha de cortinas. Eu e a minha esposa procurávamos uma que atendesse ao escritório. Uma senhora de pouca estatura nos atendia. Ao lado, outra cliente, participava animada com palpites femininos.

À minha esquerda, muitas outras prateleiras estavam dispostas. Em um dos corredores formados por elas, certo garotinho se entretinha vendo os brinquedos. Logo, ele saiu do lugar e veio até a mãe – justamente a senhora que escolhia cortinas simultaneamente a nós.

“Mãe, posso levar um Bakugan?”, solicitava, com o brinquedo na mão. “Ah sim, leve dois de uma vez!”, ironizou a mãe, sem muita atenção. Acompanhei o pequeno que voltava para o corredor da loja para devolver o boneco. Ainda acariciou o plástico da embalagem e deu a última contemplada antes de devolvê-lo à prateleira.

Quero desconsiderar o fato de que o boneco em questão era um Bakugan. Sua origem? Uma série de desenhos japoneses, que mostra personagens monstruosos saídos de cartas mágicas (“caídas do Céu”, mau sinal…) para disputas de poder em busca de equilíbrio em um mundo paralelo. Sem dúvida, a trama possui muito do misticismo comum a desenhos japoneses (animes). Mas, como eu disse, o que quero destacar independe do tipo de brinquedo que o menino cobiçava.

Todos vivemos a fase em que os olhos eram atraídos por brinquedos coloridos que pulavam de prateleiras para nosso colo. A dificuldade era a impotência pueril para arcar com os custos do desejo. Tínhamos, então, de recorrer aos pais; daí, dá-lhe chantagens e ameaças de choro, as quais esbarravam em promessas condicionais (“se você for um bom menino…”) ou simples negativas (mormente, atribuídas ao fator “dinheiro”).

Claro que a vida do adulto é diferente: compramos o que queremos sem dar satisfação a terceiros. Obviamente, em familías equilibradas, os cônjuges agem com transparência com relação aos gastos. Ao mesmo tempo, adultos responsáveis procuram gerir a renda de forma moderada, adotando planilhas para controlar entradas e saídas do orçamento. Na prática, a independência da vida financeira, ansiada por adolescentes, se revela complexa e cheia de armadilhas.

Infelizmente, mesmo adultos que teriam condições de viver confortavelmente, às vezes se veem em situações complicadas. E isso se deve, em muitos casos, à atração pelos Bakugans, digo, pelas coisas supérfluas. O consumismo, incentivado na mídia por meio de anúnicos e merchandisings, transforma desejos momentâneos em necessidades irrefreáveis. Vemos e temos que ter. E tal compulsão faz de algumas pessoas pouco mais do que crianças que possuem seus próprios cartões de crédito, sem precisar chorar perante pais e mães (o choro fica para depois, quando a conta “estoura”, ou se tem de recorrer a uma firma de factory para honrar os compromissos…).

Além do desejo de posse contribuir para o desequilíbrio financeiro, influencia na derrocada espiritual. Jesus ponderou ser a vida mais do que os bens que possuimos (Lc. 12:15) e ainda nos alertou sobre a tentativa inútil de servir paralelamente a Deus e as riquezas (Mt. 6:24). Os verdadeiros cristãos aprendem que as prateleiras não merecem tanta atenção quanto o altar do sacrifício. Se nem tudo o que reluz é ouro, nem todo o ouro do mundo reluz como o madeiro do Calvário.

Nenhum comentário: